Horta Osório: “dinheiro dos contribuintes não deve ser usado para resgatar bancos”
Líder do banco Lloyds, do qual o Tesouro britânico já saiu após o resgate de 2009, defende que os governos “não devem ser accionistas de bancos”.
Em entrevista à agência Bloomberg, divulgada esta quarta-feira, 16 de Maio, o presidente executivo do Lloyds Bank Group, o português António Horta Osório, defendeu que “pessoalmente”, não acha “que os governos devem ser accionistas de bancos”.
O Lloyds, como o Northern Rock e o Royal Bank of Scotland (RBS), entre outros bancos britânicos, foram intervencionados no auge da crise financeira recente, tendo o Reino Unido injectado em 2009, no total, 37 mil milhões de libras (43,28 mil milhões de euros ao câmbio actual) na banca do país.
O Tesouro manteve-se accionista de alguns bancos do país. Mas o governo britânico concluiu já a venda das últimas acções detidas na instituição liderada por Horta Osório (0,25%), foi conhecido esta quarta-feira. O Lloyds, que chegou a ser detido em 43% pelo Tesouro, passou, uma vez mais, a ser totalmente privado.
Sobre o resgate de 2009, Horta Osório defendeu: “este foi um resgate que foi solicitado não só pelo Lloyds, como pelo RSB, Northern Rock e Bradford na Bingley no pico da crise financeira”. Neste contexto, acrescentou, “o dinheiro dos contribuintes foi usado porque era uma grande crise – mas o dinheiro dos contribuintes não deve ser usado para resgatar bancos”, argumentou, já que considera que o dinheiro público “tem muito melhores destinos”.
Em balanço, “acho que o governo [britânico] fez bem em vender as suas acções”. “Utilizaram um bom plano, venderam todos os dias uma parte na negociação diária, diversificaram a sua venda durante dois anos e meio”. E, mais do que tudo, frisou, “obtiveram o seu dinheiro de volta – 20,3 mil milhões de libras – e ainda 900 milhões de libras mais do que colocaram no banco. Acho que fizeram a coisa certa”.
O gestor, que frisou que só há seis anos está na liderança da administração executiva do grupo financeiro, recordou o que encontrou. “Quando cheguei ao banco”, disse, o Lloyds “tinha 200 mil milhões de libras de activos tóxicos, da compra do HBOS, um terço do crédito registado. No outro lado da folha de balanço, também tinha 200 mil milhões de libras de dívida líquida que estava a financiar estes activos tóxicos”.
Por comparação, “hoje, seis anos depois, o banco tem zero de dívida líquida, vendemos todos os activos tóxicos, temos um rácio core Tier 1 de mais de 14%, somos o banco mais seguro no Reino Unido” e “um dos mais seguros do mundo”.
E agora?
Questionado pelo jornalista da Bloomberg se irá permanecer no cargo, agora que “o trabalho está feito” no Lloyds, Horta Osório defendeu que está “muito feliz” no banco e que há ainda muito por fazer.
A saber, segundo o próprio: “temos que finalizar a aquisição do MBA, do negócio de cartões de crédito que comprámos do Bank of America (é 11% do mercado de cartões de crédito do Reino Unido)”; “temos que continuar a digitalizar o banco” internamente, “onde há sinergias significativas"; e, finalmente, “temos que começar a preparar o nosso terceiro plano estratégico para o período de 2018- 2020” – que “começará a ser preparado em Julho e será apresentado ao mercado no início do próximo ano”.
No plano geral, concluiu, “o nosso objectivo agora, que estamos com a infra-estrutura financeira certa, é ajudar o país a prosperar. Somos o maior banco no Reino Unido, em banca de retalho e comercial, e, por isso, o que for bom para a economia é bom para o Lloyds”.