Eles dizem ter as armas para combater a vespa-asiática
Associação Nativa, criada este ano para combater espécies invasoras, apresentou aos dez municípios do Alto Minho uma proposta global para combater a vespa-asiática. Espécie invasora "está fora do controlo" e o plano em vigor "falhou em toda a sua linha", alerta a Quercus.
A Nativa, uma associação ambientalista vocacionada para a gestão de espécies invasoras formada no início deste ano, apresentou aos municípios do Alto Minho uma “Proposta Global de Luta Contra Vespa velutina para a época 2017-18”, baseada no ciclo de vida da vespa. O objectivo do plano, que está em fase de apreciação, é manter “num nível aceitável e a custos razoáveis” a expansão da espécie.
Atendendo à capacidade de dispersão do insecto, o vice-presidente da associação, Marco Portocarrero, avisa que para obterem resultados positivos é “necessário que o plano seja desenvolvido numa escala regional”.
O que se passa agora, explica, é que cada município age individualmente e se há alguns que se preocupam com a praga, outros nem tanto e por isso as vespas voltam a colonizar o território. “O problema foi deixar o combate nas mãos dos municípios” quando era preciso “haver uma acção coordenada e homogénea liderada pelas entidades governamentais competentes” numa área territorial vasta, diz o vice-presidente da associação.
O distrito de Viana Castelo foi o primeiro a ser visado pela associação porque, além de ser uma das áreas mais afectadas na Europa (tanto em densidade de ninhos como em percentagem de área atingida), é a área que Marco Portocarrero melhor conhece e na qual já existe “uma rede bem estruturada”, clarifica. A ideia, caso a proposta avance e dê resultados, é implantar esta linha de acção noutras zonas do país.
É por isso que a Nativa baseou a proposta nestes dez municípios onde se compromete a “tratar todos os ninhos reportados na área de intervenção pretendida, num curto prazo” (48 horas, em média), sem qualquer custo para quem denuncia a existência do vespeiro. A estratégia tem 3 partes, com o foco na prevenção.
Nesta fase, a associação propõe que as armadilhas para capturar as rainhas, semelhantes às que alguns apicultores já produzem individualmente, sejam distribuídas em grande escala e em grandes quantidades. Criadas pela Nativa, estas armadilhas são ainda mais selectivas e capturam apenas as vespas-asiáticas usando feromonas naturalmente produzidas por outras que foram capturadas e são mantidas vivas dentro da armadilha. Além do atractivo alimentar, têm entrada selectiva e saídas preparadas para insectos mais pequenos que conseguiram entrar, não provocando assim a perda de biodiversidade.
A associação está ainda a explorar outros chamarizes para capturar as rainhas fundadoras na Primavera recorrendo a plantas atractivas. O período óptimo para a colocação das armadilhas é entre Março e Junho, pelo que a associação está a tentar que a proposta seja aceite e posta em prática rapidamente.
O documento salienta ainda mais duas fases cruciais, mas cujos trabalhos ficarão facilitados caso a prevenção seja assegurada. Marco Portocarrero diz que é necessário “melhorar o registo dos ninhos existentes que são encontrados” e que para isso é urgente “sensibilizar e formar o maior número de voluntários possíveis” e “optimizar a rede de comunicação dos observadores”. A última fase é a do tratamento dos vespeiros, que pode ser executada por alguns elementos da associação que “dominam as técnicas utilizadas para tratar ninhos nas mais diversas situações” e que já começaram a desenvolver outras soluções para tornar esta tarefa mais célere.
Marco Portocarrero relata também que em certos casos “há uma tendência em transformar os ninhos em negócio”, como se vê em França onde só são tratados os ninhos que os proprietários dos terrenos pagam. Cada ninho que não é eliminado pode resultar em 100 a 400 novas rainhas que irão formar novas colónias, avisa.
O vice-presidente da Nativa realça o papel fundamental da prevenção no caso das espécies invasoras e diz que é importante, no caso da Madeira e dos Açores, implementar uma estratégia semelhante à que o Reino Unido desenvolveu no ano passado, quando os primeiros casos foram registados no país. “Como estavam preparados” reuniram-se imediatamente com os apicultores, ensinaram-nos a distinguir as vespas e “assim que as primeiras chegaram, chamaram o exército para fazer a limpeza da área e foram eliminados os ninhos”. “Nós ainda não aprendemos”, lamenta.
A Nativa “nasceu da necessidade” de lidar com as espécies invasoras a que “as entidades oficiais, por falta de meios e cortes orçamentais, não conseguem dar resposta”, conta. A ideia surgiu no ano passado e para já junta 15 membros fundadores que se interessam por várias áreas como as plantas invasoras, zonas húmidas, meio aquático e ornitologia.
Há algumas semanas a Quercus voltou a chamar a atenção para esta praga. O alerta repete-se: o plano de monotorização e combate da vespa asiática nunca foi eficaz e o resultado é a espécie invasora ter ficado completamente “fora do controlo” em Portugal, diz a Quercus. Agora é já “impossível erradicar por completo a vespa asiática”, mas é necessário reunir esforços para controlar “a evolução da situação”, diz o presidente da Associação Nacional de Conservação da Natureza.
A solução urgente? Um novo plano “energético” das entidades governamentais que não deixe de fora as Associações de Defesa do Ambiente, como o de Janeiro de 2015 fez, profetiza João Branco.
O “Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal” foi desenvolvido pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), mas João Branco diz que esta acção “falhou em toda a linha” e que os “resultados foram decepcionantes”. Agora, a associação ambientalista está preocupada com a “expansão acelerada” do insecto para áreas urbanas, situação, diz, que já pode ser testemunhada nas cidades do norte litoral do país, inclusive o Porto. Estima-se também que esta vespa provoque prejuízo aos apicultores nacionais na ordem dos 5 milhões de euros, denuncia a Quercus.
A “falta de informação” e o “alarmismo que se criou” geraram uma destruição em massa de todo o tipo de vespeiros e de insectos, o que não só ameaça a biodiversidade, como pode provocar desequilíbrios ecológicos que acabam por ajudar à expansão da vespa-asiática.
Pensa-se que a vespa-asiática terá chegado a Portugal em 2011, através de um carregamento de madeira. Em 2014 estavam registados 280 ninhos e em três anos este número subiu para os “muitos milhares” ao longo do país. A Vespa velutina nigrithorax, que estava inicialmente restrita ao Noroeste do País, começou progressivamente a colonizar território mais a Sul e já tem presença confirmada em Coimbra, Aveiro, Guarda, Leiria, Santarém e Castelo Branco. Há alguns casos pontuais no Alentejo e suspeitas, ainda não confirmadas, no Algarve.
Texto editado por Ana Fernandes