António Costa diz que modelo de Governo acabou com “último resquício do muro de Berlim”

O secretário-geral do PS apontou vários desafios dos socialistas na governação e falou nas “batalhas” pelo aumento do salário mínimo e pelo alargamento na contratação colectiva.

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O primeiro-ministro, António Costa, esteve em Coimbra Enric Vives-Rubio

Rodeado de históricos socialistas, o primeiro-ministro disse hoje que o actual Governo não só acabou com o arco da governação, como conseguiu também “derrubar o último resquício do muro de Berlim que tinha subsistido ao longo destes anos todos”.

Além disso, a solução governativa saída das legislativas de 2015 demonstra "que é possível trabalhar com outros partidos da esquerda portuguesa num quadro de esquerda plural”, afirmou António Costa em Coimbra, num almoço com 19 fundadores do PS, que assinalou os 44 anos passados desde a criação do partido.

O secretário-geral socialista, sentado entre António Arnaut e António Campos (militantes número quatro e três do PS, respectivamente), apontou ainda vários desafios dos socialistas na governação e falou nas “batalhas” pelo aumento do salário mínimo e pelo alargamento na contratação colectiva

A idade da reforma e os escalões do IRS fizeram também parte do discurso do primeiro-ministro. António Costa socorreu-se do escritor neo-realista e militante do PCP Soeiro Pereira Gomes para dizer que aqueles que começaram a trabalhar “na idade em que não tiveram a oportunidade de ser meninos e que têm hoje carreiras contributivas muito longas” têm o “direito a poder reformar-se sem terem qualquer penalização”. Quem se encontra nestas condições deve poder “encontrar um mínimo de justiça”.

O mínimo legal para se começar a trabalhar em Portugal subiu dos 12 para os 14 anos no final dos anos 1960 e apenas passou para 16 anos em 1998. António Costa refere-se aos anos anteriores como “décadas de violência brutal e de trabalho infantil”. Sobre o IRS, o Governo vai começar a “repor os escalões que foram eliminados nos anos da troika, para que os escalões mais baixos possam ter um tratamento mais justo e mais favorável”.  

Virando-se para a Europa, o primeiro-ministro afastou a ideia de “crise da social-democracia e do socialismo”. “O que vemos não é crise”, defende. Há no entanto “alguns partidos socialistas desistiram de ser uma alternativa à direita e outros acharam que o caminho que tinham a seguir era imitar as outras esquerdas”.

O Partido Socialista português, sustenta, soube manter a identidade desde 1973. “Se hoje temos liberdade, democracia, integração europeia, um estado social, devemos em grande medida a esse gesto praticado há 44 anos”, disse Costa. 

Antes de Costa falou António Arnaut, que lembrou o dia 19 de Abril de há 44 anos, em Bad Münstereifel, na Alemanha, onde a Acção Socialista foi transformada em partido. “Foi por estar lá, pelos outros que ficaram e por todos aqueles que vieram entretanto juntar-se a nós e à ideia socialista, que Portugal está hoje onde está”, disse o ex-governante, a quem é atribuída a responsabilidade pela criação do Serviço Nacional de Saúde.

Embora reconhecendo “muitas limitações” ao regime pós-25 de Abril, António Arnaut entende que Portugal não estaria "em democracia política, social e cultural se não fosse” o PS. “Foi muito importante termos lá estado e termos transformado a Acção Socialista em partido”, disse.

O advogado de Coimbra recordou ainda que chegou ao socialismo “mais pela ética que pela ideologia”, conhecendo o país real do Estado Novo e as “pessoas que viviam à míngua”. “Não era pela ideologia que se tornava necessário transformar o país”, lembra, mas “lutar pela redução das desigualdades e injustiças era um imperativo categórico e de consciência”.

A ausência de Mário Soares – “o grande culpado” pela fundação, segundo Arnaut - pela primeira vez num aniversário do PS foi também notada.

O almoço com os fundadores do PS decorreu no hotel Astória, na Baixa de Coimbra. Do lado de fora do edifício está uma placa que lembra que foi a partir de uma varanda do Astória que Humberto Delgado discursou a 31 de Maio de 1958, na campanha para as presidenciais, momento a que António Arnaut assistiu e que recordou.

Sobre a actualidade, Arnaut, que antes das legislativas de 2015 falava na necessidade de uma maioria “patriótico e de esquerda”, referiu-se ao actual momento de governação como “um passo em frente na democracia”. “Não é preciso fazer milagres, que não os há. É preciso fazer o que em nós caiba para melhorar a vida. Encurtar um pouco as injustiças, as desigualdades”, disse, lançando um repto que seria respondido por António Costa. 

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