Vouguinha, o comboio histórico voltou a andar nos carris
CP inaugurou este sábado o comboio histórico na linha do Vouga. A ministra da presidência, Maria Manuel Leitão Marques e o secretário de Estado Oliveira Martins foram os passageiros imprevistos.
Há muito que um comboio não provocava tanto entusiasmo como o que percorreu os 35 quilómetros entre Aveiro e Macinhata do Vouga (concelho de Águeda) neste sábado. Sorrisos, aplausos, fotografias e até alguma emoção receberam o comboio histórico do Vouga que a CP pôs a circular nesta linha todos os sábados durante o período de Verão.
Trata-se de uma composição composta por uma locomotiva a diesel, fabricada no País Basco em 1964, que reboca três carruagens de madeira construídas no início do século XX. Estes veículos espelham uma época em que os comboios eram o motor da indústria e da tecnologia. Uma das carruagens foi construída na Bélgica em 1908, outra na Alemanha em 1925, e outra em Portugal (nas oficinas do Porto dos Caminhos de Ferro do Estado) em 1923.
O que mais as caracteriza são os varandins exteriores – iguais aos dos comboios dos filmes de cowboys – onde muitos passageiros preferem viajar para melhor desfrutar da viagem, apreciar a paisagem e tirar fotografias.
A partida de Aveiro, prevista para as 13h40, atrasou-se 15 minutos porque foi necessário esperar pela ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, que, a título particular quis viver esta experiência. Nada de grave, porque este sábado a viagem era só para convidados. Oliveira Martins, secretário de Estado das Infraestruturas trouxe o filho que, como todas as crianças, gosta de comboios.
Para o novo presidente da CP, Carlos Gomes Nogueira, que teve nesta viagem inaugural o seu primeiro acto público (entrara em funções na véspera), a presença de dois membros do governo foi aconchegante. Nas declarações à comunicação social, o novel presidente foi cauteloso e preferiu falar apenas neste novo produto turístico da empresa. Ainda assim, admitiu ao PÚBLICO que as suas prioridades são elaborar um plano estratégico para a CP e avançar com a compra de material circulante. E questionado sobre a consensualidade que o mandato do seu antecessor, Manuel Queiró, reuniu entre os trabalhadores e clientes da empresa, Carlos Gomes Nogueira respondeu que a sua gestão não será de ruptura com a anterior. “De todo! Não se mexe no que está bem”, disse.
Por esta altura, já o comboio histórico serpenteava pela linha de via estreita do Vouga, seguido ao longo da estrada por automóveis com entusiastas que o fotografavam. A bordo, o ambiente era de festa, não só pela animação proporcionada pelo Grupo Folclórico e Etnográfico de Macinhata do Vouga, como pela experiência de viajar “pendurado” à janela numa tarde de Sol cuja temperatura era mais primaveril do que de Verão.
A velocidade deste comboio é a de uns estonteantes 25 Km/hora. Dá para apreciar os campos verdes em redor e o desordenamento da paisagem, cujas aldeias e casas parece que foram plantadas de avião. Por vezes, o comboio parece que passa no meio dos quintais, noutras segue paralelo à estrada, noutras avança por trincheiras com curvas e contracurvas escondido entre pinhais e eucaliptais.
A locomotiva Alstom que o reboca até poderiam circular a 70 Km/hora, mas a infra-estrutura não permite mais do que 50 Km/hora. O motivo pelo qual este comboio vai tão devagar é porque a sua marcha foi preparada para uma locomotiva a vapor de via estreita que foi recentemente reabilitada nas oficinas da EMEF de Contumil (Porto) para ser afecta a este serviço. Mas após a tragédia de Pedrógão Grande, a CP não quis arriscar que um comboio alimentado a carvão e a soltar faúlhas durante a viagem fosse o causador de um incêndio. O projecto de trazer o vapor de volta ao Vouga ficou, assim, suspenso e só talvez possa ser recuperado no Inverno.
Eirol é a primeira paragem do Vouguinha, que cruza com uma automotora grafitada e decadente, cujos passageiros pasmam ao olhar para o comboio do lado. “Antigamente é que era bom”, diz um deles, insatisfeito com o material que faz o serviço regular na linha do Vouga.
Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda (eleito pelo PS e que agora conclui o seu terceiro mandato), saúda esta iniciativa do comboio histórico, com a qual o seu município colabora fornecendo animação, logística e parceiros à CP, mas, em declarações ao PÚBLICO, defende para a linha do Vouga uma alternativa futurista: um sistema com veículos autónomos que se podem acoplar uns aos outros conforme a procura e que permite maior frequência. Algo que diz já existir numa cidade sustentável dos Emiratos Árabes Unidos.
Mais terra a terra é o seu vice-presidente, e também candidato para lhe suceder na Câmara de Águeda, Jorge Almeida. O autarca diz que a linha do Vouga já teve algumas melhorias, mas o mais importante agora é mudar a localização das estações e apeadeiros porque as que existem são de há cem anos e entretanto o território mudou. E vai apontando pela janela da carruagem exemplos gritantes e até óbvios mesmo para quem não conhece a região: ali a 50 metros estão as escolas, o centro de saúde, a GNR, o centro de formação profissional, os bombeiros, o Continente e o Pingo Doce, mas não há nenhuma paragem. E depois a estação mais próxima fica num ermo, numa ponta da povoação, queixa-se, acrescentando que a Infraestruturas de Portugal e a CP deveriam, em diálogo com o município, mudar a localização das paragens.
A chegada a Macinhata do Vouga foi feita em apoteose com centenas de pessoas na estação a saudar este regresso ao passado. Este produto turístico, precisa, porém de alguma afinação. A empresa deverá subir a velocidade do comboio de 25 para 35 Km/hora e permitir que os passageiros possam circular entre as três centenárias carruagens por forma a que não fiquem sempre fechados no mesmo veículo. E há também pormenores que não dependem da transportadora, mas sim da Infraestruturas de Portugal: o canal ferroviário precisa de ser limpo para que os ramos das árvores e as silvas não atinjam a cara dos passageiros que viajam à janela.
O comboio histórico do Vouga circula todos os sábados com partida de Aveiro às 13h40 e chegada às 19h08. A viagem inclui oferta de produtos regionais e uma visita ao museu ferroviário de Macinhata do Vouga. O passeio custa 29,50 euros para adultos e 16 para crianças dos quatro aos 12 anos. Para quem optar por experimentar também o comboio histórico do Douro beneficia de um desconto de 25% em ambos, custando, no total, 54 euros. A CP oferece um desconto de 30% em qualquer viagem de longo curso com destino a Aveiro desde que comprada em conjunto com o comboio histórico.