Alimentos orgânicos: vale mesmo a pena?
Sopa, legumes no prato e fruta em todas as refeições. A seguir, produtos da estação... biológicos, se o orçamento o permitir
Trata-se de uma pergunta difícil e que não possui uma resposta verdadeiramente esclarecedora ou que agrade a todas as pessoas. Por isso, vamos olhar para os estudos existentes sobre o tema e dar alguma informação.
Quando se faz a comparação da agricultura orgânica versus a convencional, existem duas vertentes importantes que devem ser consideradas: a nutricional e a toxicológica. Começando pela nutricional, não é garantido que um alimento orgânico seja mais rico em fibra, vitaminas e minerais do que o seu análogo “convencional”. Os detractores da agricultura orgânica poderiam usar este argumento ou até (a reboque do que já foi feito com o leite) citar a Universidade de Harvard, quanto à não existência de benefícios dos alimentos orgânicos.
Mas uma análise séria e imparcial tem de reconhecer que, quando falamos sobretudo de frutas e hortícolas, olhar apenas as suas vitaminas e minerais é contar uma pequena parte da sua rica história nutricional. Como tal, as compilações dos vários estudos existentes sobre o tema permitem dizer que os variados fitoquímicos (compostos com acção antioxidante) de uma série de alimentos como frutos vermelhos, tomate, maçã, morango, laranja e couves variadas é de facto maior nos biológicos, sendo este acréscimo na ordem dos 25%. Algo que faz sentido, uma vez que estes compostos são formados como um mecanismo de defesa da própria planta a factores agressores exógenos, que acabam por ser minimizados com a utilização de pesticidas sintéticos. Ainda assim, estando a falar de alimentos cujas viagens, tempo de prateleira e exposição à luz reduzem substancialmente o teor de todas estas substâncias, é de salientar que o critério primordial na hora da compra terá sempre de ir para a localidade e sazonalidade dos mesmos, suplantando o facto de a sua proveniência ser orgânica ou convencional.
Se nutricionalmente já vimos que os alimentos orgânicos levam ligeira vantagem, o que dizer na exposição a outros compostos nefastos? Os estudos citados acima também nos revelam que regra geral quer nos resíduos de pesticidas, quer na presença de alguns metais pesados como cádmio e chumbo, os alimentos orgânicos oferecem uma segurança extra, como também é documentado no último relatório da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar. E a palavra extra aqui é essencial, uma vez que tal não quer dizer que os outros não sejam seguros, até porque as quantidades destas substâncias encontradas no produto final estão genericamente abaixo dos limites legais.
Um argumento muitas vezes utilizado na defesa dos alimentos orgânicos é o menor impacto ambiental resultante deste tipo de agricultura. A este nível é importante reconhecer que se é verdade que uma quinta orgânica utiliza menos energia e é responsável por uma menor emissão de gases do que uma convencional com a mesma área, é também verdade que a quantidade de alimento produzido é menor, o que faz com que esta comparação (em termos de kg/produto) não seja substancialmente diferente da convencional e que o fornecimento de hortofrutícolas a grande escala quer a nível de custos, quer de espaço utilizado, muito dificilmente poderia ser assegurado por métodos orgânicos de forma exclusiva.
Pesando todos os argumentos na balança, a primeira prioridade deveria ser sem dúvida a existência de sopa, legumes no prato e fruta em todas as refeições. Estando esse pré-requisito atingido, a escolha de alimentos locais e sazonais é sem dúvida o passo seguinte e se possível optar (na medida que o orçamento permitir) pelos biológicos. Felizmente, hoje em dia existem cada vez mais projectos com entregas semanais de cabazes de fruta e legumes sazonais e biológicos a preços acessíveis, bem como diversos mercados dedicados exclusivamente a esse efeito. Caso tenha também aquele amigo que lhe consegue fruta e legumes orgânicos, ovos caseiros e afins, preserve-o bem, a sua saúde agradece!