Inês Henriques, uma pioneira com uma medalha de ouro

Na primeira vez em que as mulheres cumpriram os 50km marcha em Mundiais, foi a portuguesa a ganhar com um recorde do mundo.

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Inês Henriques terminou destacada com a bandeira portuguesa nas mãos Reuters/TOBY MELVILLE
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Inês Henriques já detinha o melhor tempo do mundo Reuters/TOBY MELVILLE
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É a primeira vez que a dfistância dos 50km marcha se disputa no sector feminino em Mundiais Reuters/TOBY MELVILLE
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Yohann Diniz, novo campeão do mundo Reuters/MATTHEW CHILDS
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Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Carla Sacramento e Nelson Évora. É nesta companhia que está Inês Henriques, no grupo de portugueses que conquistaram a medalha de ouro em Mundiais de atletismo. Mas Inês não foi uma campeã qualquer. Foi uma pioneira com uma medalha de ouro na primeira vez que se correu uma prova de 50km marcha femininos em Campeonatos do Mundo. Foi a líder de um reduzido pelotão de sete atletas a correr ao mesmo tempo que os homens, e ganhou com um recorde do mundo, o primeiro estabelecido nestes Mundiais de Londres.

Como qualquer primeira vez, foi tudo histórico nesta prova que tinha 25 passagens pelo Palácio de Buckingham — a bandeira estava içada, sinal de que a Rainha estava em casa. A primeira campeã, a primeira vice-campeã, a primeira medalha de bronze, a primeira desqualificação, a primeira desistência… Às 7h45, manhã cedo, as sete pioneiras partiram entre os 48 homens, elas com o dorsal amarelo, eles com o dorsal branco, para a prova mais longa do programa atlético dos Mundiais. Eram duas corridas numa, dois ouros em disputa, mais duas pratas e dois bronzes.

Rapidamente, o favorito masculino marcou a sua posição. Yohann Diniz, o luso-francês recordista mundial que nunca tinha sido campeão do mundo, acelerou tanto quanto as regras da marcha o permitem e fez a prova quase sempre sozinho. Diniz, que tinha tido uma prova dramática no Rio de Janeiro, terminou com um novo recorde dos Mundiais (3h33m12s), a larga distância dos dois japoneses que chegaram depois. Em 11.º, aparecia o primeiro dos portugueses, o experiente João Vieira, que validou a sua opção pelos 50km com um tempo que ficou a dez segundos do recorde nacional (3h45m28s). Mais atrás, acima das quatro horas (4h02m30s), ficou Pedro Isidro, 32.º e penúltimo entre os que terminaram.

Na prova feminina, marchava-se a passos um pouco mais lentos (mas não muito mais). Inês Henriques, a recordista do mundo, tinha um plano: seguir no seu ritmo e esperar que as adversárias fossem ficando para trás. Mas uma das chinesas, Yin Hang, teimava em continuar ao seu lado. “Andei ali um quilómetro ou outro mais rápido, tentei abrandar, manter-me calma, mas tinha aquela carraça atrás de mim”, diria, mais tarde, a marchadora. De fora, essa era a instrução que vinha de Jorge Miguel, o treinador. Manter o ritmo, que a sua inexperiente adversária iria quebrar. Foi o que aconteceu por volta dos 30 quilómetros. Até ao fim, seria Inês contra o cronómetro e contra a fadiga.

Três marchadoras ficaram pelo caminho

Nem todas as pioneiras chegariam ao fim. A norte-americana Erin Talcott, que foi uma das que mais lutou para que esta prova existisse em Mundiais, foi a primeira a sair, desqualificada antes de se cumprir uma hora de prova. Depois, ficaram pelo caminho a brasileira Nair Rosa e outra norte-americana, Susan Randall. Terminaram quatro, três foram ao pódio. Depois da portuguesa, a melhor das chinesas, Yin Hang, com um novo recorde da Ásia (4h08,58s), e em terceiro Yang Shuqing, com recorde pessoal (4h20m49s). Até Kathleen Burnett, a quarta classificada, teve direito a um recorde norte-americano.

Na cerimónia de entrega das medalhas, houve direito a um engano. Inês Henriques, ao centro, não levantava dúvidas, mas as duas atletas chinesas estavam em lados trocados do pódio. E foi a portuguesa que deu por isso. Não houve engano foi na bandeira içada ao meio, nem no hino que tocou, dois testemunhos do primeiro título mundial de Inês Henriques e da segunda medalha de Portugal na marcha, 12 anos depois do bronze de Susana Feitor nos 20km em Helsínquia 2005. Desta forma, elevou-se o número de medalhas portuguesas em Londres para duas — Nelson Évora ficou com bronze no triplo salto.

A portuguesa até acabou por terminar a prova à frente de um dos homens, o boliviano Ronal Quispe (4h08m2s), um pormenor numa história cheia de feitos inéditos, uma conquista pessoal que não era só de Inês. “Isto é um marco histórico para as mulheres e para os 50km marcha. Espero que mais mulheres façam 50km para que possa estar nos Jogos Olímpicos. Demonstrámos que as mulheres podem ter marcas de bom nível”, frisou.

Depois da prova única de 50km, vieram as duas provas de 20km e Ana Cabecinha tinha aspirações de melhorar a quarta posição que obtivera há dois anos, o que equivaleria a um lugar no pódio, mas a cabeça da atleta não estava bem na prova porque o pai tinha sido internado a meio da semana.

“Foi muito difícil gerir emoções e só competi porque ele melhorou. Vim para cá para ir muito bem, mas, depois de saber que ele estava internado, a minha cabeça não estava completamente aqui. Tentei gerir. Arrisquei, como prometi, mas fica para outro campeonato”, disse Ana Cabecinha, que fez 1h28m57s, a sua melhor marca da época.     

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