Nos EUA, os republicanos parecem ser mais susceptíveis às “notícias falsas”…
… mas as pessoas de esquerda não se devem acomodar muito.
“A desinformação é, actualmente, predominantemente uma patologia da direita”. Uma equipa de académicos da Harvard Kennedy School e da Universidade Northeastern publicou um relatório intitulado Combating Fake News: An Agenda for Research and Action (“combater as notícias falsas: uma agenda para investigação e acção”), com base na pesquisa que apresentaram numa conferência realizada em Fevereiro:
Como comunidade de investigação, identificámos três linhas de acção que podem ser adoptadas no futuro mais próximo: envolver mais os conservadores na discussão sobre a desinformação na política, colaborar de maneira mais próxima com os jornalistas para tornar a verdade mais “estridente” e desenvolver recursos partilhados, multidisciplinares e comunitários para realizar investigação académica sobre a presença e a disseminação da desinformação nas redes sociais.
Quanto à ideia de as “notícias falsas” serem um problema maior à direita do que à esquerda, o relatório cita um artigo publicado em Janeiro, no qual os professores de economia Hunt Allcott (NYU) e Matthew Gentzjow (Universidade de Stanford) revelaram que, nas eleições presidenciais de 2016, “as notícias falsas foram partilhadas a nível geral e também fortemente inclinadas a favor de Donald Trump” e que “os democratas têm, em geral, mais tendência a identificar correctamente os artigos verdadeiros e falsos”.
“Trazer mais conservadores para o processo de deliberação sobre a desinformação é um passo essencial para combater as notícias falsas e para proporcionar um tratamento científico imparcial ao tema de investigação”, escrevem os autores do Relatório Shorenstein.
Ao mesmo tempo, os autores apontam que “existem pelo menos provas incidentais de que quando os republicanos estão no poder a esquerda se torna cada vez mais susceptível à promoção e aceitação de notícias falsas. Um exemplo paradigmático é a teoria da conspiração, que foi disseminada sobretudo pela esquerda durante a Administração Bush, de que o Governo era responsável pelo 11 de Setembro. Isto sugere que podemos esperar assistir a um aumento de notícias falsas promulgadas pela esquerda nos próximos anos.” Este ponto repete-se num artigo da Nieman Reports escrito por Jestin Coler o criador (emendado?) do Denver Guardian e de outros sites de “notícias falsas”. Coler escreve:
Este não é assunto isolado à direita marginal. Os dois lados do espectro político são susceptíveis às notícias falsas, e com a mudança recente no equilíbrio de poderes vejo os liberais como alvo principal de todas as informações negativas sobre o Presidente Trump e a sua administração.
“A sua investigação é surpreendentemente pouco persuasiva.” Em separado, ouvi várias das pessoas que contribuíram com investigação para o relatório de Harvard/Northeastern falarem numa conferência sobre notícias falsas na Faculdade de Engenharia de Harvard. David Lazer, professor de Ciência Política e de Informática da Northeastern, apresentou os comentários que, enquanto professor, teria feito ao recente documento branco do Facebook sobre segurança informática, no que diz respeito à participação cívica e às notícias falsas:
Para uma empresa que vale 500 mil milhões de dólares e que tem os melhores talentos e os maiores quantidades de dados, a vossa investigação é surpreendentemente pouco persuasiva e, apesar de utilizarem a palavra transparência, na verdade não utilizam o conceito. Portanto, normalmente, eu chumbar-vos-ia – por entregarem um trabalho tão inadequado e tão tarde. Mas a democracia em todo o mundo precisa que vocês não chumbem, por isso vou dar-vos um “incompleto”.
Lazer também afirmou que está actualmente a desenvolver uma base de dados que lhe permitiria analisar as notícias falsas no Facebook sem a ajuda do Facebook. (Muitos estudos sobre as notícias falsas nas redes sociais têm-se centrado no Twitter, porque os dados do Facebook não são abertos – mas a maior parte das notícias falsas habita no Facebook e não no Twitter.)
Tradução de Rita Monteiro