Bolt: “Sou livre, finalmente. Preciso de beber um copo”

Usain Bolt deu uma última volta ao estádio olímpico de Londres, depois de se ter lesionado na final que fechava a sua brilhante carreira.

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Reuters/DYLAN MARTINEZ

Só mais uma vez? Só mais uma vez. Outra ainda? Sim. Só mais uma para a fotografia? Só mais uma para a fotografia. Usain Bolt cumpriu uma volta de honra no estádio olímpico a fechar o último dia dos Mundiais de atletismo e por três vezes fez o gesto do relâmpago, a puxar o braço direito para trás e o esquerdo em direcção ao céu. Foi a volta de honra por uma carreira e não pelas vitórias que não teve em Londres, nem nos 100m (foi terceiro), nem nos 4x100m (acabou a coxear). Durante a volta parou na linha de partida dos 200m e dos 100m e, disse, quase lhe apeteceu chorar. Não chorou, mas o sorriso foi menos incondicional.

A carreira atlética de Usain St. Leo Bolt tinha acabado no dia anterior com uma lesão na coxa esquerda a meio do último percurso da estafeta jamaicana. E nas 24 horas seguintes, deu para perceber que, entre outras coisas, Usain Bolt esteve a ver futebol. “Isso fez-me sorrir hoje”, respondeu o jamaicano a uma pergunta de um jornalista do Quénia sobre a goleada (4-0) do Manchester United ao West Ham. “Pareceram bem, jogaram bem, atacaram, fiquei impressionado, nada de mal a dizer da equipa. Lukaku, Matic, Rashford, estiveram muito bem.”

A pergunta aliviou um pouco o ambiente, mas esta era a conferência de imprensa das despedidas finais (perante mais de uma centena de jornalistas de todo o mundo e apenas 15/20 minutos para fazer perguntas), já que não o tinha feito no dia anterior. O que aconteceu em Londres não vai mudar a lenda, garantiu a própria lenda. “Um campeonato não vai mudar. Depois de perder os 100m, alguém me disse, ‘O Ali também perdeu o último combate’. Já provei tudo. Uma corrida não vai mudar o que fiz.”

O que aconteceu naquela última corrida? Outros já tinham dado uma explicação e Bolt confirmou-o: estiveram demasiado tempo à espera para correr. “Não foi nada habitual. O treinador disse-me para me manter quente, mas ficámos muito tempo na sala de chamada, dez, 15 minutos, estava vento e frio. O que é que podia fazer? Só podia seguir as regras”, reforçou, dando a entender que a lesão não é uma coisa simples: “Ainda vou fazer mais exames para ver se é tão mau quanto estou a pensar.”

Bolt não se arrependeu de tentar um último “hurrah” em Londres, “pelos fãs”. Mas é mesmo o último? “Já vi muita gente retirar-se e voltar e envergonhar-se. Não vou ser uma dessas pessoas”, diz o homem que fez as suas últimas provas antes de completar 31 anos de idade e garantindo, para os jornalistas jamaicanos, que o futuro do sprint na Jamaica está garantido sem ele – pra já, o que se viu em Londres foi “apenas” uma medalha de ouro e três de bronze.

Depois de um dia a pensar na lesão, a ver o Manchester United e a responder mensagens e atender telefonemas, Bolt ainda não sabe bem o que vai fazer. O treinador, diz, quer ele seja treinador, mas, de certeza que não será comentador desportivo profissional – “não gosto de estar muito tempo sentado”. E garante que os três filhos que quer ter não serão obrigados a fazer atletismo – “não serei um desses pais”.

“Sou livre, finalmente. Desde os dez anos que a minha vida foi só atletismo. Quero relaxar, viver um bocadinho e estou entusiasmado”, disse o relâmpago. E as duas coisas que estão no topo da lista para fazer agora, perguntou uma outra jornalista, provavelmente à espera de algum plano a longo prazo. Bolt ainda só estava a pensar no que iria fazer nas horas seguintes: “Vou tentar divertir-me, arranjar uma festa. Preciso de sair, preciso de beber um copo, estes são os últimos campeonatos… Depois vou passar o dia com a minha família.”

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