IKEA pede desculpa por catálogo sem mulheres em Israel

Catálogo destinado à comunidade judia ultra-ortodoxa foi “um erro”, diz a marca sueca, alegando que a decisão foi local e que não partiu da sede.

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Em 2012 a IKEA também apagou as mulheres de um catálogo publicado na Arábia Saudita PAULO PIMENTA

A publicação pela IKEA Israel de um catálogo dirigido especificamente à comunidade judia ultra-ortodoxa está a dar dores de cabeça ao grupo sueco de decoração e mobiliário. Como em qualquer outro catálogo da marca, as cenas do quotidiano familiar multiplicam-se na publicação israelita, mas é um quotidiano distorcido, onde abundam os pais e os filhos, e não se vê uma única mãe ou irmã. 

Por outras palavras, o catálogo da IKEA (em versão impressa e digital) destinado a uma comunidade que representa cerca de 11% da população israelita seguiu a prática habitual dos judeus ultra-ortodoxos: a de suprimir as imagens femininas das publicações. Foi isso que fez, por exemplo, o diário HaMevaser que apagou a chanceler alemã Angela Merkel e a presidente da Câmara de Paris Anne Hidalgo, entre outras, da fotografia de capa com que retratou a manifestação realizada contra o terrorismo, depois dos ataques de Novembro de 2015, na capital francesa.

Esta imagem distorcida das famílias provocou críticas à IKEA dentro e fora do país (além de piadas nas redes sociais sobre o número de famílias monoparentais entre os ultrarreligiosos israelitas, como relata o El País), obrigando a empresa a justificar-se. “A IKEA defende a igualdade de direitos” entre homens e mulheres, disse a porta-voz da empresa sueca, Josefin Thorell, citada pelo Le Monde

A brochura da IKEA israelita “não respeita esse princípio” e foi “um erro”, disse ainda Thorell, sublinhando que a iniciativa foi local, para se destinar a um determinado público-alvo, e não chegou a ser validada pela sede. “Temos sido muito claros; não é isto que a marca IKEA representa”, afirmou, citada pela Associated Press.

Curiosamente, esta não é a primeira vez que a IKEA tem de se desculpar por censurar imagens de mulheres nos seus catálogos: aconteceu o mesmo em 2012, na Arábia Saudita, onde as mães de família, irmãs e filhas foram sistematicamente apagadas da publicação, fazendo jus à política de segregação daquele país muçulmano.

O jornal israelita Haaretz nota que o catálogo da IKEA (que tem três lojas em Israel, onde habitualmente distribui a mesma publicação que nos outros países onde está presente) destaca mobiliário que aparentemente poderia ser do interesse das famílias ultrarreligiosas (Haredim, como são conhecidas em hebraico), que são habitualmente numerosas: berços, beliches, grandes mesas de refeição e estantes para acomodar os livros religiosos. 

“Compreendemos que as pessoas estejam incomodadas com a situação e consideramos que a publicação não corresponde àquilo que a IKEA defende. Pedimos desculpa por isso”, afirmou o responsável da empresa em Israel, Shuky Koblenz, num comunicado citado pelo Times of Israel.

“Queremos assegurar que publicações futuras vão reflectir os valores da IKEA e ao mesmo tempo respeitar a comunidade Haredi”, afirmou Koblenz.

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