Saída do líder trabalhista é menos certa do que a derrota nas legislativas
Opositores receiam que ele queira manter-se em funções pelo menos até conseguir mudar regras para eleição de novo líder.
Madrugada de 9 de Junho – contados os votos e confirmada a pesada derrota que as sondagens anunciavam irá Jeremy Corbyn demitir-se? A questão, hipotética para já, é uma das grandes incertezas numa eleição que o Partido Trabalhista, mais do que ganhar, não quer perder de forma clamorosa. Certo é que nos corredores, tanto os opositores como os apoiantes do líder trabalhista, começaram já as manobras para preparar o cenário pós-derrota.
Mal Theresa May anunciou as legislativas antecipadas, e passado o pânico inicial, muitos deputados trabalhistas confidenciaram aos jornalistas o seu alívio – o receio de um resultado avassalador para o partido era mitigado pela expectativa que dentro de apenas sete semanas o Labour poderia enfim livrar-se de Corbyn. O líder que não conseguiram destronar no Outono passado, mesmo depois de dois terços da bancada parlamentar lhe ter retirado a confiança. Os meses passaram e a popularidade de Corbyn não parou de cair – um estudo recente indica que apenas 14% dos britânicos o preferem como primeiro-ministro, ou seja, quase metade dos que planeiam votar no Labour admitem que Theresa May é mais indicada para o cargo.
“Duvido que Corbyn queira disputar outra eleição para a liderança [do Labour] e, mais ainda que a possa vencer”, escreveu John Rentoul, comentador de política do Independent, argumentando que muitos dos que o reelegeram em Setembro entendiam que ele ainda não tinha tido oportunidade de mostrar o que valia nos 12 meses à frente do partido. “Mas as legislativas são a sua oportunidade e se ele falhar muito desse apoio vai desaparecer.”
A oposição interna – maioritária no Parlamento e em grande parte das estruturas locais do partido – aponta também uma sondagem a eleitores trabalhistas, realizada ainda antes de May ter antecipado as legislativas, segundo a qual apenas 44% dos inquiridos queria que Corbyn continuasse no cargo até às eleições (36% defendia a sua demissão imediata). O mesmo inquérito concluía que mais de dois terços (68%) defendiam que, no caso de derrota, ele se devia demitir, tal como fizeram Ed Miliband em 2015 e Gordon Brown em 2010.
Nem todos estão, no entanto, certos que o líder trabalhista vai atirar a toalha ao chão. Ou mais crucial ainda, que a ala mais à esquerda do Labour aceite perder a liderança do partido. “Estão já a ser testadas as desculpas que vão ser usadas a 9 de Junho. A culpa será dos media, dos deputados, de toda a gente menos deles”, escreveu Nick Cohen na revista conservadora The Spectator. Para o jornalista, um crítico de Corbyn, “é óbvio que o principal objectivo da esquerda não é derrotar o Partido Conservador, mas refazer o Partido Trabalhista”, pelo que mesmo que 50 ou 100 deputados percam os seus lugares no Parlamento, “o que realmente lhes importa é que o Labour reformista [de Tony Blair] estará acabado”.
Rentoul afirma que “para os que rodeiam Corbyn a prioridade é garantir que ele se mantém como líder após a derrota ou é substituído por outro membro da sua facção”. Por trás deste cálculo está uma alteração dos estatutos que deveria ser votada no congresso do partido, em Outubro, que reduz de 15% para 5% o número de apoios que um candidato precisa de recolher na bancada parlamentar para poder entrar na corrida à liderança. Se Corbyn se demitir logo após uma derrota uma nova eleição irá seguir as regras actuais, o que dificultará a candidatura de um dos seus aliados, tanto mais que a antecipação das legislativas forçou o partido a abdicar da selecção de novos candidatos aos lugares de deputado, fazendo prever que a maioria da bancada permanecerá hostil ao actual líder. Vários deputados da ala centrista decidiram não voltar a candidatar-se, mas neste caso as nomeações serão decididas pelo comité executivo onde Corbyn não têm a maioria.
Mas este equilíbrio de forças pode ser alterado no caso de uma derrota estrondosa do Labour, pelo que a oposição a Corbyn não descarta ir mais além. O jornal The Times noticiou esta quinta-feira que os funcionários da sede do partido estão a planear uma greve caso Corbyn recuse abandonar o cargo. “Temos estado a aguentar, mas se ele perder as eleições tem de ir embora. Se não for, penso que é tempo de algo mais drástico, tal como uma greve”.