Uma notícia divulgada ontem dava conta de um aumento significativo nas vendas de medicação para controlar o défice de atenção. Ora, este medicamento, também chamado de “comprimido da inteligência”, mais do que aumentar a atenção tem sido usado com o objetivo de melhorar as notas dos alunos.
Não pretendo comentar a utilidade e a eficácia do medicamento, até porque não tenho competências para tal, gostaria antes de centrar este artigo para mostrar como esta situação é o resultado da forma como entendemos o actual sistema de ensino em dois pontos.
O primeiro ponto refere-se à questão da atenção. Num sistema em que as matérias são, na maior parte das vezes, apresentadas de forma expositiva, imagine-se o quão complicado é manter a atenção nos cerca de 60 ou 90 minutos que, normalmente, duram as aulas… quando o cérebro humano tem capacidade para manter a concentração “apenas” durante 20 minutos, como têm comprovado vários estudos. Surge assim a necessidade urgente do sistema se reinventar na forma de se expor as matérias e de envolver os alunos na aprendizagem, adaptando-se também à mudança que foi ocorrendo nos estudantes, na sociedade e no mercado de trabalho. Recordo que o actual “modelo”, em que um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar, para dezenas de alunos, nasceu com a revolução industrial – cerca de dois séculos se passaram.
O segundo ponto prende-se com as consequências perversas que se geraram com a pretensão de se fundamentar o sistema na obtenção de “boas notas”. Claro que devemos fomentar o mérito entre os alunos, a questão é que, par além do conceito de “mérito” ser muito mais lato do que ter avaliações elevadas, com o tempo, o sistema de ensino tornou-se limitado e nada estimulante.
Isto leva a que, por exemplo, ao chegar à faculdade eu tenha colegas que perguntam quais as páginas que saem para o exame (como se a restante matéria não fosse importante), ou se determinado exercício em aula conta ou não para avaliação, porque se não contar não vale a pena fazer, ou outros até (talvez a maioria?) que assentam o seu estudo em “decorar” as matérias.
Isto é mais grave que o que possamos pensar, ao estarmos a produzir alunos que não se questionam, não procuram saber mais sobre um assunto nem se preocupam em ir para além do que lhes é pedido, tornando-se a escola numa autêntica fábrica de alunos.