Os Luar na Lubre ainda voam bem alto

A celebração dos 30 anos de vida e de músicas dos galegos Luar na Lubre no palco do Tivoli, em Lisboa, na noite de 27 de Setembro, foi a todos os títulos brilhante.

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Os Luar na Lubre no Tivoli PEDRO BERGA
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Os Luar na Lubre no Tivoli PEDRO BERGA

Fernando Magalhães escreveu no PÚBLICO, há já muitos anos, que os Luar na Lubre esvoaçavam “sobre os bosques frondosos” (a lubre) ou “sobre a entrada no mar do lado de lá que é Finisterra”. Pois ainda voam, e bem alto. A celebração dos seus 30 anos de vida e de músicas no palco do Tivoli BBVA, em Lisboa, na noite de 27 de Setembro, foi, a todos os títulos, brilhante. Na música, nas execuções, no elevado espírito festivo ali presente. Mesmo que Bieito Romero, gaiteiro e co-fundador do grupo, se tenha por vezes alargado nas explicações entre temas, isso não diminuiu o essencial, a força da música.

E começaram em força, mesmo, com Leabhar Ghabhála, seguido de Chove en Santiago, com letra de Federico García Lorca (“Chove en Santiago/ na noite escura. / Herbas de prata e sono / cobren a valeira lúa”) e Dun tempo para sempre, esta cantada por Helen Cerqueiro, filha de um dos autores da canção e ex-membro do grupo, o guitarrista Daniel Cerqueiro. Não foi a única convidada da noite. A juntar à formação actual dos Luar na Lubre (Bieito Romero, gaitas, acordeão e sanfona; Belém Tajes, voz; Antía Ameixeiras, violino; Patxi Bermúdez, bodhran, tambor e djambé; Pedro Valero, guitarra acústica; Xavier Ferreiro, percussões latinas e efeitos; e Xan Cerqueiro, flautas) vieram ainda o filho de Bieito, também gaiteiro, e a cantora Sara Vidal, portuguesa, vocalista do grupo durante sete anos e hoje membro do grupo musical Diabo a Sete, formado em Coimbra.

E foi na voz de Sara que se ouviu Memoria da noite, um quase hino para que se não esqueça a tragédia causada pelo Prestige, que inundou as costas galegas de petróleo em 2002. Depois vieram temas como o histórico (e fundador) O son do ar ou Camiño do Norte, a tocante Cantiga de Falván, ou a suite que entrelaça Jig, Muiñeira do Miño e a Carballesa, isto antes de porem toda a gente a repetir o refrão onomatopaico de Nau. Tocaram e cantaram ainda “a saia da Carolina/ tem um lagarto pintado” (A Carolina), lembraram o harpista Emilio Cao e a sua Fonte do Araño, revisitada numa nova versão do grupo (a mesma que integra o duplo CD comemorativo dos seus 30 anos, de 2017) e, porque queriam de alguma maneira “devolver”, agradecidos, o gesto a Mike Oldfield, que fez uma versão de O son do ar (versão que eles usaram no disco comemorativo, como trunfo da sua internacionalização), e como Tubular Bells era dificilmente convertível, tocaram à sua maneira o tema de Popeye – esse mesmo, o marinheiro dos espinafres.

Uma festa! No encore, exigido por fortes e continuados aplausos (a sala, não estando cheia, estava suficientemente confortável para garantir o calor necessário à ocasião), ouviu-se Os animais, que eles gravaram no disco Camiños da Fin da Terra, há dez anos, e que muitos conhecerão de outras versões, ouvidas até em westerns (trata-se de uma antiga música irlandesa, disseminada há muitas décadas pelo mundo, em particular pelos EUA), Camariñas, Tu Gitana (sublinhando a importância de Zeca Afonso) e um tema de Victor Jara que também integra o repertório do grupo: El derecho de vivir em paz.

Bieito Romero repetiu, por mais de uma vez, o interesse dos Luar na Lubre em voltarem a Lisboa, apresentando-se aqui regularmente. Se é esse o seu desejo, façamo-lo nosso. Os Luar na Lubre são um dos mais talentosos grupos musicais do mundo e, sem que isso fosse necessário, voltaram a prová-lo no concerto do Tivoli. Um momento inesquecível onde a música esteve sempre no patamar cimeiro e onde o elo celta nos pareceu, mais uma vez, tão familiar nas nossas memórias que só podemos repetir com eles: voltarão.

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