Jerry Lewis: o humor anárquico e infantil perdeu a sua estrela

Espírito anárquico e infantil da obra de Jerry Lewis, aliados às caretas e à comédia física, fizeram dele uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood. Actor morre aos 91 anos.

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Jerry Lewis em 2011 Reuters/Phil McCarten
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Lewis no filme As Noites Loucas do Dr. Jerryll de 1963 Jerry Lewis
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Dean Martin, à esquerda, e Jerry Lewis em 1954 Reuters

O multifacetado e talentoso cómico, realizador, argumentista, cantor, dançarino e actor norte-americano Jerry Lewis morreu ontem de manhã na sua casa de Las Vegas, aos 91 anos. A notícia foi confirmada ao jornal The New York Times pela sua publicista, Candi Cazau.

Lewis, que fez comédias como O Professor ChanfradoJerry no Grande Hotel ou Jerry, Enfermeiro Sem Diploma nasceu em Newark, Nova Jérsia, em 1926, talhado para o mundo do espectáculo. O pai era mestre de cerimónias e cantava e dançava, enquanto a mãe era pianista. Como tal, começou a actuar com os pais aos cinco anos. Aos 20, juntou-se a Dean Martin num duo cómico que teve um sucesso sem precedentes nos palcos de clubes nocturnos, na rádio, na televisão e no cinema.

Passados dez anos, a parceria dissolveu-se de forma pouco pacífica, com cada um a ir para seu lado e Martin a conhecer o sucesso como cantor e actor, apresentador de televisão e pela amizade com Frank Sinatra. Os dois voltaram a reunir-se ocasionalmente, por vezes de maneira desconfortável, até à morte de Martin, em 1995.

Depois da cisão, a carreira de Lewis a solo explodiu, primeiro como protagonista de filmes e depois como argumentista e realizador. Tinha uma mestria técnica incomum entre os seus pares e é creditado como inventor do video assist, que ainda hoje se usa e permite aos realizadores verem um take que acabou de ser filmado.

O espírito anárquico e infantil da sua obra, aliado às caretas e à comédia física, com gags meticulosamente orquestrados, fez dele uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood, com inúmeros sucessos até aos anos 1970, quando começou a passar de moda.

Sem o sucesso da década anterior, em 1972 realizou uma comédia dramática vilipendiada pelo próprio sobre um palhaço num campo de concentração nazi que nunca chegou a ser lançada, acabando o próprio Lewis por doar em 2015 uma cópia do filme à Biblioteca do Congresso, em Washington, com a ressalva de que só poderia ser mostrada dez anos depois. Em 1983, fez o papel de um apresentador de talk show que é raptado por um fã aspirante a cómico interpretado por Robert De Niro no subvalorizado O Rei da Comédia, de Martin Scorsese, um dos seus melhores papéis dramáticos. 

Nos últimos tempos, continuava a fazer espectáculos, a manter o activismo contra a distrofia muscular. Ao longo de 44 anos foi apresentando especiais televisivos de beneficência, algo que começou nos tempos com Dean Martin e manteve até 2010. Também continuou a ser actor em filmes, se bem que raramente como protagonista, e encenou uma versão musical de palco de O Professor Chanfrado, entre outras actividades.

Recentemente, fazia mais cabeçalhos por causa de polémicas, seja quando dizia que as mulheres não podiam ter piada – comentário que foi clarificando mas não melhorando ao longo dos anos –, se opunha à entrada de refugiados sírios nos Estados Unidos, ou, em 2016, quando um vídeo de Lewis a ser rude para um entrevistador pouco preparado do jornal The Hollywood Reporter se tornou viral.

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