60 anos UE: Somos muito mais do que um simples mercado ou uma moeda

Pela primeira vez, em lugar de novas adesões, confrontamo-nos com a saída do Reino Unido.

Comemoramos hoje o aniversário dos melhores 60 anos da Europa livre. Mas hoje, mais do que nunca, o projeto europeu nunca pareceu tão distante. Dentro e fora da União Europeia, estão a recrudescer nacionalismos, o «cada um por si». Pela primeira vez, em lugar de novas adesões, confrontamo-nos com a saída do Reino Unido.

Por isso, não nos podemos limitar a uma comemoração retórica. Temos de reaproximar a Europa dos cidadãos, apresentando soluções concretas para os seus problemas. Aos populismos, há que responder com a Europa dos factos: reduzir o desemprego, regular a imigração, garantir a segurança e a proteção do ambiente.

Dividirmo-nos agora, continuar a atribuir culpas às outras instituições ou aos governos, não leva a nada. A hora é de coragem e de assumirmos as nossas responsabilidades, para encontrar soluções comuns ao interesse dos povos da Europa.

Para reduzir o desemprego, especialmente jovem, é necessária uma Europa mais competitiva e atenta à economia real. Paralelamente ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, precisamos de um pacto entre as gerações. Não podemos deixar aos jovens dívidas ingeríveis e economias ineficientes que tornam difícil a criação de emprego.

Há que reforçar a governação europeia da economia. A flexibilidade orçamental e a utilização dos fundos europeus estão associadas à qualidade das despesas e das reformas para melhorar a eficiência económica. Esta é a via para uma verdadeira convergência das economias, condição indispensável para que o euro traga benefícios para todos os Europeus. Há que definir regras mais simples que não asfixiem os cidadãos e as empresas. Não nos podemos perder em pormenores.

Concentremo-nos nos grandes desafios mundiais, na política externa, na defesa, no comércio e no combate às alterações climáticas. Nenhum Estado europeu, por si só, tem força para negociar com os EUA, China, Índia ou Rússia. Só em conjunto podemos, efetivamente, exercer a nossa soberania. Unidos, podemos garantir à excelência europeia o acesso seguro aos mercados mundiais, pondo termo à concorrência desleal. 

É imperioso reforçar a confiança mútua para proteger os cidadãos do terrorismo e da criminalidade ou para combater a evasão fiscal. Juntos, temos de garantir o direito de asilo, impondo-se o rigor no acolhimento dos que a este têm realmente direito e a luta contra a imigração ilegal.

Para uma gestão eficaz deste fenómeno, indissociável do crescimento demográfico, das alterações climáticas, do terrorismo, da guerra e da pobreza, urge uma estratégia comum centrada no desenvolvimento de África. Não podemos deixar a gestão dos fluxos migratórios nas mãos de traficantes de seres humanos e dos terroristas.

Para facilitar e acelerar os retornos, criar centros de acolhimento no Norte de África em conjunto com a ONU e reduzir a pressão migratória, precisamos de uma diplomacia económica sólida. Precisamos de um Plano Marshall para a África, com mais investimentos, transferência de conhecimentos sobre segurança, infraestruturas, energias limpas ou formação.

Enfrentar seriamente estes desafios demonstra, hoje mais do que nunca, quão importante é a unidade europeia. A Europa tem de ser reformada, não enfraquecida. Podemos refletir sobre os nossos erros, sobre o que há para melhorar. Mas não podemos desencorajar nem perder o orgulho no que construímos em conjunto.

Somos a única região do mundo sem pena de morte. É para nós que o mundo se vira quando um jornalista é preso, uma mulher se vê privada dos seus direitos ou um adversário político é ameaçado. Somos uma referência nos direitos fundamentais. Somos muito mais do que um simples mercado ou uma moeda.

A Europa é uma história de sucesso quando consegue encarnar um sonho de progresso, prosperidade, liberdade e paz. Os Europeus não perderam a vontade de sonhar. Cabe-nos mudar a imagem de uma Europa abstrata, pouco eficaz e burocrática e reacender nos Europeus a paixão, despertando o sentimento de pertença a um grande projeto. É a melhor herança que podemos deixar às gerações futuras.

 

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários