Faria de Oliveira: banca arrisca “montante astronómico” no Novo Banco

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) considera que a venda do Novo Banco ao fundo americano Lone Star faz com que o sector bancário fique “penhorado” ao Estado durante décadas.

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Faria de Oliveira critica condições de venda do Novo Banco ao Lone Star. Rui Gaudencio

Para o sector bancário, o ano de 2017 será “um ano de recuperação, apesar de algumas instituições estarem ainda em processo de reestruturação, mas em melhores condições para resolverem os seus problemas”, defendeu esta quarta-feira o presidente da APB, Fernando Faria de Oliveira, num encontro com a comunicação social. E sublinhou que o exercício anterior “foi de muito trabalho, de arrumar a casa através de reforço de capitais, de pagamento de CoCos [ajuda do Estado], de reforço de provisões e de imparidades, mas também de estabilização accionista”.

Faria de Oliveira classificou ainda a resolução do Novo Banco como muito negativa para o sector bancário, que “fica a arriscar um montante astronómico [oito mil milhões de euros que terá de ir pedir emprestado ao Estado], cerca de 5% do PIB”. Depois de evidenciar que a APB “não foi ouvida nem achada“ em nenhuma fase do processo, nem no processo de venda do Novo Banco ao Lone Star, nem quando, em 2014, a instituição foi intervencionada, concluiu: “O sector fica penhorado” ao Estado durante muitas décadas.

A queda das comissões

“Contrariamente ao que alguns têm dito, as comissões líquidas do sector caíram 12,6% de 2015 para 2016 [de 3,1 mil milhões para 2,7 mil milhões]”, defendeu Faria de Oliveira, para quem “a grande maioria dos bancos reduziu as suas comissões”. E por comissões, o ex-presidente da CGD refere-se, por exemplo, a comissões de manutenção, comissões de cartões, comissões de operações financeiras realizadas pelas instituições.

O banqueiro adiantou ainda que as comissões visam, como em qualquer actividade económica, “cobrir parte dos custos da actividade, o que é legítimo e normal”. E recorda: “O que aconteceu em Portugal foi que durante um longuíssimo período de tempo a margem financeira era suficientemente grande para permitir à banca subsidiar uma área que dava prejuízos”. Para Faria de Oliveira, “esta situação inverteu-se e agora o sistema procura que as comissões dêem um maior contributo para os resultados”.

Em 2016 a banca portuguesa apurou um prejuízo consolidado de 1,036 mil milhões de euros. Já o volume de activo total ascendeu a 386 mil milhões de euros (menos 5,3% do que em 2016), os empréstimos totalizam 237 mil milhões (3,9%) e os depósitos 246 mil milhões (3,4%). O rácio de crédito em risco em 2016 ficou em 11,8%, abaixo de 12% assumidos em 2015. O rácio de transformação depósito sobre crédito é de 96,4%.

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