"Agradecia que não menosprezassem a minha ansiedade"
Durante a época de exames do ensino secundário, que se inicia nesta segunda-feira, dois alunos do 12.º ano vão relatar no PÚBLICO como são estes dias de provas. Hoje, Leonor Prisca diz-nos como se preparou.
Já tentei estudar no quarto à secretária, mas o frenético bater de joelhos de quem anda nervoso deixa mazelas. Já experimentei o chão, mas parece-me que pernas-à-chinês deixam uma terrível dor de costas. Já caí, até, na estupidez da casa dos amigos onde o dia do exame parece estar tão longe que deixamos que as horas se percam em desabafos do “queria era ver esses tipos do ministério a fazer exames!”
Vivo num décimo quinto andar de um prédio por onde passam muitos aviões. A mesa da sala está virada para a janela e vejo-os descolar e aterrar desejando com todas as forças estar dentro de um deles. Estar fora daqui.
Não sei se estarei mais exausta do estudo em si ou das frases motivacionais dos professores, pais e amigos “falta só um bocadinho” ou “depois vamos ter um Verão incrível”. Agradecia que não menosprezassem a minha ansiedade e esforço. De que é que me serve um Verão incrível depois de um chumbo nos exames?
Estou no curso de Humanidades, mas vou tentar expressar-me matematicamente. Se os exames contam 30% da minha nota final, então sabendo que essa mesma nota é constituída por 3 anos em que cada um tem um peso igual de 33,3%, o exame corresponde a um ano de avaliação contínua. Ainda mais, na entrada para a faculdade, supondo que essa me pede 50% da média e 50% de dois exames, então o exame vai estar a influenciar duplamente a minha entrada, não só já entrou na média como ainda contará 50% da minha admissão.
Posto isto, não vou adotar uma perspetiva contrária aos exames, uma vez que creio que sejam a forma de avaliação nacional mais homogénea, mesmo contando com a subjetividade do corretor. A minha questão passa por tentar entender porque é que se o exame conta como um ano de avaliação contínua, como será possível estudar para o mesmo em 10/15 dias?
Estou a estudar para os exames desde o inicio do ano, porém continuei a ter de estudar para os testes que nem são de disciplinas prioritárias, mas para as quais canalizei o meu esforço com o intuito de alcançar resultados que me satisfizessem. O 12.º ano conta com tardes livres todos os dias, mas pergunto-vos qual é a prioridade: tirar uma boa nota no teste de quarta-feira ou estudar para o exame de Português que é apenas em junho?
De todas as vezes que estive nervosa para um teste o meu pai sempre me disse “eu faço testes todos os dias”. Talvez se os exames não detivessem tanto peso no nosso futuro, ou se não fossem algo tão assustador por exigir um estudo absurdamente completo, os resultados fossem melhores ou o nervosismo inferior.
Tenho andado a preparar-me para as primeiras duas horas e meia decisivas em relação ao meu futuro universitário. Espero que todos os astros estejam alinhados, que o despertador toque, que o autocarro não se atrase, que a tinta da caneta não falte, que consiga acertar o cabeçalho à primeira e que não fique sentada perto de alguém com alergias para não me desconcentrar com o desconcertante fungar.
Boa sorte para as vossas duas horas e meia de segunda-feira, quer sejam essas a dormir, a ir para o trabalho, ou, como eu, a traçar o vosso futuro.