Muitos alunos deixam de ter contacto com as ciências no secundário
Estudo da Eurydice mostra que em Portugal tempo dedicado às ciências naturais varia muito nos cursos do secundário. Muito alunos não têm sequer contacto com elas. Já no 3.º ciclo, o país é dos que mais apostam nesta área.
Portugal é dos países da Europa que mais tempo dedicam às ciências naturais no 3.º ciclo de escolaridade (que corresponde aos 7.º, 8.º e 9.º anos). Segundo um estudo da rede europeia Eurydice sobre os tempos de ensino na escolaridade obrigatória, divulgado nesta quinta-feira, as ciências ocupam entre 8% e 21% do currículo, conforme os países. A Estónia é o país onde o peso é maior. Logo a seguir, com 18%, surge Portugal.
Chegados ao secundário, Portugal e a Noruega são aqueles onde no secundário existe uma maior diferença entre alunos no que respeita ao estudo de ciências naturais, como Biologia e Geologia. Por cá, um quarto dos estudantes dizem que têm sete horas ou mais, mas outros tantos afirmam não ter nenhuma.
Esta disparidade tem a ver com as características dos cursos escolhidos pelos alunos. Em três dos quatro cursos que, em Portugal, existem à escolha, no secundário, não há "cadeiras" de ciências naturais. Nos restantes países, a diferença das horas dedicadas a esta área entre cursos é menor.
Já no 4.º ano de escolaridade a maior parte dos estudantes portugueses tem mais tempo de ciências (Estudo do Meio) do que aquele que se encontra estipulado na respectiva matriz curricular (mínimo de três horas por semana). Na maior parte dos países este tempo é de duas horas ou menos por semana, lê-se no relatório da rede Eurydice, que abrange 48 países e recupera dados do inquérito a professores feito no âmbito do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), um estudo internacional que avalia regularmente os alunos daquele nível de ensino.
No último TIMSS, realizado em 2015, os alunos portugueses do 4.º ano ficaram acima da média dos 47 países participantes, mas por comparação à edição anterior, de 2011, o seu resultado a ciências desceu 14 pontos. O secretário de Estado da Educação, João Costa, atribuiu esta quebra à aposta no Português e na Matemática feira pelo anterior ministro Nuno Crato. Em Matemática, no TIMSS de 2015 os alunos portugueses conseguiram ultrapassar os finlandeses.
Já no PISA (Programme for International Student Assessment), também realizado em 2015, a prestação dos alunos portugueses a Ciências subiu oito pontos por comparação à última edição de 2015. O PISA visa avaliar a literacia dos alunos de 15 anos a Matemática, Ciências e Leitura. Os estudantes portugueses ficaram, pela primeira vez, acima da média nos três domínios.
O estudo relativo ao presente ano lectivo da rede Eurydice confirma também que Portugal é o país europeu com mais tempo de ensino dedicado à Matemática no 1.º ciclo de escolaridade: 26%, o que em horas representa 1310. A Dinamarca é o país onde a proporção de tempo dedicada à Matemática neste nível de ensino é menor: 14%.
A leitura, escrita e literatura é o domínio com mais tempo em todos os níveis de ensino, sendo “especialmente dominante” no 1.º ciclo. Em média representa 26% do currículo, que é também valor registado em Portugal.
O número de anos de educação obrigatória na Europa varia entre os oito (na maior parte dos países) e os 12, situação em que se encontra Portugal, o Reino Unido, a Macedónia e a Turquia.