A segunda casa da síria Fatima tem a porta sempre aberta
Mezze quer dizer “prato para partilhar” e é sinónimo de mesa cheia. No Mercado de Arroios, em Lisboa, há agora um restaurante com este nome que se quer fazer de partilha. Dez refugiados, nove deles sírios, cozinham e servem à mesa enquanto nos permitem conhecê-los e recomeçam as suas vidas.
O dia em que a Fatima entrou no Mezze e disse “esta já é a minha segunda casa” calhou ter sido “um dos piores dias, daqueles em que parece que nada funciona, como se fosse impossível ter tudo pronto a tempo ou chegar alguma vez a abrir”, confidencia-nos uma arquitecta, uma entre dezenas de pessoas que ajudaram a fazer nascer este restaurante no Mercado de Arroios, parte de um projecto mais amplo de integração de refugiados.
“Essas palavras foram como uma botija de oxigénio, porque é isso mesmo que nós queremos, que a Fatima, a outra Fatima, a Shiraz, a Faten, a Rana, a Reem, o Bilal, o Rafat, o Yasser e o outro Yasser, que todos eles se sintam em casa”, recorda Francisca Gorjão Henriques, uma das fundadoras da Pão a Pão – Associação para a Integração de Refugiados do Médio Oriente. “Casa” foi uma das palavras mais usadas por Francisca, até há pouco tempo jornalista do PÚBLICO, na festa com que o Mezze se mostrou aos amigos e depois se abriu ao bairro. Foi na sexta-feira, dia 15, antes da abertura oficial, na última terça, e teve comida, música, dança e muitos, muitos sorrisos, alegria pura e olhos emocionados.
Abrir um restaurante nunca é fácil. Fazê-lo contando o mais possível com doações e voluntários, menos ainda. O Mezze demorou a nascer e só foi possível graças “à generosidade de amigos e parceiros”, gente que na maioria nem se conhece e que talvez nem imagine como foi importante para começar a mudar a vida destas dez pessoas. “Não podemos devolver Damasco nem Alepo nem Ghuta nem Mossul a este grupo que temos o privilégio de ter connosco, mas podemos reconhecer-lhes a dignidade que nunca perderam, dar-lhes as ferramentas para fazer planos para o futuro e aceitar com gratidão o que têm para dar”, disse ainda Francisca no dia da inauguração.
Afinal, este é o “primeiro restaurante em Portugal onde um grupo de pessoas que a lei designa por refugiados recebe formação e emprego a sério” e isso não é nada pouco num país que já recebeu perto de mil refugiados sírios e que tem trabalhado mais as soluções de acolhimento do que a integração.
Todos juntos
O Mezze quer-se mais do que um restaurante. É a tal casa de partilha, através da linguagem universal da comida, mas ali também terão lugar workshops e debates. O restaurante é a primeira “casa” com chão, paredes e tecto da Pão a Pão mas a ideia é fazer nascer muitas mais, quantas forem possíveis. “Estamos confiantes que o Mezze vai crescer, queremos fazer o milagre do pão, multiplicar esta partilha e levar o Mezze a outras paragens. Temos a certeza que vamos voltar a bater à vossa porta mas é com isso que se constrói uma casa e nela cabemos todos. Para que não tenhamos de ser mais ‘eles’ e ‘nós’, apenas ‘todos juntos’.”
Por agora, admite Francisca, este Mezze e o serviço de catering, que já está a fazer sucesso, é tudo o que a associação se pode concentrar em fazer. “Primeiro é preciso garantir o sucesso deste restaurante”, diz, antecipando que daqui a um ano a Pão a Pão pode estar a lançar-se noutras zonas do país. Isto se não aparecer entretanto gente a querer abrir os seus próprios Mezze enquanto faz crescer o projecto. “Sim, claro, isso era óptimo.”
Fatima, Shiraz, Faten, Rana, Reem, a Fatima-pequena (por ter idade para ser filha da Fatima grande), Bilal, Rafat, e os dois Yasser (um deles, o iraquiano, talvez se torne Adam em pouco tempo, agora que os colegas descobriram que é assim que a mãe o trata) já se movem pelo espaço do Mezze com desenvoltura. Um rectângulo com cozinha de um lado, casa de banho e despensa do outro, ao meio uma mesa corrida, para que quem chega se sente ao lado de quem está, 34 lugares mais uma esplanada onde cabem outras 20 pessoas.
De frente para a cozinha, a parede que esconde as divisões mais pequenas está repleta de prateleiras com pedaços de Síria. Livros em árabe que Alaa Alhariri (outra fundadora da Pão a Pão) trouxe de uma viagem ao Líbano (é difícil encontrar livros em árabe por cá) e as fotografias de Alepo, Damasco ou Palmira que Fatima, Rafat ou Alaa disseram faltar na estante quando a viram já decorada com quadros, ilustrações de João Catarino, livros, jarros com flores e frascos com pickles. Faltam ainda fotografias de Mossul, a cidade iraquiana de onde vem o Yasser que também se chama Adam.
Olhamos para outras fotografias, as do espaço que ali existia quando a Pão a Pão chegou, e percebemos melhor as palavras de Francisca. “Fazer o Mezze foi realmente como erguer uma casa, foram precisos tijolos e eles vieram, foi preciso um chão e ele chegou, foi preciso um tecto e ele cá está, foram precisas muitas outras coisas e o trabalho de muita gente.” No que antes era quase uma ruína agora existe um restaurante bonito e luminoso, aberto para a rua, como os vários que rodeiam o Mercado de Arroios, o mesmo onde o Mezze vai buscar muitos dos seus ingredientes.
No início do ano, estes dez refugiados e outros seis fizeram um curso na Escola de Hotelaria, em Campo de Ourique, Lisboa, tornado possível através de um protocolo com o Turismo de Portugal. Foi lá que pela primeira vez conhecemos Fatima, o seu filho Rafat, o padeiro Yasser, Faten e a sempre sorridente Shiraz. E foi lá que iniciámos uma conversa que ainda decorre, tendo sempre por perto Alaa, a síria que chegou a Portugal há mais de três anos com uma bolsa para acabar os seus estudos de Arquitectura. É uma das universitárias da Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, lançada pelo ex-Presidente Jorge Sampaio.
A Pão a Pão foi fundada por Francisca, Alaa, Rita Melo e Nuno Mesquita, mas é justo dizer que nunca teria nascido sem Alaa ou se Alaa e Francisca nunca se tivessem cruzado. À pergunta “do que é que sentes mais falta do teu país”, Alaa respondeu “do pão”. Os dados estavam lançados. A associação quis privilegiar jovens e mulheres, por entender que é assim que mais contribui para a integração. A seguir foi espalhar a palavra e ver os refugiados aparecerem, perceber quem tinha condições para integrar o projecto, deixar-se encantar por cheiros e sabores do que estes já faziam nas suas cozinhas.
Uma mesa comprida
Fatima nunca tinha pensado trabalhar num restaurante e agora é chef do Mezze. Rafat, que veio a medo para Portugal, hesitante em recomeçar de novo depois de quase três anos duros no Egipto, já tem dificuldades em pensar que algum dia sairá daqui. Yasser só queria ser padeiro e é dele o pão que Alaa e todos os que forem ao Mezze poderão comer. Shiraz foi sempre dona de casa e comida para ela é sinónimo de “festas, família e mesas grandes e cheias”, como a mesa comprida que ocupa o lugar central do Mezze. Faten, doceira pronta para qualquer serviço, chegou com duas filhas pequenas e nos primeiros dias mal saía de casa, em Oeiras. “O problema era a solidão”, não conhecer ninguém. A Pão a Pão (e o curso na Escola de Hotelaria) começou a mudar tudo.
“Ela mal chegou e agora apanha o comboio todas as manhãs. Para mim, isso já conta imenso. Pode estar triste mas não deixa de vir, é difícil”, dizia-nos Alaa nos dias das conversas na Escola de Hotelaria. Ser sírio nos dias que correm não será fácil, mas a vida de Faten começou a complicar-se bem antes da revolução de 2011 e da guerra de absurdos que se seguiu. Em 2004, aos 23 anos, ficou viúva com três filhas, incluindo uma bebé acabada de nascer. Antes de casar, abandonara o curso de História e nunca trabalhou. Sobreviveu como pôde, com alguma ajuda da família, e em 2016 ganhou coragem para se pôr a caminho de algum lugar onde se sentisse segura e pudesse recomeçar.
Agora, Faten já diz muitas palavras em português e sorri bastante mais do que há uns meses, orgulhosa com a sua farda branca, avental preto e a touca que lhe cobre os cabelos atrás do balcão onde a cozinha industrial do Mezze se encaixa como um puzzle perfeito. Na festa de inauguração, esta curda de Damasco até foi das primeiras a juntarem-se aos dançarinos curdos que puseram dezenas de sírios e portugueses a saltar numa roda sem fim.
De braço dado a Shiraz, nascida no centro do Curdistão sírio, em Afrin, Faten saltou, dançou e riu como uma criança. Como as suas filhas e os filhos dos outros correram e riram, sírios de braços dados a portugueses, portugueses a tentar não passar grandes vergonhas e acertarem o mais possível nos passos de uma dança que Alaa avisara ser “muito difícil”. Se a festa de inauguração servir de exemplo, o Mezze já é um sucesso. Veio muita gente, entre vizinhas das bancas no mercado e vizinhos do bairro, curiosos, amigos dos portugueses da associação, dos sírios e do iraquiano Yasser. Dançou-se e cantou-se, música tradicional mas ainda mais hip-hop e aqui até se juntou Junior, um refugiado do Congo há poucos meses em Portugal.
O tradutor oficial
É segunda-feira, véspera da abertura oficial, e todos estão concentrados e um pouco tensos. “O fim-de-semana serviu para descansar, claro, agora é trabalho a sério, sem parar”, diz Rafat, o rapaz de 21 anos que cresceu demasiado depressa. Agora, para além de se considerar “chefe de família” (o pai morreu debaixo de bombas, em 2012; o irmão mais velho está na Turquia), sente o peso de ser o único empregado de mesa do Mezze a falar português – os pratos são muitos e de certeza que muitas também são as perguntas dos que ali já se sentam para almoçar ou jantar.
Rafat chegou há 20 meses e aprendeu português depressa, nas aulas, mas ainda antes, nos três meses em que trabalhou num restaurante de kebabs num centro comercial. Começou por fazer de tradutor para a mãe e agora é graças a ele que toda a gente se entende no Mezze. Cozinheiras, ajudantes, empregados de mesa, os portugueses da associação e os dois portugueses contratados para gerir o restaurante, os chefs que têm aparecido para ajudar as sírias que tomam conta da cozinha mas também quem tem de saber pôr a mesa sempre da mesma maneira, saber qual o copo para água, sumo ou vinho.
De certeza que Rafat chega sempre exausto a casa, mas a verdade é que ninguém parece ter mais vontade do que ele de fazer com que tudo isto dê resultado. “Estabilidade”, “rotinas” ou “tranquilidade” não são palavras que imaginemos ouvir a um rapaz de 21 anos, mas Rafat é especial. Trabalha desde os 14 anos, quando decidiu que queria parar de estudar e ajudar o pai no seu restaurante de kebabs e frango assado. No Egipto, teve ainda de se fazer costureiro, a profissão de um dos cunhados, para que a família pudesse sobreviver. Agora, só pensa em trabalhar (enquanto a mãe só quer que ele volte a estudar) e garantir uma vida melhor à mãe e aos irmãos mais novos.
Tantos azares, Yasser
Tal como Faten, o sírio Yasser sorri muito mais por estes dias do que nos tempos das aulas da Escola de Hotelaria. A Yasser aconteceu quase tudo o que pode acontecer a quem decide fugir da Síria – no seu caso, saiu para evitar o serviço militar e não ser obrigado a matar outros sírios. Quase tudo talvez seja pouco, há muita gente que vive tragédia atrás de tragédia, mas Yasser teve mesmo todos os azares, tantos que o espanto é estar aqui, lúcido, de boné virado para trás, feliz a tornar bolas de farinha em círculos finos que faz saltar de uma mão para a outra (onde segura a bola de pano que ajuda a conseguir o tamanho certo). Uma espécie de malabarista a fazer magia, o tal pão de que Alaa sentia falta, o khobz que tem sempre lugar a uma mesa síria e que serve de colher para ir petiscando entre os diferentes pratinhos que formam a mezze.
O jovem que chegou a Lisboa a fazer 22 anos, em Fevereiro, trabalha desde a adolescência, não por necessidade mas por gosto. Fazer pão, percebeu depressa, era a sua paixão. Tudo isto em Ghuta, a cidade dos arredores de Damasco onde ataques com gás sarin fizeram mais de 1400 mortos numa manhã de Agosto de 2013. Por essa altura, já o mais novo de cinco irmãos se preparava para fugir para o Líbano, experiência que descreve como “tortura” por ter sido maltratado por libaneses e por patrões que não lhe davam mais do que trabalho como ajudante com salário mínimo.
Desencantado por estar num país onde um padeiro não é tratado com respeito, tentou a carpintaria. No primeiro de vários azares, cortou um dedo e esteve três meses sem trabalhar, “às vezes sem comida ou sítio para dormir”. Deixou o Líbano e foi para a Turquia, onde voltou a conseguir emprego numa padaria. Ali passou oito meses a juntar dinheiro para viajar para a Europa, mas um irmão foi raptado na Síria e tudo o que ele juntara serviu para o resgatar. Recomeçou e voltou a juntar o dinheiro para atravessar o Mediterrâneo num bote de borracha que acabou por conduzir quando quem devia ocupar-se do leme não apareceu.
O pior ainda estava para vir e aconteceu na Grécia, já junto à Macedónia. Com a fronteira a abrir e a fechar, e perto de fechar indefinidamente, alguns refugiados receberam números para serem chamados a atravessar a linha. A Yasser coube o número 69, o último a passar tinha o 60. Foi aí que se sentiu “destruído” e “tratado como um animal”, mas ainda faltava roubarem-lhe a tenda e o dinheiro que lhe sobrava do campo de Idomeni (o acampamento sem quaisquer condições que nasceu junto à fronteira).
“Desesperado” era palavra que já não chegava para descrever o seu estado. Depois de tanto azar, teve a sorte de se cruzar com membros da Jafrah, uma ONG constituída por refugiados. Voltou a amassar pão para distribuir por todos os que sobreviviam em Idomeni e assim, a ver o rosto dos que cheiravam o seu pão acabado de fazer, Yasser voltou aos poucos a ser Yasser e a acreditar na vida. Veio de Atenas para Portugal e depois do pão ainda serve às mesas com os outros rapazes.
A família sentada a comer
Shiraz também passou pela Grécia antes de aterrar em Lisboa. Veio com dois filhos, um adolescente e uma rapariga de 20 anos. O marido ficou em Alepo, uma filha já casada também. Olhando para esta mulher de traços fortes e beleza clássica, sorriso fácil, é difícil imaginar que esteve semanas sem sair de casa quando chegou a Portugal.
É Shiraz que nos fala de comida com os olhos a brilhar, como se estivesse mesmo a rever na sua cabeça as festas de casamento e as quintas-feiras, dia “de sair e comer” com toda a família, ou as sextas, quando “fazemos churrasco e há pratos obrigatórios, como tabbouleh”, a salada levantina que leva bulgur e cebola roxa, salsa, menta, tomate e pepino, tudo picado pequeno. Lá em casa, quando Shiraz crescia, eram dez, sete irmãos e três irmãs, houve muita gente a casar.
Nascida em Afrin fez de Alepo a sua casa, quando lá chegou depois de casar, aos 19 anos. A Alepo de Shiraz já não existe e talvez ela possa fazer de Lisboa a sua nova casa. É o que espera que aconteça, desde que o resto da família possa juntar-se-lhe. Para já, rodeou-se da comida que lhe lembra os que ficaram para trás: tabbouleh, mas também houmous (pasta de grão), fatoush (salada com pão frito), baba ganoush (pasta de beringela assada), falafel (bolinhas fritas de grão), shorbet addas (sopa de lentinhas), mujaddara (bulgur com lentilhas e cebola frita e adocicada), kibbeh (uma espécie de croquete de borrego com bulgur e nozes) ou as espetadas de borrego ou frango acompanhadas de um delicioso molho de iogurte.
Comida para partilhar e para viajar, ao mesmo tempo que se percebe que os hábitos culinários de portugueses e sírios não são assim tão diferentes. O resultado é outro mas os ingredientes, incluindo parte das especiarias, são muito parecidos, como parecida é a cultura de passar horas à mesa, à volta de comida e em conversa animada. Na Síria, como em grande parte de Portugal, é difícil não comer bem. A diferença é que na Síria é mais fácil ser convidado a partilhar uma refeição por desconhecidos curiosos, com vontade de conhecer estrangeiros e de lhes falar da sua vida.
Uma síria como antes
No Mercado de Arroios, há a partir de agora uma pequena Síria, uma Síria feita por quem fugiu da guerra mas que se parece muito mais com o país que existia antes do conflito do que com aquele que existe agora.
Segunda-feira, véspera da abertura oficial e chegam os diplomas da Escola de Hotelaria. Os seis que não estão no Mezze terão de lá passar para os recolher, incluindo Mouna, convidada pela associação a trabalhar no restaurante mas que decidiu tentar já o seu próprio negócio, de pastas e pickles e outras iguarias que descobriu que conseguia replicar em Lisboa. “Talvez seja cedo para ela, mas a ideia é mesmo essa. Dar-lhes ferramentas e deixar que sigam o seu caminho”, diz Francisca.
“Do que mais gosto é de os ver a conviver com pessoas tão diferentes, gente com vidas que eles nem imaginavam na Síria”, diz Alaa. Gente que bebe vinho, por exemplo, ao contrário da maioria dos sírios do Mezze, que não toca em álcool. Mas tal como a carne halal (de animais mortos de acordo com determinados preceitos islâmicos) e as garrafas já convivem lado a lado no restaurante também a chef Fatima se vai habituar a ver os seus pratos ser acompanhados por um copo de vinho tinto.
Lisboa não tem nem nunca terá “o mesmo cheiro da terra quando chove” em Damasco nem “o cheiro do jasmim”, de que Fatima sente falta como qualquer damasceno. O mesmo cheiro que faz Faten fechar os olhos, enquanto acrescenta as saudades que sente “da visão de uma banca cheia de pickles nas ruas de Damasco" como se estivesse mesmo a ver os frascos empilhados em pirâmides. Mas Lisboa já tem o Mezze e lá dentro já há muitos cheiros da Síria. E foram Fatima e Faten e os outros que os trouxeram. Agora, bastaria que Fatima conseguisse trazer para cá o filho que não vê há cinco anos ou Faten encontre maneira de fazer chegar a Lisboa a filha de 18 anos que decidiu voltar para a Síria quando chegou à Turquia com a mãe e as irmãs.
“A primeira pessoa que eu conheci quando cheguei” é como a Alaa às vezes se lembra de me descrever. Em rigor, eu fui apenas uma das pessoas que a Alaa conheceu no dia em que aterrou em Lisboa, antes de partir para Évora, onde estudou Arquitectura (agora está no ISCTE). Certo é que eu conheço a Alaa há bastante tempo e tenho por ela um respeito e carinho sem fim. E claro que conheço a Francisca, minha colega desde 2001 praticamente até ontem. Há uns meses, a Francisca perguntou-me se queria escrever os perfis de alguns dos sírios que iriam trabalhar no Mezze, perfis que aparecem nas ementas ao lado de ilustrações do João Catarino e que também irão estar o site do projecto. Claro que o fiz, eu que tanto queria encontrar formas de colaborar com a Pão a Pão. Foi assim que conheci estes sírios antes dos que agora podem saborear a sua comida no Mercado de Arroios e tive a sorte de poder começar a torcer por eles um pouco mais cedo do que a maioria.
Este artigo encontra-se publicado no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO