Afinal o design está (mesmo) a apoderar-se da engenharia!

Os objectos têm cada vez mais uma dimensão tecnológica. E é esta dimensão que marca a diferença entre o objecto finito e o objecto ilimitado.

Estamos em pleno momento de viragem, mais um digo eu: há que (voltar a) reequacionar o papel design na sociedade. Vejamos, os produtos estão melhores que nunca, as interfaces são cada vez mais intuitivas e as empresas começam a dar peso às competências dos designers. Mas... o papel do designer está a mudar, outra vez. E em muito devido ao espaço que ocupa no mundo tecnológico e claro, ao espaço que o mundo tecnológico ganhou ao mundo do artefacto.

Os objectos têm cada vez mais uma dimensão tecnológica. E é esta dimensão que marca a diferença entre o objecto finito e o objecto ilimitado. O objecto finito esgota-se em si próprio. Tem um fim definido à nascença. Uma cadeira, uma bicicleta, um esquentador. Um objecto ilimitado permite um sem fim de utilizações e adaptações tecnológicas.

Os objectos farão sempre parte do nosso dia-a-dia, finitos ou ilimitados, estarão sempre presentes. Mas o mundo, o futuro, o nosso quotidiano é cada vez mais dos objectos ilimitados. Objectos definidos por uma nova estirpe de criadores, os designers computacionais. John Maeda faz a distinção clara entre o designer "clássico", ou seja, o criador de objectos finitos para um grupo muito selectivo de pessoas (designer gráfico, designer industrial, designer de móveis) e designer "computacional", que lida principalmente com o código e desenvolve uma evolução constante de produtos que afectam a vida de milhões de pessoas. E eu acrescentaria, que para além de afectar a vida de milhões, o mesmo objecto pode ser personalizável. Pode ter uma dimensão pessoal, subjectiva, mutável e até emocional ou afectiva, que é ajustada por cada um de nós.

Esta nova estirpe vive numa espécie de purgatório, não são engenheiros nem designers, não são designers tradicionais nem engenheiros quadrados. São aquilo que são. São sim, híbridos muito apetecíveis para novos negócios, novas tecnológicas onde a inovação é a primeira palavra nos seus vocabulários. São apetecíveis para os novos empregos, os tais que ainda não existem, mas vão existir. E é aí nesse seu purgatório, nessa orla que projectam os seus novos objectos. Os nossos novos objectos.

O papel do design neste mundo está em constante mutação, em constante reinvenção. Maeda no seu relatório de 2017 arrisca que os designers mais bem-sucedidos serão aqueles que vão trabalhar com “materiais” intangíveis – código, palavras e voz. Veja-se o exemplo dos assistentes pessoais da Amazon, o Echo, ou recentemente lançado assistente da Apple, o Apple Home.

Se eu há uns textos atrás afirmava “devolvam o design aos designers”, hoje atrevo-me a pedir aos designers que, "por favor, invadam a engenharia”!

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