“Temos que fazer coisas com personalidade e acreditar nelas”
Presente pela primeira vez no Vinhos de Portugal, Dirk Niepoort quer convencer os brasileiros a beber mais vinho branco.
No passado, os portugueses “maltrataram um bocadinho o Brasil, não o levaram a sério”. Estamos a falar de vinho e quem tem esta opinião é Dirk Niepoort, um dos produtores de vinho portugueses mais conhecido (e reconhecido) internacionalmente. “Tínhamos talvez uma atitude arrogante”, diz, referindo-se à fraca qualidade de muitos dos vinhos que eram enviados para o Brasil.
Hoje já não é assim. E a prova disso é a presença de sete dezenas de produtores portugueses no Vinhos de Portugal no Brasil (2 a 4 de Junho no Rio de Janeiro, 9 a 11 em São Paulo), entre os quais o próprio Dirk, que veio pela primeira vez (no Rio o evento vai já na quarta edição).
É o momento de aproveitar o facto de historicamente o vinho português, mal ou bem, sempre ter estado presente no Brasil e, acima de tudo, de apostar na diferença. “Sempre achei que tínhamos que fazer o nosso vinho, com as nossas castas, mesmo que os nomes delas parecessem feios aos ingleses”, afirma Dirk. “Temos que fazer coisas com personalidade e acreditar nelas e depois dizer aos clientes ‘prova, isto é diferente mas é bom’. E fazer isso dá muito trabalho.”
Portugal “tem uma coisa que quase nenhum país tem hoje em dia: tradições, história, vinhas velhas, castas velhas, maneiras muito personalizadas de fazer vinho”. Dá como exemplo a Bairrada. “Uma região difícil, de que muita gente fala mal, mas há dois ou três por cento dos vinhos feitos na Bairrada que são únicos no mundo. Podemos fazer isso. Na Califórnia não podem e na Europa são poucos os que podem fazer vinhos desse calibre.”
Um dos objectivos de Dirk no Brasil é convencer as pessoas a beberem mais vinho branco. “Uma vez, numa prova, servimos tinto com ceviche e branco com a carne. Foi giro, usei o argumento de o tinto ser muito elegante, pus as pessoas nervosas, disse que ia mudar a vida de toda a gente e todos adoraram o branco.” Convencer os brasileiros a isso pode ser um processo que demore algum tempo, mas Dirk é peremptório: “Meti na cabeça que vou mudar isso”.
Quanto ao vinho do Porto – de que a Niepoort é um dos produtores de referência – Dirk defende que o sector “devia deixar de entrar em pânico” e evitar “fazer guerras de preços para se salvar”. A sua estratégia é outra e passa por olhar de forma integrada para o Douro e o vinho do Porto. “Não podemos ficar dependentes dos supermercados. Por isso, devíamos fechar um bocadinho as portas e obrigar os preços subir.”
O que se perderia aí poderia ser compensado com uma subida de preços dos vinhos correntes. “Devíamos apoiar os ‘vinhos de garagem’, pequenos produtores, mostrar ao mundo que o Douro tem um potencial muito grande, levar as pessoas a Portugal e tratá-las bem, com um turismo de qualidade que não precisa de ser só 5 estrelas.”
Mas, acima de tudo, é preciso “não vender [o vinho do Porto] ao desbarato” e evitar “cometer o mesmo erro que os espanhóis cometeram com o xerez, que foi o de banalizarem o produto”.