As dez albufeiras da bacia do Sado apresentam reservas de água inferiores a 40%
Em 54 das 60 barragens do sistema nacional de recursos hídricos, os armazenamentos são inferiores à média registada no período que decorreu entre 1990 e 2016.
A chegada do Verão encontrou as dez albufeiras da bacia do Sado que integram o sistema nacional de recursos hídricos à míngua de água, com reservas inferiores a 40% em relação ao seu nível de pleno armazenamento. E metade delas tem menos de 30% no volume de água.
Nesta bacia, a capacidade total de armazenamento das albufeiras é de 618 milhões de metros cúbicos. Por estes dias, a reserva está nos 173 milhões.
A barragem do Monte da Rocha que abastece as populações de Castro Verde, Ourique e Almodôvar, é que está em situação mais crítica. A sua capacidade máxima de armazenamento é de 102.760 milhões de metros cúbicos, mas na sua albufeira restam, neste momento, apenas 15.912 milhões de metros cúbicos de água (15.5%).
Mas não é apenas o abastecimento público que está ameaçado por esta escassez de água. A rega das culturas de Primavera/Verão nalguns dos perímetros da bacia do Sado está a ser assegurada a partir dos débitos vindos da barragem do Alqueva, e mesmo estes não respondem às necessidades de água que as associações de regantes reclamam. O presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema, já reconheceu ao PÚBLICO a impossibilidade de assegurar o fornecimento de água solicitado pelas diversas associações. O sistema de captação dos Álamos, de onde é bombada a água para irrigar os 71 mil hectares do sub-sistema de rega da grande barragem alentejana, só dispõe de duas electrobombas que se têm revelado insuficientes para colocar nos blocos de rega a água de que necessitam nesta altura do ano.
António Parreira, presidente da Associação de Beneficiários de Rega do Roxo (Abroxo), confirmou ao PÚBLICO que dos 26 milhões de metros cúbicos de água que tinham solicitado à EDIA para serem lançados na albufeira do Roxo até ao final do mês de Maio, a empresa só conseguiu colocar 8 milhões. Como o débito mensal não vai além dos 7/8 milhões isto significa que, no mínimo, só ao fim de seis meses é que aquele volume de água estaria colocado nas albufeiras de suporte aos blocos de rega do Roxo, Campilhas e Alto Sado e Rio de Moinhos que, no seu conjunto, necessitam de 45 milhões de metros cúbicos, salienta o presidente da Abroxo.
António Parreira adianta que, até ao momento, a associação que dirige não foi confrontada com os mesmos problemas que se verificam na zona abrangida pela associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas, que já assume contornos preocupantes, mas admite que essa situação poderá não estar assim tão longe.
Abaixo da média
No início do mês de Maio, o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) anunciava que “o mês de Abril foi o mais seco e mais quente dos últimos 86 anos e que grande parte das estações meteorológicas não registaram precipitação até ao dia 29 de Abril”. Por sua vez o Serviço Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH) refere que os armazenamentos de Junho de 2017, por bacia hidrográfica, apresentam-se “inferiores às médias de armazenamento de Junho (1990/91 a 2015/16), excepto para as bacias do Lima, Ave e Arade”. Ou seja, em 54 das 60 barragens do sistema nacional de recursos hídricos, os armazenamentos são inferiores à média registada nos últimos 27 anos.
Assim, das 60 albufeiras monitorizadas a nível nacional, 18 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 14 têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
O presidente da Federação Nacional de Regantes (Fenareg), João Núncio, refere que a situação “é grave e irreversível, afectando com maior gravidade as bacias do Sado e do Guadiana e todo o interior, com destaque para o Nordeste Transmontano, assim como as bacias hidrográficas mais pequenas”. E avisa que “com o avançar do Verão a situação tenderá a agravar-se”.
João Núncio reclama uma intervenção “urgente” dos ministérios da Agricultura e do Ambiente para activar a “Comissão de Gestão de Albufeiras, a Comissão de Acompanhamento da Seca, para além da Comissão Permanente”.
Quanto às medidas para mitigar os efeitos da seca, o presidente da Fenareg alega não ser necessário “inventar muito”, bastará recorrer a soluções encontradas em situações anteriores e complementá-las com outras entretanto disponibilizadas. A questão que se coloca, prossegue, “é o tempo que o país demora a reagir às situações e a activar medidas mitigadoras”. Após anos sucessivos de fraca pluviosidade, a redução nos volumes de água das albufeiras é preocupante.
O volume total de água que pode ser recolhido nas 60 barragens do serviço nacional de recursos hídricos é de quase 11 mil milhões de metros cúbicos. No final de Junho, estavam armazenados pouco mais de 7,5 mil milhões. Deste total, Alqueva concentra 3,2 mil milhões de metros cúbicos, que representam cerca de 41% das reservas de água existentes nas 60 albufeiras que se dispersam pelas 12 bacias hidrográficas de todo o país. E o Verão ainda vai no seu início.