Jogar com o teatro ao sábado à noite na RTP2
Os Jogadores, uma produção dos Artistas Unidos, marca o regresso do teatro à RTP2 com a exibição, aos sábados à noite, de cinco peças filmadas até ao final do ano.
A RTP2 tem um novo ciclo de teatro, em que, uma vez por mês, ao sábado à noite, ao todo cinco peças serão exibidas na televisão pública. Se, em Setembro de 2016, A Peça que Faltava se estreava com espectáculos curtos de novos valores do teatro, agora são obras um pouco maiores em termos de duração. E não é o único teatro exibido pela estação este ano - em Março, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, a RTP2 passou Trapos e Conversas Frívolas.
Este ciclo regular de teatro filmado evoca uma linha de programação que teve grande importância nas primeiras décadas do serviço público de televisão em Portugal e no início da televisão internacional no geral.
Os Jogadores, do catalão Pau Miró, é a peça escolhida para a primeira noite e pode ser vista este sábado a partir das 22h15. A ela seguir-se-á, em Outubro, Nunca seremos tão novos como agora, de Miguel Castro Caldas, com encenação de Raquel Castro, Isto é para televisão?, com texto e encenação de Sofia Ângelo, Coleção de Amantes, de Raquel André e, por fim, On the road ou hora do arco-íris, escrita por Carlos Pessoa e encenada por Ana Palma.
A primeira peça foi um espectáculo montado pelos Artistas Unidos em 2015, com Américo Silva, António Simão, João Meireles e Pedro Carraca como protagonistas. Centra-se em quatro homens que, numa casa, vão falando uns com os outros sobre as suas vidas cheias de frustração com um mundo em mudança. Um é barbeiro, outro coveiro, outro actor, outro professor, todos em graus variáveis de falhanço na vida e decidem fazer algo perigoso quanto a isso.
A realização esteve, a meias com Miguel Aguiar, a cargo de Jorge Silva Melo, que encenou a peça. O fundador dos Artistas Unidos explica ao PÚBLICO que considera esta exibição um filme: "Já foi muito costume, e sou ainda desse tempo, que as peças de teatro pudessem ser filmadas. Acontecia muito nos anos 1950, nos Estados Unidos, com peças que eram escritas de propósito para televisão. Realizadores como Sidney Lumet começaram assim. Eram filmadas não com as três câmaras habituais da televisão, mas só com uma câmara, como é o caso desta, que durou uma semana inteira de rodagem." Diz também: "Este é um regresso do teatro à televisão de uma maneira que é diferente do teatro que era filmado em estúdio."
É filme-teatro, especificamente, esclarece Silva Melo. "A televisão é um meio bastante realista, introduziu, quer na Inglaterra quer nos Estados Unidos, um novo realismo no cinema. Nomes como Lumet, Sam Peckinpah ou John Frankenheimer nasceram do teatro filmado", acrescenta. É um gosto que vem de longe: "Quando estava no Teatro da Cornucópia, tentei fazer isto. Fizemos três filmes com a Solveig Nordlund [peças de Franz Xaver Kroetz] e cinco episódios do Karl Valentin [E não se pode exterminá-lo?]. Gosto de teatro e gosto de cinema, tentei sempre que houvesse essa passagem. Nos teatros que frequentei nos anos 1970 também havia versões assim dos espectáculos."
Pelo menos a sua parte neste regresso do teatro não ficará por aqui: já está planeado filmarem outro espectáculo, a peça O Tempo, da também catalã Lluïsa Cunillé, com Rita Brütt e Américo Silva, uma produção que já foi transmitida no programa Teatro Sem Fios, da Antena 2. "Para o ano tinha proposto uma peça do Harold Pinter que foi escrita para televisão, A Causa, com a planificação toda dela e só mudar serem portugueses a fazer. E uma peça minha para televisão. Eram os meus projectos para 2018, mas não estão aprovados, devem ser feitos lá para 2028. Gostava de fazer duas peças por ano para televisão, seja a partir de espectáculos já feitos, seja a criar filmes novos, coisas de uma hora, uma hora e dez minutos. Gosto de fazer grandes planos e de ver as caras dos actores."