Cartas ao director
A CNB morreu! Viva a CNB!
Portugal está prestes a perder a única companhia de Dança Clássica profissional que possui!Sim! A Companhia Nacional de Bailado está prestes a transformar-se em mais uma companhia de dança contemporânea, passando a ter apenas um programa por ano de dança clássica.
Esta transformação está a ser levada a cabo de forma dissimulada pelo próprio director artístico da Companhia Nacional de Bailado, o coreógrafo Paulo Ribeiro. O mesmo Paulo Ribeiro que acabou com o Ballet Gulbenkian! O mesmo Paulo Ribeiro que tem a sua companhia de dança contemporânea: a Companhia Paulo Ribeiro.
Não deixa de ser estranho que um coreógrafo com toda a sua carreira virada para a Dança Contemporânea tenha ido dirigir uma companhia de Dança Clássica! Estaremos mais uma vez perante um caso de “a job for the boy”?
Tenho ouvido queixas de que Paulo Ribeiro tem tido uma postura pouco dialogante, como se a CNB fosse propriedade sua e são vários os bailarinos que o acusam de prepotência. A Companhia Nacional de Bailado é um serviço público cultural pago pelo contribuinte!
No tempo em que Luísa Taveira era directora da CNB havia um diálogo com os bailarinos, a directora explicava porque é que não podia fazer isto ou aquilo, ou porque é que o programa tinha que ser elaborado de determinada forma.
Esta transformação começou quando foi retirada a informação da página da CNB sobre os bailarinos da Companhia. Uma pequena alteração que passou despercebida. Passo seguinte: não foram renovados os contratos dos bailarinos que ainda não eram efectivos e que por acaso passariam agora a sê-lo!
O próximo passo muito provavelmente (só pode mesmo ser!) será contratar novos bailarinos e uma vez que a CNB passará a ser essencialmente uma companhia de dança contemporânea, muito provavelmente serão bailarinos de dança contemporânea e… Lembram-se que Paulo Ribeiro tem uma companhia própria?
E o ministro da Cultura não faz nada? Será que o Sr. Ministro da Cultura está informado desta mudança de rumo da CNB? Se não está, é grave! Será que que o ministro da Cultura não se importa que Portugal perca a única companhia profissional de Bailado Clássico? Também é grave!
Será que não há aqui um conflito de interesses, tendo o director Paulo Ribeiro a sua própria companhia? Há de certeza e de forma descarada! Aliás, “à mulher de César não basta ser séria. Tem que parecê-lo”. E entretanto, de uma forma leviana e apenas pela vontade de uma única pessoa, o futuro, o emprego, a vida de diversos bailarinos é hipotecado e a já nossa pouca cultura clássica ainda vai ficar mais reduzida!
Um amante da Cultura entristecido,
Manuel de Sousa Coelho