Exames para quê?
É perfeitamente plausível que os estudantes do 11º e 12º anos apostem mais veementemente nas provas específicas para o acesso ao ensino superior, descurando, claro, outras matérias e disciplinas.
Os exames existem e vão continuar a existir, mas talvez tenha chegado o momento de encarar as provas nacionais de um outro prisma. Os exames nacionais no ensino secundário podem ser algo mais do que uma chancela de curso concluído — regra em todos os países europeus — e cartão de embarque para o ensino superior. Estas provas podem ser encaradas como um “afunilamento do currículo”, como diz Domingos Fernandes, catedrático no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Porquê? Esse “afunilamento” pode ser uma desvantagem de todo o processo de exames nacionais, na medida em que as provas de final de ano conduzem alunos e professores a concentrarem-se, sobretudo, nas matérias mais previsíveis dos exames, descurando um outro tipo de aprendizagem e de acumulação de conhecimentos.
É perfeitamente plausível que os estudantes do 11º e 12º anos apostem mais veementemente nas provas específicas para o acesso ao ensino superior, descurando, claro, outras matérias e disciplinas. Que ninguém tenha dúvidas: estas são as principais preocupações dos mais de 161 mil alunos do 11.º e 12.º anos que esta segunda-feira iniciam uma semana de exames finais do ensino secundário.
Nas últimas décadas, o paradigma da memorização do curso do Zambeze ou do Tâmega foi substituído por uma maior aposta na compreensão dos conteúdos dos programas, algo que os especialistas recomendam que seja reforçado nas provas dos próximos anos. Na prática, trata-se de privilegiar a correlação de matérias e de conhecimentos numa perspectiva multidisciplinar, que poderá gerar um efeito inverso ao do actual “afulinamento curricular”.
O que isso implica é uma flexibilização curricular — e pedagógica, porque também é disso que se trata — mais centrada nas competências que um aluno deve reunir ao longo de um percurso. O novo Perfil do Aluno à saída da escola secundária é a ideia-base da experiência-piloto de flexibilização pedagógica que vai ser testada a parir do próximo ano lectivo em algumas escolas e que poderá estar na origem de futuras alterações na filosofia dos exames nacionais. E aí talvez faça sentido que os exames finais se preocupem mais em avaliar os conhecimentos reunidos no secundário do que em ser a antecâmara da universidade e politécnicos, cabendo a estes últimos a tarefa de seleccionarem os candidatos.