Os jovens brasileiros estudaram, mas não há empregos
Falta de trabalho fez milhares de famílias voltar a pedir ajuda ao programa Bolsa Família.
A recessão deixou 14 milhões de brasileiros desempregados, muitos com um nível de educação bem mais elevado que os seus pais, por terem terem beneficiado dos anos de governação do Partido dos Trabalhadores, em que houve um forte investimento na educação. São como Ana Carolina Gomes da Silva, que tem um mestrado em pediatria e está desempregada: “Formei-me em Junho de 2014 e o melhor que consegui foi uma entrevista de emprego.”
Entre 1995 e 2015, a quantidade de universitários de 18 a 24 anos aumentou de 1,1 milhão para quatro milhões, segundo um estudo da consultora Plano CDE, feito para a Reuters.A grande marca da actual crise, que se arrasta desde 2014 é o forte crescimento do desemprego, sobretudo entre os jovens. Na faixa dos 18 a 24 anos, o desemprego alcançou 28,8 %, ou 4,5 milhões.
Mas os jovens não são os únicos descontentes. Se em Dezembro o Congresso aprovou um pesado pacote de austeridade – e uma emenda constitucional que limita aumentos reais ao valor do investimento federal durante 20 anos – falta ainda ao Presidente Michel Temer fazer aprovar uma profunda alteração no sistema de pensões, extremamente impopular. Implicará aumentar em dez anos a idade da reforma, para os 65 anos.
Não admira que a popularidade de Michel Temer tenha caído para níveis rasteiros – cerca de 5%, os piores desde o fim da ditadura.
O desemprego fez com que mais de 143 mil famílias que tinham deixado de precisar do Bolsa Família regressassem a este programa, que faz transferências directas de dinheiro para os agregados com filhos em situação de pobreza, a troco de cumprirem vários objectivos de saúde e educação. Outras 525 mil estão em lista de espera para poderem entrar no programa.
Quando subiu à presidência do Brasil, Michel Temer pôs em prática medidas para reduzir este apoio e eliminar quem dele beneficiava de forma ilegítima: 2,8 milhões de pessoas foram excluídas. Mas a subida do desemprego fez com que muitos brasileiros voltassem a precisar de ajuda. “Muitos que tinham o Bolsa conseguiram, de certa forma, se emancipar, mas em função da pioria da economia voltaram a ficar dependentes do bolsa porque perderam o emprego", reconheceu o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alberto Beltrame. Actualmente, 54 milhões de brasileiros (25% da população) beneficiam do Bolsa Família.