Como se faz para vender vinho português em São Paulo?

No Rio de Janeiro, o Vinhos de Portugal vai no quarto ano. Em São Paulo está a estrear agora. Quais são as estratégias dos produtores para conquistar o maior mercado do Brasil?

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Quando se trata de vender o vinho português, São Paulo é um mercado muito diferente do do Rio de Janeiro? Os produtores com que o PÚBLICO conversou – e que estão entre os 66 que, a partir de sexta-feira e até domingo, participam na estreia em São Paulo do Vinhos de Portugal no Brasil, que no Rio já teve quatro edições – não têm dúvidas: sim, os paulistas são um público diferente.

Mesmo sendo ligeiramente inferior ao dos produtores (nesse caso 72) que estiveram presentes, entre os dias 2 e 4 no Rio, no evento (que é organizado pelos jornais PÚBLICO, de Portugal, e O Globo, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal), o número é considerado muito bom pela organização – 66 foi, aliás, o número de produtores da primeira edição no Rio, há quatro anos.

Prontos para aterrar em São Paulo, alguns desses produtores, com quem já tínhamos falado para o balanço do evento no Rio, explicaram que farão agora pequenos ajustes na estratégia de apresentação dos seus vinhos. “Em São Paulo vou ser um pouco mais elitista e apostar nos vinhos de gama mais alta”, diz Domingos Alves de Sousa, produtor do Douro.

É uma cidade mais difícil, onde “a penetração dos vinhos portugueses não é tão boa” e onde “tudo se dilui mais, porque é mais frenético. Mas, por outro lado, “é o maior mercado do Brasil e tem dos melhores restaurantes do mundo”. Além disso, acrescenta, “os sommeliers brasileiros são muito bem preparados e nos bons sítios os vinhos são muito bem tratados.”

Para Carlos Moura, da Lusovini, “a principal diferença prende-se com a identidade cultural de cada uma das cidades, o Rio, com muita influência portuguesa, São Paulo com maior influência italiana”. Sendo mais cosmopolita, São Paulo “tem uma oferta enorme de vinhos de outros países”, por isso o desafio para Portugal é maior. É importante que os produtores estejam preparados para um público que “é mais esclarecido”.

Marta Galamba, da Casa Agrícola Alexandre Relvas, preparou-se para isso: “Temos sempre que dar muita cor e alegria quando falamos dos vinhos. Mas em São Paulo vou ter uma abordagem um pouco mais séria no início e depois descontraída no final das conversas”. Isto porque considera fundamental “passar uma imagem de seriedade e profissionalismo” logo nas primeiras impressões.

Até porque, acredita Juliana Kelman, brasileira que lançou um projecto de vinhos no Dão, em São Paulo “vai haver ainda mais público profissional”. O evento “é uma novidade para a cidade, por isso será mais procurado por profissionais que procuram fazer negócios.” Tal como Domingos Alves de Sousa, Juliana está convencida de que os vinhos de gamas mais altas despertarão mais interesse junto dos paulistas.

Estes conhecem bem os vinhos franceses, explica Luís Pato, produtor que há muitas décadas acompanha a evolução do mercado brasileiro. “Vamos encontrar em São Paulo muita gente com mais conhecimento do vinho em geral e com capacidade aquisitiva e precisamos de mostrar as nossas diferenças em relação dos vinhos franceses ou italianos, mostrar que Portugal é tão bom como os outros, mas diferente.”

Carlos Moura acha precisamente que, mais do que falar das diferentes regiões, a mensagem que tem que se fazer passar é a de que Portugal é um país produtor de vinhos de grande qualidade. “Enfrentamos aqui uma predominância muito grande dos vinhos chilenos e no Chile só muito recentemente se começou a falar de zonas diferentes, os vales, etc. Nós temos sobretudo que afirmar a marca Portugal.”

Em São Paulo, o Vinhos de Portugal no Brasil instala-se durante três dias no centro comercial JK Iguatemi e seguirá um modelo semelhante ao do Rio mas com algumas novidades. Para além das provas especiais com o Master of Wine brasileiro Dirceu Vianna Júnior, com temas como Grandes Produtores, Safras Históricas ou Castas Raras e Autênticas de Portugal, haverá a participação do crítico do Valor Económico (jornal financeiro que pertence ao grupo InfoGlobo), Jorge Lucki, que falará, por exemplo, de Regiões e Suas Castas Emblemáticas ou Grandes Tintos de Vinhas Velhas.

No espaço de conversas informais Tomar um Copo, haverá algumas curiosidades: um “bate-papo” sobre Camões com a cantora e compositora Adriana Calcanhotto e o director da biblioteca da Universidade de Coimbra, José Bernardes; e outro entre o cartoonista Luís Afonso e o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Manuel Cabral, no qual Luís Afonso irá mostrar os desenhos que fez com personagens da história do Douro.

Na área de convivência, para além da loja onde se podem comprar os vinhos que os produtores estão a apresentar no mercado, estarão ainda presentes duas padarias: Benjamin, a Padaria, e a Padaria da Esquina, do chef português Vítor Sobral, que foi eleita pela revista Veja como a melhor padaria de São Paulo.

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