Conciliar o peso mínimo com o equilíbrio, eis o grande desafio
Projectista e velejador Horácio Carabelli sublinha que a falta de tempo é o principal obstáculo.
Nasceu no Uruguai há 49 anos, mas o português açucarado não esconde a sua ligação ao Brasil, país onde vive desde que acabou os estudos. Projectista de barcos de renome, velejador consagrado e um dos mais conceituados nomes da vela mundial, Horácio Carabelli está directamente ligado à America’s Cup desde 2006. Depois de colaborar com as equipas Victory Challenge, Artemis e Luna Rossa, aceitou o convite de Franck Cammas para liderar o departamento de construção da Groupama Team France e considera que o conceito do barco projectado pela Oracle Team USA para a America’s Cup 2017 “é muito interessante”.
Carabelli, que participou em três edições da Volvo Ocean Race, tendo vencido a de 2008-09, refere que o AC72, utilizado em 2013 em São Francisco, era “grande, difícil de operar e logisticamente complicado”, e defende que as alterações introduzidas para esta edição “permitiram que surgissem novas equipas, como a Team France”. No entanto, em conversa com o PÚBLICO, o uruguaio-brasileiro adverte que o AC 50 ”é um barco difícil, que não é para qualquer um e às vezes é perigoso”: “As velocidades são incríveis e, com 10 nós de vento, os barcos atingem os 30 nós. Parece irreal e é interessante, mas se cais à água, estás entre quatro facas.”
Sobre a evolução da equipa francesa, Carabelli lembra que este projecto nasceu “há ano e meio quase do zero” e salienta que se se olhar “para a história da America’s Cup, constata-se que uma equipa como a Oracle demorou três competições para conseguir vencer”. “Temos gente muito competente, mas pecamos pela falta de tempo. Faltam 30 dias e ainda há muito para melhorar, como os sistemas hidráulicos e a manobrabilidade do barco, que requer uma grande interacção entre o skipper e a tripulação. Este é um projecto a médio prazo, mas o objectivo da equipa é defrontar a Oracle na 35.ª America’s Cup”, sublinha.
Numa competição com um barco de design único, em que todas as equipas têm que seguir o mesmo projecto estrutural, Carabelli diz que o “grande desafio é construir os cascos com um peso mínimo”. “Cada equipa tem que tentar conciliar qualidade com o menor peso possível. Entre o peso mínimo e máximo há um alcance de 100kg, o que é muito limitado, pelo que se queres ser competitivo tens que estar no mínimo. O difícil é conseguir o equilíbrio certo e ter uma estrutura com o peso mínimo”, revela.