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Albinismo: crianças vítimas de bruxaria recebem novas próteses
Na Tanzânia, existe a crença de que pessoas com albinismo são "fantasmas que trazem má sorte"; paradoxalmente, há, no mesmo país, quem venda partes dos seus corpos como amuletos de boa sorte - estes são utilizados sobretudo em rituais de bruxaria e são vendidos por quantias elevadas. Dedos, braços, dentes e língua tornam-se amuletos mais valiosos e poderosos "se as vítimas gritarem durante a amputação", escreve a Reuters, citando um relatório de 2013 das Nações Unidas. Apesar da proibição do tráfico de membros amputados imposta pelo governo da Tanzânia, o problema persiste. Graças ao apoio financeiro da Glocal Medical Relief Fund, quatro crianças tanzanianas vítimas destes ataques — de sete, 14, 15 e 16 anos de idade — foram recebidas pelo Hospital Pediátrico Shriners, em Filadélia, nos Estados Unidos, com o objectivo de lhes serem aplicadas próteses de membros superiores. "O facto de estarem aqui significa que já perderam muito", disse Elissa Montanti, fundadora da organização que apoia crianças vítimas de conflitos ou desastres. "Perderam parte da sua infância, da sua dignidade. Nós tentamos fortalecê-los. Quando voltam, estão mais seguros de si, empoderados." Quando crescer, Emmanuel Rutema, de 15 anos, quer ser médico; Mwigulu Magesaa deseja um dia chegar a presidente da Tanzânia. "Se alguém faz algo como arrancar uma parte do corpo de uma pessoa com albinismo ou mata uma pessoa com albinismo, deve ser sentenciado à morte no mesmo dia", disse, à agência noticiosa, em swahili. E continuou, num tom mais forte: "Por enforcamento". O Dr. Scott Kozin explicou à Reuters que os quatro rapazes são extremamente tímidos. "Não estávamos habituados a eles e eles não estavam habituados a nós e isso deu origem a muitos momentos embaraçosos. Mas quando começámos a conhecer-nos melhor, eles começaram a abrir-se para mim, para o staff e para os terapeutas." As crianças são capazes, sozinhas, de colocar e ajustar as suas próteses e de utilizá-las no cumprimento de tarefas tão complexas como lavar roupa à mão e colocá-la a secar ou cozinhar o jantar. No final da sua estadia, "saíram do hospital confiantes", garantiu o médico, "usando óculos de sol, de camisas, como se estivessem em casa". O albinismo é um distúrbio genética que afecta uma em cada 1.400 pessoas, na Tanzânia. A organização das Nações Unidas estima que 75 indivíduos albinos morreram entre os anos 2000 e 2015, mas que é impossível aferir com rigor "uma vez que a maioria dos ataques ocorre durante rituais secretos em zonas rurais" do país.