Surto de tuberculose em colégio de ensino especial em Azeitão
Há seis casos confirmado e dezenas de pessoas em tratamento para não desenvolver a doença. Direcção-Geral da Saúde garante que não é necessário fechar o estabelecimento.
Um surto de tuberculose está a afectar um colégio de ensino especial em Azeitão, no concelho de Setúbal, frequentado por cerca de duas centenas de crianças e jovens, entre os nove e os 30 anos, e onde trabalham cerca de 50 funcionários. A informação foi confirmada ao PÚBLICO pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). Há seis casos de tuberculose confirmados, com o primeiro a ter sido detectado num aluno da instituição. E há ainda “dezenas” de outras pessoas que transportam a bactéria e estão em tratamento.
A pneumologista Raquel Duarte, do Programa Nacional para a Tuberculose da Direcção-Geral da Saúde, explica que é preciso distinguir entre “tuberculose activa” e “tuberculose latente”, sendo que só nos casos activos é que a doença já se desenvolveu. É nesta última situação que se encontram seis pessoas do Externato Rumo ao Sucesso.
Nas outras “dezenas” que estão a fazer tratamento os rastreios detectaram a infecção, ou seja, elas tiveram contacto com um doente e transportam a bactéria Mycobacterium tuberculosis, mas não desenvolveram a doença, conhecida por afectar os pulmões — e não só. “Essas pessoas estão a fazer tratamento preventivo para que não venham a desenvolver tuberculose activa”, acrescenta Raquel Duarte.
No entanto, “sendo o colégio um espaço fechado, o nível de transmissão é alto” e a especialista da DGS admite “a possibilidade, ainda que muito baixa”, de ainda virem a confirmar mais casos de tuberculose activa. Nestes surtos, o que as autoridades de saúde fazem é começar por tentar identificar o chamado “caso-índice” — o primeiro doente, neste caso, um aluno. Depois, vão trabalhando por círculos, tentando identificar todas as pessoas que tiveram contacto com ele, para serem rastreadas.
À medida que encontram mais casos, vão alargando os círculos, mas a pneumologista lembra que, à medida que o contacto é mais afastado, “a probabilidade de ter tuberculose” também desce.
Uma fonte próxima do caso disse ao PÚBLICO que a infecção foi detectada em 42 pessoas, de 80 já avaliadas. Na esmagadora maioria das situações trata-se de infecções latentes, como diz a DGS.
Já a fonte que pediu para não ser identificada diz ainda que, dos 42 infectados, quatro alunos foram internados (a DGS não confirma esta informação), sendo que um deles já teve alta. Os restantes 38 estão em tratamento, a ser medicados, mas continuam no colégio.
Os doentes terão sido internados no Serviço de Pneumologia do Hospital de S. Bernardo, do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS), com excepção de um, transferido para o Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar Lisboa Central, por falta de vaga na unidade de Setúbal.
Os rastreios continuam a decorrer, ao que o PÚBLICO apurou, a um ritmo pouco superior a uma dezena de pessoas por dia, pelo que o processo deverá arrastar-se durante semanas. Ao todo, são cerca de 250 pessoas, entre alunos e funcionários do colégio, tendo, até à data, sido rastreadas pouco mais de uma centena, 80 dos quais com avaliação concluída. Nos últimos dois dias foram rastreados mais cerca de 25 alunos. Os resultados não são ainda conhecidos.
Não deve fechar
A suspeita de tuberculose no Externato Rumo ao Sucesso tinha sido já noticiada pelo Correio da Manhã, há duas semanas, mas como não passando de um susto e como uma situação controlada. Os rastreios estão a ser feitos pelo Centro de Saúde de S. Sebastião, no Vale de Cobro, em Setúbal. Nesta quinta-feira, o externato continuava de portas abertas e a ser frequentado por alunos e colaboradores.
O Externato Rumo ao Sucesso acolhe crianças e jovens com necessidades educativas especiais e é tutelado pelo Ministério da Educação, em parceria com diversos serviços da Segurança Social. Tem alunos em regime interno, que dormem na instituição, e em regime externo, que regressam a casa ao final do dia.
Questionada sobre se a instituição devia fechar temporariamente, Raquel Duarte explica que “esse não é o procedimento”. Depois de identificado o primeiro doente, as autoridades de saúde fizeram inquéritos de sintomas e radiografias ao tórax de vários alunos e funcionários. “Seja pelos sintomas ou pela radiografia, é possível identificarmos os casos activos”, assegura a especialista, que diz que “o problema é que as pessoas muitas vezes desvalorizam os sintomas, mas nestes inquéritos é fácil identificá-los”. “Com isso interrompemos a cadeia de transmissão e podemos continuar a fazer rastreios para identificar os casos latentes e tratá-los para que não desenvolvam a doença, mas sem risco de transmissão a outros”, reiterou.
O PÚBLICO questionou o delegado regional de saúde de Lisboa e Vale do Tejo e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Não obteve resposta. Da parte do colégio, ninguém quis falar, apesar dos contactos efectuados ao longo do dia de quinta-feira. O Centro Hospitalar de Setúbal também não respondeu.