O que é que mantém NCIS: Investigação Criminal no ar?
A série, actualmente na 14.ª temporada, viu o elenco reforçado após a saída de Michael Weatherly. Wilmer Valderrama, o agente Nick Torres, é uma das novidades da equipa. Mas como sobrevive o típico policial à passagem do tempo?
Ao longo das últimas décadas, os dramas policiais tornaram-se recorrentes no panorama televisivo. De CSI: Crime Sob Investigação a Lei & Ordem, o formato da unidade de investigação criminal que resolve um novo caso a cada episódio tem gozado de uma popularidade contínua. NCIS: Investigação Criminal poderia ser apenas mais um desses casos, se não se tratasse da segunda série há mais tempo no ar nos Estados Unidos, apenas atrás de Lei & Ordem: Unidade Especial, emitida desde 1999. Ao fim de quase 15 anos e após várias alterações no elenco e na produção, continua a ser um dos maiores sucessos da grelha da CBS, encontrando-se actualmente na 14.ª temporada (que em Portugal o AXN emite às quartas-feiras). Wilmer Valderrama é o reforço mais recente e veste a pele de Nick Torres, um ex-agente secreto que se junta à equipa liderada por Leroy Gibbs (Mark Harmon). “É incrível fazer parte de uma máquina que realmente se compreende a si própria e cujas personagens têm vindo a crescer lado a lado, porque isso torna tudo mais real”, começa por contar o actor, em conferência telefónica com os jornalistas a partir de Los Angeles.
Não é incomum que os procedurals – séries em que um problema é introduzido e resolvido dentro do mesmo episódio, não requerendo que o espectador tenha visto episódios anteriores – tenham uma vida longa. Já chegar à 14.ª temporada é um feito mais invulgar e só alcançado pontualmente por séries como CSI (2000-2015), Lei & Ordem (1990-2010) e Lei & Ordem: Unidade Especial (1999), que dificilmente conquistam um lugar junto da crítica mas em contrapartida são um êxito de audiências. Wilmer Valderrama acredita que parte do segredo da longevidade de NCIS está no envolvimento do público na dinâmica da equipa. “Os espectadores acompanham personagens que respeitam e em quem confiam verdadeiramente enquanto os vêem em acção a derrubar os vilões”, diz o actor.
Em 2008, quando NCIS estreou a sua sexta temporada com as melhores audiências de sempre, David Stapf, presidente dos CBS Television Studios, afirmou ao New York Times que, além de um drama policial, esta é também “uma série divertida”. Uma nuance também sublinhada pelo showrunner Shane Brennan, interessado em explorar “o tipo de humor que se pode encontrar em qualquer escritório onde as pessoas trabalham em grupo”. Ao contrário de outros críticos que têm apontado a previsibilidade do modus operandi de NCIS, Matt Roush, da revista norte-americana TV Guide, reconheceu em 2012 à Variety que este é um “elenco mais ecléctico do que o costume”, aliando a liderança do ríspido Gibbs, o flirt entre os agentes DiNozzo (Michael Weatherly) e Ziva (Cote de Pablo) e a extravagante e gótica Abby (Pauley Perrette), a especialista forense com quem Gibbs mantém uma relação paternal.
Desde o seu início, em 2003, NCIS: Investigação Criminal já sofreu várias mudanças estruturais, mas a mais significativa foi a saída de Michael Weatherly do núcleo principal, no final da 13.ª temporada. Em parte, foi para colmatar esse vazio que Wilmer Valderrama veio reforçar o elenco da 14.ª temporada, ao lado de Emily Wickersham e Jennifer Esposito, que interpretam respectivamente, a psicanalista Eleanor Bishop e a agente Alexandra Quinn. Por sua vez, Valderrama interpreta Nick Torres, um ex-agente secreto que passou anos embrenhado numa missão e nunca regressou. “É uma personagem complexa, com muitas camadas, e é alérgico ao trabalho em equipa”, explica o actor. O seu carácter de lobo solitário vai marcar a entrada na equipa com que terá de trabalhar em grupo pela primeira vez. “Moldei-o para que fosse um bocadinho um patife e um rebelde, no fundo algo diferente do que vemos nos protagonistas de NCIS." Actualmente a meio da temporada nos Estados Unidos, a série deverá evoluir ao longo do próximo ano e meio para um nível mais “dinâmico e cheio de acção”.
Protagonista latino, orgulho americano
Em 2013, NCIS: Investigação Criminal conquistou, de acordo com a Variety, mais de 50 milhões de espectadores em todo o mundo, estando licenciada para mais de 200 mercados e traduzida em mais de 60 línguas, do árabe ao vietnamita. Wilmer Valderrama é um actor venezuelano-americano numa série que trata de um sector muito específico das forças armadas norte-americanas – a marinha. Não parece, por isso, despropositado, falar de política num mundo em que a televisão é uma das suas arenas principais. “Nos dias que correm, cada vez mais precisamos de imagens de latinos em papéis principais positivos”, afirma, quando questionado pelos jornalistas latino-americanos sobre a importância do seu trabalho em Hollywood.
Vestir a pele de Nick Torres nesta altura é particularmente significativo, uma vez que “é uma personagem de boa índole, que respeita o seu trabalho e luta pelo seu país”. Além disso, insiste, protagonizar uma das séries mais vistas no mundo é uma “excelente oportunidade para mostrar aos mais jovens que estão representados na televisão mainstream”. E refere a propósito o movimento Harness, co-criado com America Ferrera e o marido, Ryan Piers Williams após as eleições presidenciais para promover a unidade e a entreajuda entre as minorias nos Estados Unidos.
À data de emissão do último capítulo da 14.ª temporada nos Estados Unidos, 21 de Fevereiro, tinham sido transmitidos 323 episódios de uma hora de NCIS: Investigação Criminal. Um ano antes, noticiou-se que teria mais duas temporadas (até à 15.ª), coincidindo com a renovação do contrato do protagonista Mark Harmon, que vigorará até 2018. A série já originou duas spin-offs: NCIS: Los Angeles e NCIS: New Orleans.