“Marca Rui Moreira não é exportável” para outros concelhos

O “modelo” do presidente da Câmara?do Porto tem sido elogiado por?outros candidatos independentes.? Mas O Nosso Partido é o Porto ?não admite franchisings políticos.

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Independente Rui Moreira recandidata-se a um segundo mandato Adriano Miranda

O presidente da Câmara do Porto não permitirá que sejam apresentadas candidaturas autárquicas independente sob o seu patrocínio em nenhuma outra câmara da Área Metropolitana do Porto (AMP) ou fora dela nas eleições locais de 1 de Outubro, embora, de tempos a tempos, essa ideia seja aflorada quer no campo dos simpatizantes quer no campo dos adversários do autarca independente.

“Não há qualquer intenção, negociação, conversa ou desejo sobre essa matéria. A marca Rui Moreira não é alienável e o presidente da câmara está apenas concentrado na sua candidatura ao Porto”, disse ao PÚBLICO fonte próxima do autarca que tem estado na ordem do dia, por causa da ruptura do acordo com o PS.

A vitória alcançada por Rui Moreira no Porto em 2013 transformou-o na estrela da noite eleitoral e com o tempo tornou-se uma referência do poder local independente. E a ideia de replicar o seu modelo noutros concelhos começou a fazer o seu caminho a partir do momento em que o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, que vai candidatar-se como independente à Câmara de Coimbra, disse que queria “importar o modelo” do autarca portuense. “O Porto é um excelente exemplo e, com humildade e com muito interesse, pretendemos ouvir na primeira pessoa a experiência autárquica de Rui Moreira e aprender com ela”, declarou ao PÚBLICO o médico de Coimbra, quando convidou o presidente da segunda autarquia do país para participar numa acção da sua candidatura.

Marco Almeida, ex-candidato independente a Sintra nas últimas autárquicas e que agora se recandidata com o apoio do PSD, sempre considerou Moreira um exemplo de “coragem” e uma “inspiração”. Num debate, em Junho de 2014, o presidente da Câmara do Porto aproveitou o encontro em Sintra para dizer que chegou o momento da cidadania. Os independentes são um “suplemento da alma dos partidos”, disse na altura.

Em Outubro passado, as duas personalidades, que lideram os maiores movimentos políticos independentes, voltaram a encontrar-se, em Sintra, para uma reflexão sobre a Lei Eleitoral Autárquica, que, entretanto, sofreu alterações, na sequência de uma iniciativa do autarca do Porto junto dos líderes das bancadas parlamentares dos partidos.

O protagonismo que foi granjeando ao longo do seu primeiro mandato não o afasta do seu projecto político: a Câmara do Porto. Todavia, há quem defenda que a “marca Moreira” devia alastrar-se a outros municípios da AMP, nomeadamente a Gondomar e Valongo. Mas fonte da autarquia nega qualquer envolvimento do presidente nesse projecto, mas admite que “há um desejo de pessoas que gostariam que isso acontecesse, algumas próximas do presidente. Mas ele não”.

A mesma fonte, afasta qualquer possibilidade de, no futuro, o presidente da Câmara do Porto poder liderar um partido político, resultante dos vários movimentos independentes. “A ideia de federar os movimentos independentes nunca lhe passou pela cabeça”, assegura.

Com a inesperada ruptura entre o movimento independente de Rui Moreira e o PS, o autarca concentra-se na sua recandidatura ao Porto, afirmando que o caminho sem o apoio dos socialistas “é mais estreito”. O PS depois de ter ouvido em directo na sexta-feira à noite, na entrevista à SIC, que o independente dispensava o seu apoio — por discordar das “pressões do secretariado nacional” socialista, que acusou de querer “uma coligação informal”, de condicionar o apoio à negociação de lugares — vira-se para Manuel Pizarro. O vereador, que foi até agora o braço direito do autarca resistiu a encabeçar a lista, com o argumento de que o partido deveria continuar ao lado do candidato independente.

Sem grande margem de manobra, o PS abordou, na mesma noite, após Moreira ter recusado o apoio do partido, Júlio Magalhães, jornalista e director do Porto Canal para uma possível corrida à Câmara do Porto, na eventualidade de Manuel Pizarro insistir em apoiar a candidatura do presidente da autarquia portuense.

Sucede que a forma como Rui Moreira descartou o apoio do PS suscitou muitas críticas por parte dos militantes do partido. O deputado e presidente da primeira comissão parlamentar Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, Pedro Bacelar de Vasconcelos, não poupou o autarca independente pela prestação que teve na sexta-feira na SIC. “Aquela entrevista é um gesto de humilhação” que Rui Moreira teve para com o seu parceiro na governação da câmara, que cumpriu a sua parte do acordo com total lealdade”, declarou ao PÚBLICO.

“Há um défice de cultura democrática grande por parte da lista independente liderada por Rui Moreira”, acrescenta, elogiando “o contributo positivo que o PS deu na governação da câmara, empenhando-se em causas que são também suas”.

Por seu lado, o presidente da mesa da comissão política concelhia socialista do Porto, Alfredo Fontinha, refere que sempre se opôs ao apoio do seu partido ao independente Rui Moreira e acusa-o de ter estado “à espera de um pretexto para romper com o PS”. E recorda que por “diversas vezes Rui Moreira teve atitudes contra o Governo”.

“Em mais de 40 anos de democracia o PS nunca faltou ao Porto e agora também não vai deixar de o fazer”, afirma, acrescentando que “o eleitorado que vota no PS não estava satisfeito com o facto de o símbolo do partido não constar do boletim de voto”.

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