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Uma hora e quarenta de palestra numa frase: "Lisboa está melhor"

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa fez um longo balanço do mandato, no qual aproveitou para mostrar obra feita. O anúncio da candidatura às autárquicas é que vai ter de esperar mais um pouco.

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Rui Gaudencio

Uma hora e quarenta a falar, mais de 50 slides, zero novidades. Nem era essa a ideia. Numa conferência que classificou como um gesto de “humildade democrática”, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa fez esta segunda-feira um balanço do mandato autárquico que está prestes a terminar, pelo que a longa palestra foi, sobretudo, uma revisão da matéria dada.

Neste caso, da obra feita. E quase nem é preciso escrever o diagnóstico que Fernando Medina faz da cidade ao fim destes quatro anos. “Lisboa está melhor, está mais inclusiva, mais preparada para vencer no futuro”, disse o autarca no fim da apresentação, garrafa de água já seca e várias clareiras na plateia do Capitólio, onde o ambiente já teve um cheirinho de pré-campanha. Além dos vereadores do executivo, acorreram à sala do Parque Mayer diversos presidentes de junta, deputados municipais, gestores de empresas municipais e figuras conhecidas do desporto, do cinema e da televisão.

Foi este variado quórum que, ainda antes do discurso de Medina, assistiu a um vídeo onde uma voz proclamou que “Lisboa acordou”, é a cidade “onde todos querem estar” e onde “a reabilitação avança a olhos vistos”. Depois, o presidente da câmara subiu ao palco em mangas de camisa e disse que, quando António Costa tomou posse, em 2013, “a cidade era muito diferente do vídeo que acabámos de ver”.

Seguiu-se um elencar pormenorizado das medidas do mandato. Sobre a economia, Medina afirmou que “vencer a crise e mobilizar a cidade” foi um “desígnio estratégico” prosseguido pelo executivo. “Que bom é poder enfrentar os desafios e as crises do crescimento”, disse, à laia de confirmação de que a aposta correu bem. O autarca falou ainda da política tributária, do pagamento quase a pronto aos fornecedores, do empreendedorismo, dos mercados e do programa Lojas com História.

O turismo também foi mencionado. “Hoje nós debatemos, e bem, os impactos, as consequências, as contradições, as perplexidades e necessidades que o rápido desenvolvimento do turismo está a criar em Lisboa”. Mas, acrescentou, este é um sector que criou 80 mil empregos e gerou 6,3 mil milhões de euros nestes quatro anos. Uma “força económica” que equivale a quatro vezes o que produz todo o sector do calçado e duas vezes e meia a AutoEuropa.

Sobre a qualidade de vida na cidade, Medina elogiou a reforma administrativa e disse que ela permitiu à câmara “concentrar-se melhor nas suas competências”. Neste âmbito, falou longamente de higiene urbana, da Polícia Municipal, dos bombeiros e do programa Uma Praça em cada Bairro, que disse ser “o mais ambicioso de transformação do espaço público”. Depois continuou, abordando o excesso de carros, a Carris, os parques dissuasores, as redes cicláveis, os espaços verdes e o Plano de Drenagem. Por fim, o autarca falou ainda dos investimentos em bairros sociais, do Programa de Renda Acessível, das novas escolas e creches, do apoio aos sem-abrigo e das infra-estruturas desportivas.

“Quisemos ser exaustivos”, disse no fim aos jornalistas. E foram. A candidatura autárquica? Fica para outro dia.

"Cuide dos nossos idosos!"

Antes da extensa prelecção de Medina, também a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa aproveitou para fazer um balanço do mandato daquele órgão. "Os deputados municipais trabalham, trabalham, trabalham", disse Helena Roseta, referindo-se às 990 reuniões de comissões e às 143 reuniões plenárias dos últimos quatro anos. Se a maioria das assembleias municipais do país "não tem iniciativa própria", a de Lisboa "está sempre a ter iniciativas", declarou Roseta, mostrando que 61% das deliberações tomadas pelo órgão a que preside são da iniciativa dos deputados e não da câmara.

A autarca destacou ainda o elevado número de relatórios produzidos pelas diferentes comissões (613), o número de intervenções de cidadãos nas reuniões plenárias (426) e as petições apresentadas e discutidas (49). Por fim, declarou que a assembleia consome apenas 0,1% do orçamento municipal. "O poder executivo tem de ser escrutinado pelo poder deliberativo", disse, apontando a falta de meios de muitas assembleias municipais como "uma fragilidade do poder local". "A democracia merece que se dê condições e meios para quem tem de escrutinar".

Antes de dar a palavra ao presidente da câmara, Helena Roseta deixou alguns desafios para o próximo mandato. "Queremos uma Lisboa aberta e cosmopolita, mas queremos uma cidade que seja capaz de preservar a sua identidade no património, na arquitectura, nos nossos valores", afirmou. Depois alertou que "esta reabilitação [urbana] tem de ser não apenas para quem tem capacidade financeira ou para quem vem de fora, tem de ser para os residentes". Roseta exortou, por isso, a câmara a "exigir ter mais recursos para poder regular um mercado [de habitação] muito injusto".

No final, a presidente da assembleia municipal lançou "um desafio muito importante": o desenvolvimento da rede de cuidados continuados e de saúde mental. "Estamos muito, muito atrasados. Temos 80 camas, precisamos de mil ou mil e tal." Dirigindo-se a Fernando Medina, pediu: "Cuide dos nossos idosos!"

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