Era uma vez a história de uma Cat que ouviu falar do maior Gatupreto de Lisboa, cuja identidade por detrás das máscaras e das máquinas já se vai conhecendo um pouco por todos os becos da capital. Como expectável, o encontro entre os três não se fez demorar.
Gatupreto é um duo nascido e criado nos arredores de Lisboa e que há cerca de três anos viu concretizada a vontade mútua de criar um universo musical capaz de enaltecer as raízes musicais de ambos os "gatus".
“Na nossa infância e adolescência era fácil ouvir boa música, genuína e original, em canais de grande exposição — música que para os padrões actuais seria estranha e em muitos casos, quase experimental. Essa música era cruzada e acompanhada pela banda sonora dos bairros em que crescemos, de fenómenos “roots” suburbanos que ambos experienciámos e dos quais há hoje pouca memória.”
Numa altura em que já existem vários projectos portugueses que misturam a electrónica com influências africanas, bastaram poucos minutos a ouvir a mágica sonoridade deste duo para que a Cat se apercebesse que este não é, de facto, um projeto comum. As suas faixas são ritmadas por uma abordagem à influência africana com o pensamento fora do momento presente e nos discos é depositada toda a experiência directa, diríamos que mesmo quase palpável (aos ouvidos mais sensíveis), daquela que foi a cultura que pautou a infância destes produtores.
“Um dos membros de Gatupreto teve o seu primeiro gig numa discoteca africana e produziu música com o DJ residente do Mussulo aos 14 anos. O outro vive essa música desde que nasceu e ostenta a sua herança e história familiar na pele.”. Foi aqui que a conversa se aguçou de curiosidade, e na mesa é lançado o nome do primeiro single, ‘Grandi Loba’, que ao começar a tocar indubitavelmente veio comprovar que esta é um material sonoro que quase se presta à abstração do seu género e nos leva por uma viagem ao longínquo da música eletrónica, ou talvez africana.
Sobre projectos, sabemos que recentemente tiveram a sorte de desenvolver, não só um projecto profissional, mas também uma boa relação de amizade com o NBC, sendo que no bolso trazem já dois discos em finalização, um deles que virá contar com a colaboração de um novo membro dos Gatupreto, o Daniele Labbatte, baixista e teclista italiano.
“Temos mais alguns temas com ele e outros músicos, e estamos a ponderar o convidado ideal para um novo single. Temos muitas opções, mas também muito trabalho pela frente.” Pela frente, e mesmo pertinho, têm também a festa Opamp, uma estrutura que os tem apoiado bastante na divulgação e na consolidação do trabalho que têm vindo a desenvolver. “Distino Di Nos Vida" é o segundo EP que este duo vem apresentar no dia 9, no Musicbox, numa festa da qual o Gatupreto afirma saber que irá estar rodeado de alguns dos melhores talentos em Portugal, apesar de não serem os maiores ou os mais conhecidos, “tal como nós também não somos”.
Ao Gatupreto juntam-se assim os Sabre, o DJ Flick e também a Cat, que se deixou render quando ouviu da boca deste duo que “o que importa é a festa, a originalidade, o talento e a exaltação da música como ela se quer: transcendente, livre e despreconceituosa.”
O Gatupreto de Lisboa actua esta quinta-feira, no Musicbox.