Mais do que o negócio, discussão do Novo Banco já só envolve argumentos políticos
PS e a direita chumbaram as derradeiras tentativas do BE e do PCP de nacionalizar o banco. PSD e CDS atacaram os partidos mais à esquerda por discordarem do Governo mas não lhe retirarem o apoio que lhe permite existir.
Como seria de esperar, os projectos de lei e de resolução do BE e do PCP que propunham a nacionalização do Novo Banco, assim como o diploma do Bloco em que o Parlamento se mostrava “descontente” pela venda do banco (o CDS absteve-se), foram chumbados pelos deputados da direita e do PS. Foi igualmente rejeitado, mas pela esquerda (o PAN absteve-se), o projecto de resolução do PSD que pedia a renegociação das condições do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução.
Com o processo de venda do Novo Banco quase terminado, a discussão em torno da solução e do negócio é agora essencialmente política. A bloquista Mariana Mortágua justificou as iniciativas do seu partido dizendo que o Governo fez mal por não trazer o negócio à Assembleia e que o Bloco “nunca se colocaria de fora de uma solução” que mantivesse o controlo do banco no Estado. A decisão de vender à Lone Star, acrescentou, “é objectivamente má para o país” porque, entre outras razões, se entrega o banco a um “fundo abutre”, o Estado fica com uma quota de 25% mas sem qualquer poder, o Novo Banco já tem 3,9 mil milhões de euros do Estado – “cortesia de PSD e CDS” – e o comprador sabe que o Estado está pressionado por Bruxelas para vender até Agosto.
“Não basta que PSD e CDS finjam que não têm nada a ver com o debate”, apontou Mortágua, acusando-os de não terem qualquer “solução, proposta ou alternativa”. Chamando o assunto ao Parlamento, este “toma o poder nas suas mãos” para assumir que o Novo Banco deve passar para a esfera pública, disse.
Já Miguel Tiago, do PCP, também atacou a direita, a quem acusou de se ter comprometido com a Comissão Europeia com a venda do Novo Banco e de “esconder os custos futuros da resolução” e criticou o Governo de António Costa por lhe seguir o caminho. O PCP, disse, sempre se bateu pela integração do Novo Banco na esfera pública e quer que o Estado assuma o “controlo proprietário e o controlo de gestão” para que o banco seja posto ao serviço da economia, financiando as empresas e as famílias. “Não para ser limpo e arrumado, valorizá-lo e depois entregue a um grande grupo que o virá predar.”
O deputado comunista lembrou que “Portugal já pagou o Novo Banco e prepara-se para pagar ainda mais”. Os comunistas querem “segregam e estudar os activos que não interessam e pesam no balanço, identificar o património dos que lesaram o banco e ainda hoje não foram chamados a pagar as perdas” e renegociar a dívida do banco.
Pelo PSD, o deputado António Leitão Amaro ironizou com o "tempo novo das esquerdas", que considerou representar "negócios ruinosos para os contribuintes mas generosos para a banca". A governação socialista, continuou, passa por "estoirar sem dó o dinheiro dos contribuintes", com Cecília Meireles, do CDS-PP, a colar PCP e BE ao executivo: "O Governo existe com a legitimidade que os senhores lhe dão", disse a centrista, dirigindo-se aos partidos à esquerda.
Eurico Brilhante Dias, do PS, criticou o PSD por ter "de forma absolutamente irresponsável" empurrado para a frente "um problema com impacto nas contas públicas", vindo hoje pedir a "renegociação de um empréstimo contraído pelo Fundo de Resolução ao tempo" que o deputado Leitão Amaro fazia, inclusive, parte do governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho. Com Lusa