Nas últimas semanas tem sido notícia as estações de metro que são abertas durante a noite, para que os sem-abrigo possam pernoitar e assim se protegerem do frio. Também foi foto de manchete o gesto do Presidente da República, que passou parte da noite a apoiar os sem-abrigo.
São gestos solidários que, sem dúvida, merecem o nosso apreço e aplauso, no entanto são também actos solidários que levantam uma necessidade maior… De nada valem estes gestos e atitudes se continuamos sem ter um projecto para estas pessoas.
Eu próprio fui voluntário numa equipa de rua de apoio aos sem-abrigo e fui sentindo, ao longo do tempo, que a minha acção ficava perdida e se tornava inócua por não estar enquadrada num projecto maior e numa verdadeira estratégia para o apoio e integração das pessoas em situação de sem-abrigo. Por muito que sejam acções que melhorem o dia-a-dia daquelas pessoas, que ajudam a matar a fome ou a aquecer do frio, são acções que não potenciam desenvolvimento e sustentabilidade.
Ainda que haja pessoas, e há que respeitar essa opção, que decidem viver na rua e fazer desta o seu lar.
“Tanta gente sem casa, tanta casa sem gente”
São várias as razões para alguém “cair” na rua e, pior, para não se conseguir sair dessa situação, o que torna mais complicada a elaboração de uma estratégia ou de uma política. Assim, a condição de sem-abrigo precisa de avaliação e apoio, sobretudo na percepção do verdadeiro problema e possível solução.
Creio que, para um resultado efectivo, a maior responsabilidade cabe assim ao poder político, que, claro, pode e deve ser acompanhado das iniciativas que vemos surgir constantemente por parte da sociedade civil. Várias medidas e exemplos têm vindo “lá de fora”. Nos Estados Unidos, onde existe quase um milhão de pessoas a dormir na rua, o estado do Utah criou uma medida algo radical mas que não deixa de ser um pouco óbvia: dar-lhes uma casa.
O programa teve início no ano de 2008 e, ainda que poucas pessoas acreditassem na viabilidade e sucesso deste, o número de sem-abrigo começou a baixar, cerca de 75% ao fim de oito anos e outras cidades americanas começaram a implementar programas similares.
Ora, em Lisboa existem centenas de pessoas a dormir na rua e outras centenas de casas abandonadas. Não haverá aqui algo de errado?