Cimeira Europeia terminou com boicote polaco à declaração final
Primeira-ministra Beata Szydlo retaliou contra a reeleição do seu compatriota Donald Tusk para presidente do Conselho Europeu.
A cimeira europeia em Bruxelas ficou marcada por um episódio insólito: por razões de política doméstica e antigas rivalidades internas, a primeira-ministra polaca, Beata Szydlo, não votou na reeleição do também polaco Donald Tusk para a presidência do Conselho Europeu por mais dois anos e meio. E, como represália, recusou aprovar as conclusões do Conselho. Em vez de ser dos 28, o documento foi apresentado em nome do presidente do Conselho, “apoiado por 27 membros”, mas, “por motivos alheios ao seu conteúdo, não obteve consenso”.
Ao regressar à Polónia, Szydlo tinha à sua espera, no aeroporto, o homem que lidera na sombra o país, Jaroslaw Kaczynski, que a recebeu com e elogios e flores. “Ninguém pode dizer que sofremos uma derrota. Mostrámos que a Polónia não é um país submisso”, disse Kaczynski.
O documento aprovado, apesar de tudo — permitiu aos líderes avançarem na preparação das celebrações dos 60 anos do Tratado de Roma, a 25 de Março, e abrir algum caminho para a aprovação da Declaração que será aprovada nessa altura.
A Declaração de Roma vai servir de base às discussões para moldar a Europa do futuro e dar uma nova visão ao bloco comunitário, após a saída do Reino Unido. Segundo várias fontes europeias, o documento incluirá uma referência à possibilidade de uma Europa a duas velocidades, mas a sua redacção será suficientemente “diplomática” para acomodar as preocupações dos governos do leste da UE, que se opõem ou receiam a criação de vários clubes de países.
Angela Merkel, François Hollande, entre outros, voltaram ontem a defender a opção que permite a um grupo de países avançar na integração sem esperar pelos mais reticentes. Para o grupo fundador do projecto europeu — França, Alemanha, Itália, Benelux —, este é o único cenário que permitirá sair do status quo em que se encontra a UE e enfrentar os desafios da próxima década.
Vários dirigentes desdramatizaram a opção de grupos de países avançarem a ritmos diferentes. Angela Merkel defendeu a ideia sublinhando que isso já existe em projectos como a moeda única e Schengen. “Alguns países devem poder ir mais depressa”, afirmou o Presidente francês, destacando as áreas da defesa, segurança ou emprego. “Não se trata de excluir ninguém”, sublinhou François Hollande. “Mas também não podemos admitir que um país possa impedir outros de avançar”.
Os defensores desta opção garantem que os actuais Tratados já permitem este caminho e que o mecanismo é inclusivo, aberto aos países que se queiram juntar. Mas esta opção suscita receios em várias capitais.
A Polónia e Roménia mostraram a sua oposição. Temem a constituição de países de primeira e segunda categoria.
“A unidade dos 27 é o nosso bem mais precioso”, afirmou Donald Tusk, que também admitiu que “a ideia de uma Europa a várias velocidades será uma das discussões antes do aniversário de Roma”.
Segundo várias fontes, a Declaração de Roma deverá sublinhar a necessidade de manter “a unidade primeiro” e, depois, em certos casos avançar com cooperações reforçadas “só quando necessário” e “abertas” a todos os países.
Nesta reflexão sobre o futuro, o primeiro-ministro António Costa reafirmou uma das prioridades do Governo português: completar e aprofundar a união económica e monetária.