Obra sobre o pensamento do padre Manuel Antunes é apresentada em Lisboa
A Anatomia do Presente e a Política do Futuro: Portugal, a Europa e a Globalização tem lançamento, esta segunda-feira, na Fundação Gulbenkian.
O padre Manuel Antunes (1918-1985) "legou-nos um pensamento muito sagaz e avançado sobre Portugal e a Europa, na relação com o mundo em processo de globalização", afirma José Eduardo Franco, na introdução à obra Portugal, a Europa e a Globalização.
O historiador José Eduardo Franco é o organizador e autor da introdução da obra A Anatomia do Presente e a Política do Futuro: Portugal, a Europa e a Globalização, do padre Manuel Antunes, que é apresentada esta segunda-feira, às 18h00, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Franco contextualiza os diferentes textos escolhidos de autoria de Manuel Antunes, desde a "avaliação de Salazar", à "urgência de repensar Portugal após a revolução dos cravos", passando pelas questões europeias e mundiais.
A obra, que inclui um prefácio de José Farinha Nunes, presidente da Câmara Municipal da Sertã, de onde o sacerdote era natural, e um posfácio do director da revista Brotéria, António Júlio Trigueiros, é apresentada pelo ensaísta Eduardo Lourenço e pelo administrador da Gulbenkian Guilherme d'Oliveira Martins, estando também prevista a participação dos dois ensaístas atrás citados.
Sacerdote jesuíta, investigador, professor universitário, Manuel Antunes foi conselheiro do ex-Presidente da República António Ramalho Eanes. O antigo Chefe de Estado, que condecorou Manuel Antunes com o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada, afirma que o sacerdote "entendia que o Estado deveria ser competente e correcto, devia privilegiar a justiça, a liberdade e responder à sociedade civil de tal maneira que toda ela pudesse desenvolver-se e modernizar-se".
Farinha Neves, no prefácio, não tem dúvidas e aponta o jesuíta como "um dos maiores sábios do século XX português", e considera que as suas grandes linhas de pensamento, especialmente "no plano político e da análise prospectiva das derivas culturais e mentais do mundo contemporâneo, ainda mantêm uma flagrante actualidade". Manuel Antunes "anteviu como poucos um futuro que se anunciava (para muitos improvável) e que hoje já se concretizou ou está a bater-nos à porta", acrescenta Farinha Nunes.
José Eduardo Franco refere-se a Manuel Antunes como "um intelectual da cidade e do mundo, com um pensamento político e social inovador e um pensador político do futuro". O historiador salienta a "actualidade" dos textos do jesuíta, que foi um dos fundadores da revista Brotéria, e sua "lucidez", que nas décadas de 1960 e 1970 soube antecipar problemas e o desfecho da vida portuguesa e internacional de hoje, e que – prossegue José Eduardo Franco – "bem podem ajudar-nos na urgência de repensar Portugal, a Europa e o nosso mundo neste ano de 2017 (...), marcado por um horizonte de tremenda incerteza".
Na sua longa introdução, que é um ensaio como abordar a herança do pensamento antuniano, José Eduardo Franco classifica o sacerdote como "um mestre conciliador", "um pedagogo da democracia", que debateu "a questão europeia". Sobre esta temática – acrescenta Franco –, o jesuíta, apesar de optimista, "tem realismo suficiente para verificar as 'enormes dificuldades, dentro e fora do espaço da Grande Europa', que obstaculizam a operacionalização deste projecto" e chega mesmo "a estabelecer uma tipologia e os perfis dos oponentes ao projecto europeu".
Manuel Antunes, em alguns textos, "faz uma espécie de profissão de fé no regresso do modelo de uma Europa unida". No seu ensaio, José Eduardo Franco refere ainda "o universalismo antuniano", "a visão e o destino da Rússia", segundo os textos do jesuíta, que completa com a "anatomia pisco-sociológica e cultural do 'Império Russo'", e como a Rússia pode lidar com o "domínio da Europa". Franco destaca igualmente como, entre finais da década de 1960 e inícios da de 1970, o padre Manuel Antunes anteviu "a inviabilidade, a prazo, do sistema soviético".
Já sobre Portugal, o historiador realça o "júbilo" que Manuel Antunes manifestou nas páginas da Brotéria pela Revolução de 25 de Abril de 1974, que "abriu as portas à democracia".