Explosão desfez fábrica e deixou famílias à procura dos funcionários
Autoridades contabilizam cinco vítimas mortais resultantes da explosão numa fábrica de pirotecnia de Lamego e sublinham a dificuldade em reconhecer corpos. Há ainda três desaparecidos e Presidente da República visita local nesta quarta-feira.
Um cenário de terror foi o que os bombeiros encontraram quando chegaram na tarde desta terça-feira junto de uma fábrica de pirotecnia que explodiu em Avões, Lamego. A identificação dos corpos das vítimas era nesta noite a maior dificuldade das autoridades. No local, segundo o testemunho do responsável pela Protecção Civil de Lamego, Manuel Coutinho, o cenário era de “uma tragédia inqualificável”.
“Havia pedaços do edifício espalhados e membros de corpos que voaram 70 a 80 metros e passaram a estrada municipal”, contou. O alerta para a explosão foi dado por volta das 18h. As autoridades contabilizavam nesta terça-feira à noite cinco vítimas mortais — com idades entre os 22 e os 52 anos — e outras três pessoas desaparecidas. Serão todos funcionários da empresa.
Já no final da noite desta terça-feira, o PÚBLICO confirmou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alterou a agenda para se deslocar nesta quarta-feira ao local da explosão.
No ermo onde estava localizado o paiol foi de imediato criado um perímetro de segurança. Junto à fábrica apenas estavam os bombeiros, as autoridades de Protecção Civil e uma equipa de inactivação de explosivos. A Polícia Judiciária foi também para o local para investigar as causas da explosão. Estiveram envolvidos nas operações de socorro 128 homens, 44 viaturas e dois helicópteros do Instituto Nacional de Emergência Médica, além de uma brigada de minas e armadilhas.
"Não vai ser fácil sobreviver a esta tragédia"
Fernanda Costa tinha o marido a trabalhar no paiol e quatro horas depois do acidente ainda não sabia o que lhe tinha acontecido. Sem muitas esperanças, questionava-se como iria contar aos seus dois filhos menores o que advinhava ser uma fatalidade. “Não vai ser fácil sobreviver a esta tragédia. Não sei o que vou fazer, vai ser muito complicado. Foi uma desgraça muito grande. Estou desempregada, só o meu marido é que trabalhava”, desabafou entre lágrimas e acompanhada pela mãe.
Contou ainda que dentro da fábrica estaria o proprietário, uma filha, a sobrinha e ainda três genros, além do marido e mais outro homem da freguesia de Barrô, em Resende. “Quando soube do acidente vim logo para aqui. Cheguei ainda antes dos bombeiros. Foi tudo muito violento.” Nas horas seguintes, relatou, não foi possível obter informações. “Não me deixaram aproximar porque ainda houve mais explosões. Só há pouco tempo é que me disseram que encontraram quatro corpos, mas que estão irreconhecíveis, não sabem quem são. Acham que são homens.”
Vicente Couto também nada sabia de um amigo que estava a trabalhar na fábrica. “Desde o final da tarde que tento ligar-lhe mais vai diretamente para o voicemail. Não sei de nada. Estamos aqui na esperança de saber alguma notícia”, dizia.
Empresa familiar
Nas povoações junto à fábrica — Avões e Ferreiros — os habitantes contaram que o paiol era gerido por uma empresa familiar. Egas Sequeira era o proprietário. No interior estaria a filha Susana, a sobrinha Ana, e ainda os genros David e Samuel. “A mulher saiu uns minutos antes para ir buscar os filhos à escola, senão também ali ficava”, contou Manuel Coutinho.
“Os irmãos e os genros trabalhavam lá, mas por esta altura da Páscoa reforçavam sempre o número de colaboradores”, disse um dos habitantes que quando soube do acidente lembrou-se de um outro caso que aconteceu há cerca de 15 anos, no mesmo local, e onde morreu também, na altura, o proprietário. Também há 30 anos, na cidade de Lamego, um acidente provocou vítimas mortais.
“Esta é uma tragédia enorme”, afirmou Francisco Lopes, presidente da Câmara de Lamego, que de imediato disponibilizou acompanhamento aos familiares. com Pedro Sales Dias