O PS francês é um partido cada vez mais órfão
Numa semana, os dois finalistas das primárias socialistas abandonaram o partido: Hamon e Manuel Valls.
Benoît Hamon saiu do partido socialista e criou o Movimento do 1º de Julho. “Não abdique do ideal socialista. Deixo um partido, mas não o socialismo nem os socialistas. Serei mais útil fora do que dentro”, disse, perante uma pequena multidão de oito mil pessoas, segundo a polícia, no 12.º bairro em Paris. Numa semana, os dois finalistas das primárias do PS francês para escolher o candidato às presidenciais deixaram o partido, após a saída de Manuel Valls, adoptado pelo grupo parlamentar da República em Marcha, de Emmanuel Macron.
Em plena crise de ideologia, de militantes, de sentido de existência, após o pior resultado eleitoral de sempre, sem os líderes da ala mais à direita (Valls) e da ala mais à esquerda (Hamon), com a geração de líderes mais jovens, de 30-40 anos varridos do Parlamento devido à vaga irresistível da República em Marcha de Emmanuel Macron e o desencanto dos eleitores com os cinco anos de governação de François Hollande, o PS não sabe com quem contar, nem como se reinventar.
Na última semana, foram vários os políticos socialistas que ficaram de fora do Parlamento a apresentar movimentos próprios e iniciativas para reformular o partido, ou a esquerda. A ex-ministra da Educação, Najat Vallaud-Belkacem, e o ex-ministro da Administração Interna, Matthias Fekl, são exemplos dos líderes mais jovens que não conseguiram ser deputados e na semana passada publicaram um artigo no Libération convidando à mobilização "para reinventar a esquerda de amanhã". Na semana anterior, eram apoiantes do ex-candidato às primárias e ex-ministro da Economia Arnaud Montebourg que publicavam um artigo apelando à criação de um movimento em torno das suas ideias - ainda que o novo projecto deste se resuma à produção de mel...
“Estamos num processo de decomposição, com uma acumulação de saídas e de divisões”, disse a deputada Delphine Bartho, citada pelo Le Monde.
Hamon não conseguiu ser reeleito deputado, nem passar à segunda volta das presidenciais (teve 6,4% dos votos), tinha propostas como o rendimento universal. Agora, conseguiu reuniu à sua volta vários nomes de esquerda, como Cécile Duflot e Yannick Jadot, da Europa Ecologia-Os Verdes, Christian Picquet do Partido Comunista, o ensaísta Raphaël Glucksmann e o jornalista Edwy Plenel, um dos fundadores do site Mediapart.
Convergem na necessidade de matar o PS. "É preciso que morra o velho. É preciso que as velhas estruturas, que parecem igrejas sem fiéis, desapareçam", disse Raphaël Glucksmann, citado pelo Monde.
Jean-Cristophe Cambadèlis, o primeiro-secretário do PS, embora demissionário, que presidiu a todo o conturbado processo das primárias, permanece. “Manuel Valls vai-se embora, Benoit Hamon também. Eu fico, pois o Partido Socialista refundado será a esquerda do futuro”, escreveu no Twitter.