Inquérito a Fillon alargado a suspeitas de “fraude agravada e falsificação”
Novas suspeitas surgiram na sequência de buscas realizadas na Assembleia Nacional onde foram apreendidos alguns documentos que podem constituir "falsificações criadas para justificar a posteriori os salários pagos” à mulher do candidato presidencial francês.
O inquérito sobre possíveis empregos fictícios que levou à acusação formal do candidato presidencial francês François Fillon foi alargado a suspeitas de “fraude agravada, falsificação e uso de documentos falsos”, indicou esta terça-feira uma fonte judicial.
Como noticiou o diário francês Le Monde, o Ministério Público Financeiro (PNF, na sigla em francês) entregou a 16 de Março aos juízes de instrução um pedido de inquérito adicional sobre “fraude agravada, falsificação e uso de documentos falsos”. Segundo o jornal, a justiça questiona-se sobre se “o casal Fillon terá forjado documentos para justificar os salários” pagos a Penelope, mulher do candidato da direita francesa ao Eliseu, enquanto assistente parlamentar. Fillon, de 63 anos, já fora acusado de uso indevido de dinheiro público, mas recusou-se a abandonar a corrida presidencial.
De acordo com uma fonte próxima do caso, o requerimento do PNF surge na sequência de buscas realizadas este mês na Assembleia Nacional, após uma primeira visita feita no fim de Janeiro. Nestas segundas buscas, foram apreendidos alguns documentos, explicou a mesma fonte.
Segundo Le Monde, os investigadores encontraram, nomeadamente, “folhas, assinadas por Penelope Fillon”, que “tinham diferentes cálculos de horas trabalhadas”. A equipa de investigação interroga-se sobre “se tais cálculos não constituirão falsificações criadas para justificar a posteriori os salários pagos” a Penelope Fillon e “comprovar a veracidade do seu trabalho de assistente parlamentar”, um dos problemas que estão no centro das investigações.
“Não há uma única falsificação neste processo”, disse à agência noticiosa francesa AFP o advogado de Penelope Fillon, Pierre Cornut-Gentille, condenando uma violação do segredo de justiça durante a fase de instrução. “Nós não vamos justificar-nos antes de sermos presentes a um juiz”, acrescentou.
Este requerimento adicional é o mesmo já utilizado na passada quinta-feira para alargar o inquérito a presumíveis actos de tráfico de influência após revelações sobre luxuosos fatos da marca Arnys, no valor total de 13 mil euros, oferecidos a François Fillon. O advogado próximo dos círculos de direita Robert Bourgi, figura da “Françafrique”, confirmou ter oferecido esses fatos a Fillon.
François Fillon foi indiciado a 14 de Março – uma estreia para um candidato de primeira linha às presidenciais francesas – por desvio de dinheiros públicos, cumplicidade e ocultação de desfalque, dissimulação e cumplicidade no uso indevido de activos sociais e violação de obrigações de comunicação à Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública (HATVP). A sua mulher está convocada para comparecer em tribunal a 28 de Março para uma eventual acusação formal.