CP vai explorar comboio histórico na linha do Vouga
Empresa quer arrancar em 2017 com um comboio turístico de via estreita entre Aveiro e Sernada do Vouga.
O comboio histórico de via estreita que tem estado parqueado na Régua e que esteve prestes a ser vendido ao estrangeiro vai ser reabilitado e transferido para a linha do Vouga para fazer percursos turísticos.
A CP diz que esta decisão teve em conta o sucesso do comboio histórico no Douro, que circula de Junho a Outubro entre Régua e Pinhão e que este ano voltou a ter lucros operacionais. A ideia agora é replicar aquele serviço nos 35 quilómetros de via estreita entre Aveiro e Sernada do Vouga (Águeda).
Mas desenganem-se os entusiastas dos comboios a vapor. Esta composição vai circular com uma locomotiva a diesel , fabricada em Espanha em 1964 e comprada pela CP nos anos setenta.
A locomotiva a vapor E170, que também faz parte do comboio histórico, terá de ser alvo de uma peritagem para ver o seu estado de funcionamento, podendo depois vir a rebocá-lo só quando as condições climatéricas não forem favoráveis à ocorrência de incêndios.
Houve um tempo em que todos os comboios do país funcionavam a lenha e a carvão, mas na altura havia limpeza das bermas da via férrea, os terrenos eram cultivados e os próprios proprietários era obrigados por lei a mantê-los limpos até dez metros da linha para evitar que as faúlhas provocassem incêndios.
O comboio histórico de via estreita é ainda composto por uma carruagem fabricada na Bélgica em 1908, outra alemã de 1925 e também uma carruagem portuguesa construída em 1913 no Porto. Deste acervo faz ainda parte um vagão-cisterna e um furgão de madeira para transporte de mercadorias, datado de 1925.
O comboio histórico de via estreita vai ser transportado da Régua para as oficinas da EMEF em Contumil (Porto) através de zorras – uns veículos nos quais assenta o material de via estreita para poder circular numa via larga. A CP prevê investir 140 mil euros na reabilitação das carruagens e da locomotiva a diesel, mas a locomotiva a vapor (que foi construída na Alemanha em 1923 e enviada para Portugal como indemnização de guerra) terá de ser alvo de uma avaliação para saber quanto custa recolocá-la a rebocar o comboio.
Para as autarquias da região, sobretudo as de Aveiro, Águeda e Albergaria-a-Velha, este projecto da CP é uma autêntica prenda, sobretudo em ano de eleições autárquicas, porque vai ajudar a dinamizar o turismo na região. Mas Manuel Queiró, presidente da empresa, diz que esta está aberta a parcerias com autarquias, regiões de turismo, agentes de viagens e outras entidades.
A CP teve em conta que a única linha de via estreita do país onde este comboio pode circular fica próxima de Coimbra, Aveiro e Porto, numa zona litoral e de forte densidade demográfica. E, ao contrário do Douro, é também mais acessível para quem vem de Lisboa, prevendo a transportadora ferroviário oferecer pacotes que incluem a viagem em Intercidades ou Alfa Pendular até Aveiro mais o passeio no comboio histórico.
Viagens de escolas, passeios seniores, grupos de turistas e passeantes ocasionais são os segmentos de mercado alvo para este projecto.
Curiosamente, em 2011, tanto a linha como o comboio estiveram prestes a desaparecer. A linha do Vouga chegou a ter o seu encerramento anunciado pelo então secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, no âmbito do PET (Plano Estratégico dos Transportes) e, na mesma altura, o comboio chegou a ser colocado à venda pela CP que o ofereceu a museus ferroviários estrangeiros.
Manuel Queiró disse ao PÚBLICO que “em 2013 esta administração anunciou pela primeira vez que uma das medidas de revitalização da linha do Vouga e alternativa ao seu encerramento passaria pelo turismo e pela utilização do comboio histórico de via estreita”. Uma promessa que o presidente da empresa espera agora poder cumprir já no próximo Verão.