Oeiras quer recuperar o Clemente Vicente para o bairro ficar "um espectáculo"

O bairro situado no Dafundo tem "graves problemas estruturais" e vai ter as primeiras obras nos próximos meses. Mas a intenção da autarquia é fazer "um projecto de resolução mais profundo".

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O bairro foi construído há cerca de cem anos Nuno Ferreira Santos
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Os sinais de degradação exterior são evidentes Nuno Ferreira Santos
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O bairro fica junto à Marginal, com vista para o mar Nuno Ferreira Santos

Juntam-se três pessoas ao pé de uma porta e, de súbito, põem-se a fantasiar com a morte de uma vizinha. A própria participa na conversa, dá dicas, explica que quer ser cremada e, se morrer longe de casa, que a tragam no lugar do morto de um carro para poupar no serviço funerário.

Um debate animado com vista para o mar, ali à mão de semear, logo depois da linha de comboio. Riem-se as três vizinhas, Mónica usa esta conversa como exemplo. “Isto aqui é o céu! Não temos aqui problemas com nada, nem de vizinhança, nem com a polícia. Nada.” O céu, pelos vistos, fica no Dafundo. No Bairro Clemente Vicente, três blocos de edifícios quase centenários situados junto à Marginal, primeira linha de mar do concelho de Oeiras.

O bairro, de paredes brancas já acinzentadas e escadarias metálicas com ar pouco convidativo, tem “graves problemas estruturais”, diz a Câmara Municipal de Oeiras com base num relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) elaborado no ano passado. A autarquia decidiu, por isso, avançar com obras urgentes nos alicerces dos prédios, onde moram 384 pessoas.

O trabalho de escoramento das caves “demorará 60 dias”, explica a câmara ao PÚBLICO através do gabinete de comunicação. O investimento é, para já, de 140 mil euros. Para mais tarde fica “um projecto de resolução mais profundo para reabilitar os edifícios um a um”, disse o presidente do município, Paulo Vistas, na terça-feira, aquando de uma conversa com os moradores.

Essa intenção parece estar a ser bem recebida no bairro. “Isto depois de arranjado vai ficar um espectáculo”, comenta uma das vizinhas de Mónica. No ano passado, os serviços da câmara ainda ponderaram demolir de vez o Clemente Vicente, mas essa opção acabou por ser afastada. “A maioria dos moradores são idosos e pessoas com baixos recursos económicos. Querem ficar nas suas casas e têm todo o direito disso, por isso nós decidimos que o melhor era a reabilitação”, disse Paulo Vistas, citado pela agência Lusa.

Os 232 fogos do bairro, 190 deles habitados, são de proprietários privados. A câmara desenhará o projecto da futura reabilitação, mas os custos da obra terão de ser suportados pelo dono de cada casa. O município “prevê apoiar” os proprietários que não tenham meios para pagar e também garante que vai ter casas para as pessoas viverem enquanto durarem os trabalhos. “As obras de reabilitação só poderão realizar-se com o realojamento dos moradores”, explica a assessoria de imprensa do município. “Considerando que esta intervenção irá ser realizada faseadamente, não se torna necessário realojar todos os moradores ao mesmo tempo.”

O relatório do LNEC que mencionou a urgência das obras sublinhava aquilo de que os habitantes também se queixam mais: o estado de degradação dos pavimentos de madeira. Em muitas casas, relatam Mónica e vizinhos, fizeram-se obras nos últimos anos. “Ficam bonitinhas. Mas por baixo o chão está todo podre e a ficar rombo…”

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