Foram divulgados esta sexta-feira os resultados (em pdf) do Global Drug Survey (GDS) de 2017. Cerca de 120.000 pessoas em todo mundo, entre os quais 900 portugueses e portuguesas, responderam àquele que é o maior questionário online sobre padrões de consumo de drogas. Os participantes são na sua larga maioria homens com menos de 35 anos e mais de metade desta amostra afirma sair à noite com frequência.
De forma não surpreendente, os resultados para Portugal mostram que o álcool é, de longe, a substância mais consumida pelos participantes do nosso país. Mais de 14% dos indivíduos de género masculino descreve padrões considerados problemáticos de consumo de álcool segundo os parâmetros da Organização Mundial de Saúde. Este número diminui para 9,8% quando falamos das participantes de género feminino.
Em Portugal, nas últimas décadas, à semelhança do que tem vindo a acontecer em outros países do sul da Europa, há uma transformação na forma de consumir álcool nas camadas mais jovens. Falamos do Binge Drinking, ou como se designa “consumo esporádico excessivo”, que mais não é do que ingerir consideráveis quantidades de álcool em curtos espaços de tempo. A lógica é: se o tempo é escasso, vamos embebedarmo-nos rápido. As festas académicas são talvez o exemplo mais flagrante deste tipo de prática, mas obviamente estão longe de ser o único — basta andar na rua à noite num qualquer fim-de-semana! Obviamente este padrão de consumo apresenta riscos e leva vários jovens às urgências dos hospitais. No caso dos participantes portugueses do GDS, mais de 4% da amostra tinha visitado uma urgência hospitalar no último ano, devido ao consumo de álcool.
Recentemente Portugal fez alterações à lei que regula o consumo e venda de álcool no sentido de tentar minimizar estes problemas. Contudo, os consumos excessivos de álcool devem-se a uma multiplicidade de factores, a lei pode dar resposta a alguns deles, mas certamente não a todos. A par da regulamentação, é fundamental investir em educação para o consumo. Não com campanhas proibicionistas de carácter moralista, que ostracizam as pessoas que consomem álcool e/ou outras drogas, e que não consideram uma das principais motivações para consumir: o prazer! Mas antes é preciso dar às pessoas informação objectiva e científica, dotá-las de estratégias específicas que lhes permitam relacionar-se da forma mais saudável e prazerosa possível com o álcool e outras drogas. Acreditamos que só através de uma intervenção compreensiva, humanista e participativa que respeite os direitos individuais de quem consome, mas também o interesse das comunidades se poderão produzir respostas eficazes e duradouras. Numa altura em que cidades como Porto e Lisboa têm “noites” cada vez mais vibrantes e cosmopolitas, e que aos locais que saem à noite se juntam milhares de turistas, é cada vez mais importante criar respostas que procurem reduzir os riscos destes consumos mas também potenciar o seu prazer. As intervenções de cariz essencialmente horizontal, de igual para igual, em que os consumidores são envolvidos desde o início no desenho, implementação e monitorização das respostas parecem dar bons frutos.
Assim, a equipa do GDS, para além de investir em investigação, tem-se esforçado por devolver aos seus participantes o conhecimento que o questionário permite gerar de formas muito concretas, uteis e acessíveis. O GDS disponibiliza um conjunto de recursos repletos de estratégias práticas de Redução de Riscos como o GDS Highway Code e o Safer Use Limits e ainda duas aplicações digitais que oferecem diagnóstico e intervenções breves, o drinksmeter para o álcool e o drugsmeter para outras drogas. Estão ainda disponíveis vários vídeos pedagógicos no canal de YouTube. Não promovemos o consumo de álcool nem de outras drogas, mas aceitámos que ele existe e que é possível consumir melhor!