Jovens americanos têm uma definição abrangente daquilo que é notícia
“Se não o vir nas redes sociais, não vou ouvir falar disso."
Os jovens americanos têm uma concepção abrangente daquilo que é notícia, que vai além da produção noticiosa dos órgãos de comunicação tradicionais e que inclui informação recolhida nas redes sociais e conteúdos produzidos pelos utilizadores, de acordo com um relatório da Data & Society Research Institute, publicado quarta-feira.
“Penso que se tem de ouvir de tudo e depois escolher aquilo em que se acredita e aquilo que consideramos ser fidedigno”, disse uma afro-americana de 22 anos que participou no estudo.
O relatório é baseado em grupos focais – que foram conduzidos no Verão Passado nas cidades de Chicago, Charlotte e Filadélfia, nos Estados Unidos – em que participaram 52 pessoas adolescentes e na casa dos 20 anos. (O relatório foi financiado pela Knight Foundation, que também apoia a Nieman Lab). Aqui ficam as principais conclusões:
Os jovens nunca tiveram tantos meios para aceder às notícias
Um estudo publicado pela Pew no ano passado revelou que 44% dos americanos acedem a notícias através do Facebook. Nestes grupos focais, descobriu-se que os consumidores de notícias mais jovens tendem a “tropeçar” nas notícias por acidente ou enquanto navegam por redes sociais como o Facebook, o Instagram ou o Snapchat.
“[Eu] não estava propositadamente à procura disto. O Facebook, por exemplo: recebes uma notificação para o Facebook e carregas naquilo e começas a fazer scroll”, disse uma rapariga caucasiana de 16 anos aos investigadores. “Vais encontrar umas quantas notícias que não tinhas ido lá para ver, mas depois acabas por ver e carregas nelas… Não teria conhecimento de muitas notícias se não fosse ao Facebook e não ficasse a navegar. É como o massacre de Orlando – foi assim que descobri, através do Facebook”.
“Se não o vir nas redes sociais, não vou ouvir falar disso”, disse uma afro-americana de 17 anos.
Todavia, vários participantes afirmaram-se reticentes em partilhar notícias e tecer publicamente considerações sobre as notícias nas redes sociais. Em vez disso, vários inquiridos afirmaram o envio de links ou capturas de ecrã aos seus amigos em aplicações de conversação ou outros canais privados:
Vários jovens retiram conteúdo da sua plataforma original e partilham-no através de outros meios e canais. Alguns cortam e colam um link para uma mensagem de texto ou fazem captura de ecrã de artigos para enviar aos seus amigos, através de uma aplicação de conversação. As capturas de ecrãs são preferidas por alguns em vez do envio de links já que proporcionam uma visão geral rápida do artigo, eliminando a necessidade de passar por anúncios.
Jovens adultos dizem não confiar nos media
O estudo diz que “surpreendentemente o ponto de maior consenso nos grupos foi a sua falta de confiança colectiva nos meios de informação”.
“Mesmo que seja factual, pode estar corrompido”, disse uma afro-americana hispânica de 23 anos.
Ainda assim, os participantes disseram que tendem a confiar mais em órgãos específicos e que costumam verificar frequentemente várias fontes de informação em assuntos que estejam a seguir. Alguns também se mostram preocupados pelos algoritmos que controlam o feed de notícias do Facebook.
“O problema com o Facebook é que te está a mostrar constantemente as coisas que queres ver, pode criar uma câmara de ressonância, e podes ficar muito entranhado na tua própria opinião e depois não conseguirás compreender pessoas que tenham perspectivas diferentes”, disse um caucasiano de 16 anos.
Com a maior parte dos jovens a usarem os seus dispositivos móveis para consumirem informação, a forma como os artigos são apresentados nos telemóveis pode ter impacto nos níveis de confiança, de acordo com os resultados do estudo:
Anúncios que não sejam demasiado intrusivos; navegabilidade em telemóveis; tempos rápidos de carregamento; e ter os últimos detalhes de uma história actualizados são factores críticos mencionados nos grupos focais para estabelecer uma relação de confiança e também já foram sublinhados em outras investigações recentes. A confiança num meio de comunicação implica, muitas vezes, uma conexão emocional e uma relação de conveniência.
Vídeos em directo são vistos como fidedignos
Os participantes disseram que tendem a confiar em vídeos de manifestantes ou participantes num determinado evento mais do que a cobertura noticiosa feita pelos meios de comunicação tradicionais.
“Vou acreditar no teu vídeo [feito por um cidadão] antes de acreditar num deles”, disse um afro-americano de 17 anos. “Porque eles vão adulterar o deles. Porque é que haverias de adulterar o teu? Eles adulteram os deles para ter mais visualizações para que mais pessoas vejam o canal deles para ver as notícias. Tu não tens de fazer isso. Só adicionas um vídeo. Porque haverias de o adulterar?”
Os grupos focais foram orientados no Verão passado por volta da altura das mortes de Alton Sterling, no Luisiana e Philando Castile, no Minesota, às mãos de autoridades policiais, em que houve vídeos feitos por transeuntes que diferiam da narrativa oficial avançada pelas autoridades.
“Em situações em que há uma disputa pela forma como os eventos aconteceram, o vídeo é visto como uma forma poderosa (ainda que imperfeita) de desafiar a cobertura feita por órgãos de comunicação tradicionais de eventos controversos”, lê-se no relatório.
A versão completa do relatório de 30 páginas está disponível aqui.