Inês Henriques lidera as pioneiras da marcha

Pela primeira vez, as mulheres vão fazer os 50km marcha em Mundiais de atletismo. A portuguesa é candidata ao ouro e Ana Cabecinha também tem aspirações nos 20km.

Foto
Inês Henriques Reuters/LUKE MACGREGOR

Foi um processo complicado, que envolveu avanços, retrocessos, um processo no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) e incerteza até ao fim, mas, estes Mundiais de atletismo, em Londres, serão históricos porque, pela primeira vez, haverá uma prova de 50 quilómetros marcha para mulheres, o que fará com que haja igual número de eventos para ambos os géneros (24). Esta corrida histórica está agendada para a manhã de domingo (a partir das 7h45) e será em circunstâncias especiais: serão apenas sete atletas e vão todas correr ao mesmo tempo dos homens (onde estarão João Vieira e Pedro Isidro). Neste reduzido lote de pioneiras, a portuguesa Inês Henriques apresenta-se como a recordista mundial da distância, e, para todos os efeitos, candidata ao primeiro título mundial.

Não é fácil fazer a cronologia de um processo que foi decorrendo numa altura em que o Comité Olímpico Internacional (COI) estuda a possibilidade de riscar a prova do programa atlético dos Jogos. Começou por ser uma longa luta da marchadora norte-americana Erin Taylor-Talcott, que incluiu um recurso ao TAD. Inês Henriques, que anunciara a sua intenção de fazer a distância mais longa nos Jogos do Rio de Janeiro, associou-se à luta e contribuiu para a causa com aquele que é o primeiro recorde mundial oficial de 50km marcha femininos, 4h08m25s. “Demonstrei que as mulheres podiam fazer marcas de qualidade”, diz Inês Henriques, que corre em Londres a sua segunda prova de 50km, depois da que lhe deu o recorde do mundo.

Depois do recorde, foi uma espera de vários meses até a IAAF anunciar que a prova ia ser incluída, com classificações e prémios autónomos, nos Mundiais – só o fez a 23 de Julho, menos de duas semanas antes de se começar a competir em Londres, com um mínimo de qualificação de 4h30m, que, numa primeira fase, era de 4h06m, o mínimo exigido para os homens. “A Federação Internacional falhou no ‘timming’, na informação e na definição das marcas. Não houve planeamento na integração desta prova. Eu próprio escrevi uma carta ao presidente da IAAF”, diz ao PÚBLICO Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo.

“Não foi feito da forma mais correcta, mas conseguimos o início. Se outras começarem a fazer 50km, haverá mais a fazer boas marcas, como a minha ou muito melhor”, observa a atleta portuguesa de 37 anos, cuja marca é cerca de 14 minutos menos que o segundo melhor tempo de inscrição (4h22m22s) da chinesa Yin Hang. “Ela talvez seja a primeira do top mundial que foi fazer 50km, quando outras vierem de certeza que a luta será maior. Neste momento, estamos perante uma grande incógnita, sabendo o que ela pode fazer. Vai tentar fazer aqui em Londres os 4h06m que não conseguiu em Porto de Mós. Se houver alguma que faça melhor, paciência, não podemos fazer nada”, diz, por seu lado, Jorge Miguel, o treinador de Inês Henriques.

Dadas as circunstâncias da prova, Portugal pode mesmo voltar a ter uma medalha na marcha em Mundiais de atletismo, 12 anos depois do bronze de Susana Feitor nos 20km marcha de Helsínquia 2005, mas Inês Henriques não é a única portuguesa com aspirações em Londres. Ana Cabecinha está determinada em melhorar o seu quarto lugar prova dos 20km em 2015. “Treinei para isso, tenho andado a batalhar por isso e espero que chegue o meu dia, a minha hora, o meu momento para que esse lugar seja meu”, diz a atleta alentejana, que será a única portuguesa na distância mais curta, que também se corre neste domingo.

Sugerir correcção
Comentar