Reunião com banqueiro próximo do Kremlin aperta cerco a Kushner

O genro do Presidente dos EUA tornou-se no mais recente – e mais poderoso – alvo do escândalo das ligações entre a campanha de Trump e o Governo russo.

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Jared Kushner no Muro das Lamentações, em Jerusalém, quando acompanhou Trump na viagem ao Médio Oriente Jonathan Ernst/REUTERS

Na carreira empresarial de Donald Trump, a família ocupou sempre um lugar de destaque e nem o facto de ter sido eleito Presidente dos EUA mudou essa regra. Mas o envolvimento cada vez mais profundo do seu genro, Jared Kushner, no caso das relações perigosas entre a Casa Branca e a Rússia aumenta a pressão para Trump retirar confiança a um dos seus braços direitos.

O New York Times revelou que, em Dezembro, Kushner se reuniu com um banqueiro russo muito próximo do Kremlin, e cujo banco é actualmente visado por sanções dos EUA. O objectivo do encontro terá sido o de discutir a possibilidade de abrir um canal de comunicação entre a equipa de transição presidencial e o Governo russo.

Em Março, Serguei Gorkov tinha esclarecido que a reunião com Kushner decorreu no âmbito de vários outros encontros com empresários norte-americanos e que o genro de Trump se apresentou como “presidente das Kushner Companies”. O empresário casado com a filha mais velha de Trump, Ivanka, seria, semanas mais tarde, nomeado conselheiro presidencial, com acesso máximo a informações confidenciais e com uma vasta área de actuação, sobretudo no âmbito da política externa.

As ligações do Vnesheconombank ao Kremlin são muitas. A instituição financiou grandes projectos públicos, como a organização dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi, e o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, preside ao comité de supervisores do banco. Segundo o NYT, o Vnesheconombank também chegou a ser usado para colocar pelo menos um espião russo nos EUA, que se fazia passar por funcionário. O próprio Gorkov é próximo dos serviços secretos russos, tendo estudado na escola dos Serviços Federais de Segurança.

Na semana passada, o Washington Post revelou que, pela mesma altura, Kushner esteve reunido com o embaixador russo nos EUA, Serguei Kisliak, com o mesmo objectivo – a abertura de um canal de comunicação entre Washington e Moscovo. O jornal diz que a reunião que Kushner manteve com Kisliak – e na qual também participou o futuro conselheiro para a Segurança Nacional, Michael Flynn, que viria a apresentar demissão em Fevereiro – era conhecida, mas que entretanto o FBI a analisou e passou a incluir o genro de Trump na lista de “pessoas de interesse” para a investigação às ligações russas.

Não é incomum que as equipas de transição de futuras administrações entrem em contacto com responsáveis estrangeiros – muitas vezes até para prepararem as primeiras visitas. O que é visto como suspeito pelos investigadores é a tentativa aparente por parte do círculo próximo de Trump em ocultar esses contactos. A isto junta-se o contexto sensível da alegada interferência russa durante as eleições presidenciais, potencialmente para aumentar as possibilidades de o republicano ser eleito.

As ligações entre a Administração Trump e vários responsáveis russos têm dominado os primeiros meses da nova presidência norte-americana. O FBI está a tentar saber se houve realmente uma tentativa por parte do Governo russo de influenciar o desfecho das presidenciais, através de contra-informação e ataques informáticos, e se agiu em conluio com responsáveis da campanha de Trump.

As novas revelações em torno de Kushner voltam a colocar pressão sobre a Administração, depois do afastamento do director do FBI, James Comey, que tinha iniciado a investigação. No domingo, a Casa Branca emitiu um comunicado em que garantia que Trump mantém “toda a confiança” no genro e o próprio Kushner já manifestou disponibilidade para testemunhar no Congresso. A defesa do conselheiro coube ao secretário do Interior, John Kelly, que elogiou a iniciativa de Kushner. “Qualquer forma de comunicar com pessoas, particularmente organizações que talvez não sejam propriamente amigáveis, é uma coisa boa”, afirmou.

A generalidade da imprensa norte-americana duvida que Trump afaste Kushner da posição que ocupa na Casa Branca – entre as suas funções está, por exemplo, a mediação diplomática do conflito israelo-palestiniano. É possível, no entanto, que o seu acesso a informações confidenciais seja limitado, caso se confirme que está realmente sob investigação.

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