Ocuparam uma casa para defender o direito à habitação em Lisboa

Assembleia de Ocupação de Lisboa ocupou prédio para alertar para os problemas da habitação em Lisboa. Domingo há uma assembleia para se decidir que rumo dar ao espaço.

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A Assembleia de Ocupação de Lisboa quer transformar o espaço num “equipamento social" Mário Lopes Pereira

“A cidade é de quem a ocupa”, lê-se em letras garrafais na faixa que foi colocada num prédio devoluto no coração de Arroios, em Lisboa, que foi ocupado esta sexta-feira pela Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX). É um protesto contra o avanço da “especulação imobiliária” que tem contribuído para o aumento das rendas e do preço das casas e empurrado as pessoas para fora da cidade. A ideia é transformar este espaço desocupado num local “aberto à comunidade”. 

Ao PÚBLICO, João Teixeira, engenheiro de 40 anos, porta-voz do grupo, diz que a iniciativa surgiu muito “espontaneamente” por um grupo de pessoas que foram mudando de habitação e dando conta que “a situação é cada vez mais complexa para quem mora em Lisboa, não só para jovens, mas para toda a gente”. 

São três da tarde quando chegamos ao número 69 da rua Marques da Silva. Lá dentro, cerca de 20 pessoas, que não querem dar a cara, arregaçam as mangas para limpar as devolutas fracções daquele prédio que dizem ser uma das propriedades que a câmara de Lisboa tem desocupadas pela cidade. “A casa já estava aberta, não foi preciso arrombar portas”, diz um dos membros do grupo que é doutorando em Sociologia, mas prefere manter o nome fora da conversa. 

A ocupação do prédio acontece em plena campanha para as autárquicas de 1 de Outubro, onde a questão da habitação, a gentrificação, os impactos do turismo na cidade tem sido reconhecida, da esquerda à direita, como a prioridade da cidade.

O fenómeno que não é exclusivo de Lisboa: “Fala-se de gentrificação de São Francisco a Barcelona", diz o doutorando em Sociologia. Na capital, considera, o fenómeno tem sido agravado pela má gestão da Câmara de Lisboa que tem entregado património a “fundos de investimento” e “entidades especuladoras”.

O grupo, que sublinha não ter “ligações a partidos, associações, organizações políticas ou sindicais”, representa “uma fatia muito transversal da sociedade”, diz João Teixeira. São engenheiros, empregados de mesa ou juristas. Alguns são repetentes, tendo já participado noutras iniciativas do género, e que querem “criar um contrapoder à gentrificação”, abrindo um espaço fechado ao máximo de pessoas. 

Apesar de abandonado, o grupo admite que o edifício está em boas condições do ponto de vista estrutural, e que com a ocupação pretendem “retirá-lo das malhas da especulação” e transformar um “espaço desocupado” num local “aberto à comunidade”. 

Mas há ainda muito trabalho para se fazer até transformar aquele espaço num “equipamento social”. Para isso, trocam-se os móveis de divisão, limpa-se o entulho acumulado por quem já ali passou. A ideia é criar “um espaço social em que toda a gente é bem-vinda”, que será aberto a debates, conversas sobre a cidade e as suas transformações. A finalidade de cada fracção, porém, ainda está em aberto, “mas será sempre um espaço comunitário”, nota João Teixeira. 

No próximo domingo, o grupo vai promover uma assembleia para discutir estas questões e definir o rumo a dar a este prédio. No sábado está ainda prevista a realização de um debate e a apresentação de um arquivo histórico sobre a ocupação em Portugal. 

Para já, João Teixeira diz que a câmara foi informada da ocupação, mas que ainda não obtiveram qualquer resposta. “Quando [a câmara] iniciar o diálogo vamos ver qual é o tipo de propostas ou de aproximação que tem e depois submeteremos isso à assembleia”, explicou o porta-voz. 

E a ideia é que as iniciativas naquele espaço não se esgotem no fim-de-semana. “Até nos tirarem daqui vamos continuar”, diz o doutorando em Sociologia. 

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