Com o rabo de fora
Tal como uma filha é desafiada por um pai com a pergunta “Que tipo de ser humano és tu?”, podemos perguntar à longa-metragem de Maren Ade, Toni Erdmann, se no menino querido da crítica mais hipster não se esconde, afinal, uma sitcom.
Adoptado tanto pela crítica mais sisuda como pela cinefilia mais hipster - e será um veículo adequado para os primeiros se fazerem passar pelos segundos –, Toni Erdmann é uma comédia sobre máscaras: aquela que uma filha vai tirando (depois da sua versão de The Greatest Love of All, de Whitney Huston) e aquelas que um pai vai utilizando como arsenal de pantomima.
Máscaras, dentes falsos e outras partidas: é assim que ele se infiltra na vida dela, mulher de carreira, controladíssima, fria, alheada do prazer, da sua humanidade. Dito assim, pode imaginar-se um filme em transformação e transfiguração. Mas não.
Cedo se imobiliza num único lugar. Deixa-se colonizar pelo não-estilo de vidros limpos e roupa engomada, filma diálogos e situações – aliás, começa cedo a filmar sempre a mesma situação. Tal como a filha é desafiada pelo pai com a pergunta “Que tipo de ser humano és tu?”, podemos perguntar à longa-metragem de Maren Ade sobre o sentido da sua vida: se nela não esconde, afinal, uma boa e velhinha comédia sentimental; ou se ali não está, afinal, uma sitcom (pelos vistos está uma fórmula apetecível para a indústria americana e para Jack Nicholson, que se disse interessado no remake a ser negociado).
Há um gato escondido com o rabo de fora aqui, neste filme que se escuda na roupagem do art-house mas deseja o mainstream. Não é impostura, poderá talvez ser esperteza saloia. Mais seguro é ser filme que aspira, simplesmente, à conformidade.