Seis anos depois da polémica, estará Lars Von Trier a caminho de Cannes?
O realizador dinamarquês, que roda The House That Jack Built na Suécia, declarou estar em contacto com responsáveis do festival. Depois de ter sido banido em 2011 pela sua provocatória manifestação de "simpatia" por Hitler, terá chegado o momento da reconciliação.
Quando a 17 de Maio de 2018 se iniciar mais uma edição do festival de Cannes, há a possibilidade de os microfones e as câmaras estarem concentradas no realizador que, há seis anos, causou escândalo com os seus comentários provocatórios sobre Hitler (“Simpatizo com ele, sim, um pouco”, disse então). Em 2011, Lars von Trier foi banido do festival que tanto o celebrara (Palma de Ouro em 2000, por Dancer in the Dark; Grande Prémio do Júri em 1996 por Ondas de Paixão). Agora começam a ser dados sinais de que poderá ser Cannes a acolher a estreia de The House That Jack Built, o thriller sobre um assassino em série norte-americano que o Von Trier roda actualmente na Suécia.
O novo filme de Von Trier, o primeiro desde Ninfomaníaca (2013), acompanhará os passos de um assassino em série, ao longo de uma década, nos Estados Unidos dos anos 1970. Tem Matt Dillon como protagonista (será ele o Jack do título), e como co-protagonistas (e vítimas) Uma Thurman, Sofie Grabol e Riley Keough. Há um mês, quando foi divulgada a primeira imagem de The House The Jack Built, o cineasta declarou que o filme foi inspirado em Donald Trump, o "rei das ratazanas”.
Os rumores em relação à presença em Cannes em 2018 surgiram depois de uma das produtoras do filme, Louise Vesth, ter afirmado que a calendarização da produção fora alinhada para coincidir com o festival. Esta terça-feira, numa conferência de imprensa na cidade sueca de Dalsland, cenário actual da rodagem, Von Trier referiu que tem mantido contacto com alguns membros da estrutura de Cannes – “portanto, talvez”, afirmou quando confrontado com o regresso à Croisette.
Em 2011, quando apresentava Melancolia na cidade francesa, Lars Von Trier disse compreender Hitler. "Sei que fez coisas más, sem dúvida, mas posso imaginá-lo sentado no seu bunker, na parte final". Apesar de o moderador da sessão ter tentado desviar a conversa, Lars Von Trier continuou: "É claro que não defendo a Segunda Guerra Mundial, nem sou contra os judeus. Defendo-os, mas não em demasia, porque Israel é verdadeiramente irritante." O pedido de desculpas surgido depois da polémica instalada – “não sou nem anti-semita, nem racista, nem nazi” –não foi suficiente para que a direcção do festival retirasse a sua declaração de “persona non grata”.
Na conferência de imprensa de terça-feira, ao lado de Matt Dillon, Uma Thurman e das produtoras Louise Vesth e Madeleine Ekman, ouviu-se novamente o nome interdito. Von Trier recusou esclarecer qual o papel atribuído no seu filme ao alemão Bruno Ganz. “Ele não interpretou Hitler?”, foi tudo o que disse, em referência a A Queda, filme em que o actor suíço encarna o ditador nazi nos seus últimos dias de vida. O foco, porém, não estava desta vez no Führer e nos comentários de Von Trier a seu respeito. The House That Jack Built foi o protagonista. O realizador dinamarquês considera que será “talvez, o filme mais tradicional” que já assinou. E depois fez uma analogia entre o trabalho desenvolvido por um artista e a actividade de um assassino em série: “Tens de ser cínico para fazer ambas as coisas."