Morreu Vito Acconci, o homem que fez da masturbação arte

Vito Acconci foi um pioneiro da performance nos anos 60. Antes de se virar para a arquitectura, construiu uma obra radical à volta do seu corpo e do espaço.

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Diary of a Body, 1969-1973
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Following Piece, 1969
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Seedbed,1972
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Ilha Mur, Graz, 2003

O artista norte-americano Vito Acconci, um dos pais da performance e da video art, como lhe chama o New York Times no seu obituário, morreu aos 77 anos. O jornal lembra que este homem que era também um poeta e um arquitecto foi uma força influente da cena artística nova-iorquina durante décadas, embora as novas gerações, cujo trabalho é indirectamente devedor da sua obra pioneira, possam não ser capaz de o reconhecer.

A sua morte, confirmada pela mulher, que não adiantou a causa, deu-se na quinta-feira, mas a notícia apenas foi conhecida um dia depois.

Acconci era um radical cuja obra recua até aos anos 60 e à arte conceptual. Depois de uma formação em literatura, desiste de uma carreira de poeta com obra já publicada e decide-se pelas artes visuais quando se cruza com a pintura pop de Jasper Johns. “Fez-me reconhecer que não há uma coisa chamada ‘criação’, só organização e reorganização, desorganização”, disse numa entrevista ao The Art Newspaper em 2002.

É no final dos anos 60 que começa a explorar a sua relação com o espaço urbano numa série de performances que estão documentadas. Following Piece (1969) mostra Vito Acconci, um descendente de italianos nascido no Bronx em 1940, a seguir uma pessoa escolhida ao acaso nas ruas de Manhattan, até que a sua entrada num espaço privado põe fim à perseguição. Fê-lo durante um mês numa obra que fala de um mal-estar da sociedade norte-americana, de um presente sem direcção, como o próprio artista. De Following Piece ficaram os registos fotográficos tirados pelos amigos de que se fazia acompanhar às vezes nestas deambulações por Nova Iorque.

Nos anos que se seguiram usou várias vezes o seu corpo, explorando as questões de género, a sexualidade, mas também o lugar do exibicionismo ou da pornografia. Numa das suas performances mais famosas, Seedbed (1972), masturbava-se, oculto debaixo de uma rampa, enquanto se dirigia ao visitante entre suspitos de êxtase e fantasias obscenas numa galeria vazia em que não havia nada para ver. Acconci, um provocador, dizia que a peça estabelecia uma verdadeira relação entre espectador e artista.

Um ano antes, com Conversion, o performer tentava transformar o seu corpo masculino num corpo feminino, escondendo o pénis entre as pernas. A obra antecipa as questões transgénero que se tornaram centrais nas últimas décadas.

Muitas destas acções, caídas no esquecimento, têm sido relembradas com o regresso do interesse pela performance, nomeadamente através de uma retrospectiva que o MoMA PS1 dedicou a Vito Acconci no ano passado. Nessa altura, o New York Times fez um perfil desta figura lendária da arte americana do pós-guerra, notando que já não era objecto de uma retrospectiva nos Estados Unidos há três décadas: “O impacto genético das suas performances, fotografias e trabalhos em vídeo de um período que dura apenas oito anos – 1968 a 1976 – é tão extenso que é difícil de traçar.”

É exactamente desse ano que marca o ocaso do seu trabalho mais seminal que data a instalação que deu o título à retrospectiva do PS1: Where We Are Now (Who Are We Anyway?) mostra uma mesa muito comprida rodeada de bancos que continua para lá do parapeito de uma janela, transformando-se numa prancha-trampolim.

No final dos anos 70, o artista abandona o espaço da galeria e a actividade de performer que explora os limites do espaço público e privado e passa a estar interessado em criar o próprio espaço. Acaba por abrir um atelier de arquitectura no final dos anos 80. Vito Acconci fez várias grandes instalações e parques públicos, explorando a fronteira entre escultura e arquitectura e fazendo intervenções na paisagem. Foi nesta fase, que teve menos sucesso no mundo da arte e causou algum embaraço entre os fãs do seu trabalho pioneiro, como diz o New York Times, que Vito Acconci desenhou espaços de espera em aeroportos ou uma ilha artificial na Áustria.

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